„Essa história tal qual eu aqui conto, não sei se respeita a original. A reconto apenas da mesma forma que a entendi, mas sem a sabedoria nem a autoridade de cabelos já alvejados pelo passar do tempo.“
Existia em tempos imemoriais sobre a terra um ser mágico chamado Uakti. Seu corpo longo e que ao voar se tornava largo qual o de uma jandaia-sol era repleto de buracos . Ao passear pelas noites claras em que Jaci mostrava toda a beleza de sua face plena pelos céus de Pindorama produzia o vento ao passar através dos orifÃcios do corpaço de Uakti um som ancestral e tão belo, que encantava todas as mulheres nas tribos, que por desventura ele se aproximava.
Encantadas, embaladas por aquela melodia as mulheres abandonavam seus pais, seus maridos, seus amantes, seus irmãos , seus filhos e já nem mesmo senhoras de si, caiam na imensidão da noite, momento de refúgio e descanso de Tupã.
Seguiam em transe a beleza do canto vindo dos ocos de Uakti. Ele, ser tão acostumado a voar quanto a juriti-pupu e também admirador zeloso de sua melancólica canção, ignorava a verdade de que os homens eram seres postos à terra por Tupã para ficar presos nela. E sempre deixava por fim pouco antes do Deus sol, pai do verde em cada folha, de toda cor e toda vida, se elevar no vasto horizonte; seu corpo cair no mais profundo dos despanhadeiros, que os povos de outrora conheciam e que de medo nem dele ousavam se a aproximar; num concerto ensurdecedor e todo beleza! As mulheres desesperadas o seguiam com passos cegos e destemidos e uma a uma se lançavam de braços e pernas bem abertos no precipÃcio e assim uniam suas almas atormentadas a de Tupã.
Eis que os homens cansados de perder a cada lua cheia suas mães, esposas, amantes, irmãs e filhas resolveram dar cabo àquele ser que já sobre todas as tribos de Pindorama tantas lágrimas despejara. Reuniram todos os povos,
amigos e inimigos, pacÃficos e guerreiros, num ato de comunhão, que só é possÃvel no instante de maior dor e desespero, no esforço aniquilar o causador de tanto mal sobre a terra à s margens de yuna.
No dia de Jaci se mostrar mais bela, prenderam todas as mulheres numa caverna onde nem Tupã fazia questão de entrar e nem um som do mundo externo se podia ouvir. Ao ouvirem os sons vindos do corpanzil de Uakti sairam atrás dele todos enfurecidos até a beira do penhasco, que até então nunca tinham visto de perto.
Lá armaram a fatÃdica armadilha e quando Uakti se lançara no seu no gesto habitual, se vira imobilizado, preso por longas transas de fibra vegetal. Ao vê-lo ali imóvel e indefeso, impedido de voar, os homens todos movidos pelo mais irracional e doentio dos sentimentos, atacaram o Uakti com tal veemência de dele só pequenos pedaços não muito maiores do que as juçaras restaram.
E assim todos orgulhosos e aliviados por ter finalmente se livrado daquele mal celebraram juntos com suas mulheres. Os restos mortais de Uakti foram jogados penhasco abaixo respeitando o que ele mais gostava de fazer em vida.
Ali primaveras mais tarde vira-se brotar pequenas plantas cilÃndricas e longas cuirosamente ocas e enogadas. Um dia um pajé cortara uma parte daquela nova planta, que muitos temiam ser malévolos frutos do corpo de Uakti, para melhor conhecê-la, fez-lhe buracos e soprara dento dela. Para espanto de todos um som semelhante ao de Uakti ecoou.
Mas nele já não havia o mesmo encanto destrutivo e sim só beleza para agradar os ouvidos. Assim apaziguados por várias gerações os povos passaram a ouvir aquela música em lembrança a esses tempos há muito passados.
Este é um texto literário sobre a bela lenda dos Ãndios Tukano, que fala do Uakti um ser mitológico, que vivia à s margens do Rio Negro - yanu - em Tupi antigo (águas negras).
Hei O. Andrade. Que alegria ve-lo de tão distante, divulgando nossas raÃzes. Parabens hermano.
Luz e Paz. jbconrado.
Uma história maravilhosa, semelhante ao que eu ouvi dos meus amigos da etnia Tukano. Parabens por divulgar o encamento do nosso universo indÃgena. Paz em ñanderu, Graça Graúna
graça grauna · Recife, PE 14/3/2009 21:57
Salve, Andrade!
Que beleza de lenda-conto.
A magia presente nas paavras e as palavras nos levando
a um mundo de sonhos.
Muito bom.
Abraço Pantaneiro.
Uma maravilha de lenda
Obrigada\ppor nos presentear com ela..
Beijos e publicado
Que texto maravilhoso!!!!! Bom saber que o autor é mineiro, como Drummond, Murilo Mendes, Adélia Prado e tantos, tantos outros!
Suraia · Rio de Janeiro, RJ 25/4/2009 11:55Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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