- Já está na hora de você começar a tomar as suas próprias decisões...
- Mas eu sou quase uma criança, pai! Nem fiz treze anos direito...
- Não me venha com estes argumentos falhos, pois você já sabe que maturidade e idade nem sempre andam juntas...Você está com medo, o que é de se esperar, afinal não é fácil lidar com a responsabilidade de se fazer escolhas.
- Pai, eu não entendo uma coisa: de onde o senhor tirou essa idéia? Tudo bem que o senhor é professor e anda lendo muitos livros de psicologia ultimamente...
- Eu estou te preparando para a vida, sem as tantas repressões que os filhos da minha época sofreram! Um dia você vai me agradecer por isso!
- Está bem, pai, está bem... E por onde começamos a tomar as decisões?
- Você é que decide, afinal as decisões serão suas...
- E a responsabilidade também! E o senhor acha que eu sou louco de aceitar uma proposta dessas? Nem pensar!
- Ei, não adianta recuar! Você já aceitou e agora não tem mais jeito. Crescer dói, mas é necessário.
- E quem disse que eu quero crescer? Para ficar assim como vocês, já, agora e sem nenhuma compensação?
- Como assim “ficar como vocês�
- Vocês não batem muito bem das bolas; não sabem o que querem da vida; vivem sem saber como fazer as coisas mais simples (como educar os filhos, por exemplo) e agora ainda querem passar toda a responsabilidade de tomar decisões para mim?! Tem alguma coisa errada nisso!
- Epa, epa, epa! Agora você exagerou! Como “não sabe educar os filhosâ€!? E você, por acaso, não é bem educado?
- Depende! Como você mesmo diria: qual é a sua concepção de filho bem educado? Seria aquele que se comporta bem apenas para...
- Pára aÃ, você agora foi longe demais: roubando minhas falas, meus argumentos! Isto é plágio e plágio é crime!
- Não senhor, isso é aprendizado. Aprendi tudo com o senhor! E estou “citando a fonteâ€, ainda por cima; logo não é crime...
- Você está é tentando sair pela tangente! Não quer assumir a dor de ter que ser responsável, de construir o próprio destino! E não me olhe com esta cara, não! É isso mesmo...
- Está bem, pai! Vou assumir. E o senhor que me aguarde, pois daqui a alguns segundos tomarei algumas decisões que mudarão o rumo de nossas vidas.
- E o que você pretende fazer, meu filho?
- Minha primeira decisão já está tomada: vou embora de casa!
- O quê? Você ficou doido?
- Não! Eu sou responsável o bastante para saber fazer as minhas escolhas. E caso eu me arrependa, sei que terei conseqüências a enfrentar e estou preparado para elas.
- Mas eu não pensei que você fosse agir assim tão...
- Tão responsável comigo mesmo? Pois a partir de agora será assim: vou me dirigir ao senhor apenas para comunicar minhas decisões, que serão baseadas em “sólidos argumentosâ€, depois de â€muitas reflexõesâ€. Até mais!
- Ei, aonde você pensa que vai?
- Ah, foi mal! Desculpe! Estou de mudança para a casa do meu avô!
- Mas ele não tem a mÃnima condição de cuidar de você! Você não pensou nisso antes?
- Pensei sim! E decidi cuidar, eu mesmo, dele e da vó, que estão abandonados por você e pelos meus tios.
- Alto lá! Que acusação é essa?! Eu nunca os abandonei...
- Não mesmo? Há quantos dias o senhor não aparece por lá?
- !!??
- Nem se lembra, não é? Eu sei, pois a vó e o vô me disseram ontem – exatos vinte e dois dias! E isso não é abandono?
- É que...
- Estou indo, pai. Quando quiser, pode ir me visitar...
- Não, não! Pode parar aÃ. Acabei de tomar outra decisão, agorinha! E minha palavra ainda tem efeito de lei nesta casa! Decidi que você não tem mais poder de tomar decisão por conta própria... Nem eu! Nem sua mãe ou seus irmãos.
- Agora não estou entendendo mais nada!!
- Pode sentar aÃ! Te aquieta, meu filho. Vamos conversar. Penso que a solução dos nossos impasses (você sabe como é difÃcil tomar decisões!); bem, a solução do nosso caso está nas decisões tomadas por um colegiado!
- Colegiado, de novo?
- Sim, é quando todos tomam decisões em conjunto, com igual poder entre todos os participantes...
- Já ouvi isso antes, pai!
- Como somos em cinco, não será difÃcil (se três decidem, os outros dois são obrigados a aceitar a decisão tomada!)
- Entendi, pai, mas não é exatamente isso o que temos feito desde o ano passado, depois que as suas experiências anarquistas não deram muito certo!? Nós já tomamos as decisões assim, juntos! Então o senhor deseja que tudo continue tudo como está, não é?...
- É filho, creio que o melhor é assim mesmo: co-mo es-tá, pois afinal conforme ensina o futebol, em time que está ganhando não se mexe!
- É pai, você é um cara de sorte! Vira e mexe, se mete em cada confusão, mas consegue sempre se safar, não é?
- Experiência, meu filho, experiência... E caso você queira, estou aqui para compartilhar umas boas experiências que tenho guardadas a sete chaves, especialmente com você!
- Não, pai, obrigado! Já bastam as experiências-surpresas de cada dia...
Do nosso livro no prelo, O Esboço: novos escritos, temos dois textos da série intitulada Diálogos Improváveis. Este é um deles.
Nas escolas, onde trabalhamos este texto com as crianças e adolescentes, ele rende um bom jogral.
iniciei sua votação, muito bom o texto.(votei).
O NOVO POETA.(W.Marques). · Franca, SP 2/8/2008 08:16
Lindo poeta! Meus votos com carinho
beijo ba alma!
Lindo poeta! Meus votos com carinho
beijo na alma!
Ótimo texto, tem meu voto!!
Com admiração! Dete!
Abel,
você atingiu plenamente o propósito de realizar um texto didático e com um toque de humor.
abs.
Abel,
Seu maravilhoso conto é uma verdadeira aula didática.
Bem elaborado, bem construido e um exemplo de como dialogar com os filhos numa boa.
Mas viu como juventude de hoje sempre ganha, não há argumentos para vencê-la.
Adorei!
bjsssss
Amigos,
GratÃssimo pelos comentários. Hei de encontrar tempo para visitar a cada um...
Valeu!
Abraços
Parabéns pelo texto, querido. Trabalho lindo.Cheguei atrasada. Poxa, avisa qdo postar. Nem sempre dá pra seguir as filas.
Se der passa aqui?
http://www.overmundo.com.br/banco/interlingua
\patrabens Abel,,muito bom seu texto
Procurei o último e nao achei,,saiu do ar??
Beijos
Parabéns Abel, pelo texto. Uma boa mostra do autor talentoso que és.
Desejo muito sucesso em teu trabalho árduo de educar e escrever.
Um abraço.
votado
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