O Réquiem para o Navegante Solitário, belíssimo livro do escritor timorense Luiz Cardoso, aporta este mês no Brasil em lançamento da editora Língua Geral. A noite de autógrafos será realizada na tradicional Livraria Sebinho, em Brasília.
“A cidade tinha mais um motivo para falar novamente de mim, na ausência de outros acontecimentos que despertassem a atenção das pessoas depois da chegada do veleiro. Teciam-se vários enredos sobre quem era o navegador solitário por quem eu esperava desde o dia da minha chegada. Quando acendia o petromax e o deixava aceso na varanda toda a noite até ser dia, pensavam que talvez o fizesse para transmitir aos navios holandeses, ou japoneses, que passavam ao longo, uma qualquer informação, julgando-me uma espia a soldo dessas potências. Como depois me viam durante o dia a olhar para o mar, davam-me como doida, por estar ali horas e horas, uma eternidade, à espera de um fantasma. Alguns chamavam-me a amante do navegador solitário.”
São duas as personagens que figuram com destaque no romance Requiem para o navegador solitário, de Luís Cardoso: o Timor-Leste, pequena ilha do Pacífico repleta de conflitos étnicos e políticos, e Catarina, uma jovem inocente que traz na mala, para além da roupa, um exemplar de A la Porsuite du Soleil, relato de viagem de circum-navegação do solitário Alain Gerbault. Contudo, na verdade, ela traz algo a mais: o sonho de viver uma grande história de amor.
De um lado, o Timor-Leste, dominado pelos portugueses em 1512, e que três dias após sua independência, em 1975, foi invadido pela Indonésia; de outro, Catarina, que se dedica bravamente à recuperação da fazenda Sacromonte enquanto aguarda, na varanda atapetada de buganvílias de sua casa, a chegada do navegador solitário. De um lado, um território que serviu “para deportados, um depósito de esquecidos, uma ilha-prisão cercada pelo mar infestado de tubarões e de piratas em busca de pérolas, pedras preciosas e de gatas, donde ninguém podia fugir”; de outro, a perdição de Catarina, que vai percebendo que “os que chegam do mar têm sempre quem espere por eles”, enquanto ela navega por terra, sem qualquer possibilidade de companhia, a não ser os gatos.
Além de esperar, Catarina tenta provar a si própria, com a recuperação da fazenda Sacromonte, que é capaz de contrariar os azares de sua vida ou os seus desacertos. Uma personagem que cresce à medida que seus dramas aumentam.
Com Requiem para o navegador solitário, o leitor tem a oportunidade de conhecer um pouco da história do Timor-Leste, país ligado ao Brasil em função da língua portuguesa, e também tem acesso à belíssima ficção de Luís Cardoso, o mais importante escritor timorense.
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Luís Cardoso nasceu no Timor-Leste. Formou-se em Silvicultura pelo Instituto Superior de Agronomia de Lisboa e fez pós-graduação em Direito e Política do Ambiente pela Universidade Lusófona. Foi representante do Conselho Nacional da Resistência Maubere em Lisboa. É autor de Crónica de uma travessia (1997), Olhos de coruja olhos de gato bravo (2002) e A última morte do coronel Santiago (2003). Requiem para o navegador solitário (2007) é seu primeiro livro publicado no Brasil. Suas obras já foram traduzidas para vários idiomas, como o alemão, francês, holandês, inglês e sueco.
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