Marquinhos não parava de vomitar, estranhamente havia saÃdo de uma aula onde dissecou uma rã, mas não deu nenhum sinal de nojo, depois que saiu para o recreio, sempre que lembrava da rã, ficava tonto e vomitava. Lucas tentava acalmá-lo:
- Pense em algo bem gostoso como um sorvete – dizia Lucas. Mas o vômito continuava jorrando como uma cachoeira. O lÃquido amarelo se espalhava pelo chão. Junto de Marquinhos e Lucas estava Sady, amigo dos dois, que ficou em estado de choque e estava quase vomitando também.
Os três estudavam no Colégio do Coração de Cristo, escola católica e tradicional onde os filhos das famÃlias mais ricas freqüentavam. Sady e Marquinhos eram filhos de empresários bem sucedidos, já Lucas era filho de um meleiro e de uma cabeleireira. Os pais de Lucas eram pobres, porém, deixavam de comer e sair para garantir uma boa escola para o filho. O seu Nadiváu, pai de Lucas jurava que seu filho nasceu para ser gênio, com a graça de cristo. Dona Figósia, mãe de Lucas não acreditava muito no filho, mas era católica devota e matriculou-o numa escola tradicional para fazer uma média com os membros do clube de mães da sua igreja.
No meio daquela vomitadeira, se escora na grade do pátio da escola, pelo lado de fora, um personagem que todas as manhãs aparecia para observar o recreio. Era Paulo do Batuque. Quando os três o viram foram conversar com ele. Marquinhos parou de vomitar, e acompanhou os amigos. Todos humilhavam Paulo do Batuque, porque ele não estudava no colégio, e era pobre. Mas Sady, Lucas e Marquinhos eram solidários com ele, e por vezes, lhe puxavam conversa quando aparecia.
- E aà Paulo – começou Sady – como será sua festa de natal?
- Festinhas são “coisa de vagabundoâ€, e eu não sou cristão – respondeu P. do Batuque – não tenho tempo para bobagens, minha vida é trabalho!
- Você já trabalha, tão jovem, em quê?
- Meu pai é servente de pedreiro, e eu ajudo ele, logo sou servente-do-servente de pedreiro!
- Por quê você não vem estudar aqui na escola conosco? – perguntou Sady, com uma ponta de sarcasmo.
- Porque eu não quero, o lugar onde eu estudo é só para superdotados!
- Ah! Sim! – exclamou Marquinhos com ironia.
De qualquer maneira seria impossÃvel que Paulo do Batuque estudasse com os meninos, não por sua condição social, mas porque já tinha dezesseis anos, enquanto os meninos tinham apenas doze, cada um. Paulo do Batuque sempre se relacionou com pessoas mais jovens que ele, as pessoas de sua faixa etária lhe ignoravam devido à s bobagens que ele falava, passava o dia falando em masturbação, ou colocando defeitos nas pessoas. Sua arte era falar mal dos outros, e só quem suportava essa infantilidade eram os mais jovens, porém por pouco tempo, pois envelheciam e enjoavam das baboseiras. Por isso, Paulo do Batuque a cada dia se distanciava mais de sua faixa etária. Formou-se no Senae ( Escola Técnica que forma operários ), trabalhou alguns anos em uma empresa, casou-se, separou-se, parou de trabalhar, voltou a trabalhar, sempre puxando o saco de seus patrões. Quando tinha trinta anos, seus amigos ainda tinham doze, e quando fez quarenta, deu um golpe do baú, passou uma conversa vagabundamente mÃstica em uma jovem ( dezessete anos ) e burra filha de um dono de restaurantes. Mas isso já é outra história, no tempo desta narrativa ele tinha dezesseis anos e seus amigos doze, e isso é o que interessa.
- Hoje nós dissecamos uma rã – contou Lucas.
- Para mim só idiotas fazem isso – respondeu Paulo do Batuque – eu prefiro olhar revistas de mulher pelada no banheiro!
Um calafrio percorreu a espinha de Lucas, que lembrou-se das coisas que aconteciam quando Paulo do Batuque se aproximava. Apesar de não ignorar-lhe, não tinha muito gosto de sua presença, pois sempre que ele estava presente acontecia algo ru
Coisa do Demo.
Vamos ter que providenciar o desencapetamento destes guris.
Aforante isto,
A tua ficção quase empata com a crua realidade nua.
Tão de boa que é a trama.
Gostei, Zito.
Poxa Zito.
Obrigado pelo convite e deixo um a você para ler um conto meu que também não tem nada de efêmero. segue o link:
Desconhecido Desejo
E quanto ao conto, nossa uma ousadia bem interessante e dizer realmente como vivemos num mundo de contrabandistas de sonhos. Valeu...
O texto relata de forma bem real a convivência de crianças de nivel social diferente, de forma simples, verdadeira e sem subterfúgios.
Gostaria de ler o texto todo, tentei fazer download e não consegui abrir. Se puder me mandar, agradeço. Abraços.
Valeu Higor, valeu Brigitte, vou tentar mandar o texto!
Zito · Porto Alegre, RS 22/3/2007 13:51Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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