A LOUCURA UMA REFLEXÃO
Raphael Reys
Sabia que esse templo era o lugar que requeria seu invencÃvel propósito; sabia que as árvores incessantes não tinham conseguido estrangular, rio abaixo, as ruÃnas de outro templo propÃcio, também de deuses incendiados e mortos; sabia que sua imediata obrigação era o sonho - JL Borges.
As janelas do meu inconsciente foram abertas ao ler as histórias fantásticas de Poe, As Estâncias de Diziam, em que consta a loucura do Criador, ao fazer manifestar e nos legar este planeta globalizado e insano, no qual habitamos em nome de uma suposta evolução.
Os deficientes mentais de antanho ficavam nas entradas das fazendas enquanto transcorria a era do romantismo, dos anos 50 e 60 e eram considerados patrimônio da casa onde moravam.
Tomando café com rapadura no interior das cozinhas, onde escutavam, sem entender no racional das suas mentes, os relatos da vida Ãntima dos donos da casa. Esses, ditos normais, com suas loucuras e as máscaras de falsidade.
Ser louco é deixar-se levar pelas emoções. Na observação de Erasmo; tudo que o louco trás na alma está escrito no rosto.
Já adulto observo um mundo de loucos buscando um panegÃrico milagroso. Um planeta onde pululam estressados, dependentes exógenos, que carregam dentro de si a Bela e a Fera.
Uma geração entorpecida de ansiolÃticos e barbitúricos. Construindo verdades falsas, aparências e sob o calor das emoções efêmeras.
Dormimos, enquanto a quÃmica dos medicamentos hipnóticos ingeridos nos conduz a portais dantescos. Um mundo construÃdo de bolhas coloridas.
Paulo de Tarso em sua epÃstola à comunidade de CorÃntios, nos alerta quanto ao fato de uma via apostolar, a princÃpio, ser considerada uma loucura para a nossa habitual compreensão, pois em sua sustentação destrói a chamada erudição dita intelectual.
Esse tão conclamado saber de fundo humano, tão próprio de nós é agradável aos atributos seletivos da alma. Bem como dos instintos e, necessariamente a carne.
Ao expor sua reflexão, o propagador do evangelho, afiança que:
O Criador escolheu as coisas vis e desprezÃveis, para aniquilar a tão badalada cultura humana, ou intelectiva.
Instrui que a fraqueza, o tremor e as trevas são indÃcios da presença em nós da santa sabedoria.
Assim, a circunspeção divina se encontra instalada naqueles que são considerados perfeitos em seu equilÃbrio.
Consta na carta um modus operandi, ou seja, como fazer.
As coisas que o olho não vê e o ouvido não ouvem, ainda não subiram ao coração do homem.
Essa sabedoria entra no coração dos que foram preparados pela própria divindade. Assim, o homem, no geral, sabe das coisas do próprio homem.
Os sábios deste mundo doido e globalizado serão apanhados por suas próprias astúcias. São eles, portanto, vitimados pela sua própria intelectualidade.
Conclui a exposição de preceitos com um segredo espiritual:
Faça-se de louco, para ser sábio!
Coisas do intelecto servem para a sabedoria terrena. As espirituais são próprias para aqueles que são considerados, no geral, uns loucos.
Não ache graça do que, a primeira vista, parece coisa de doido. Estas podem ser simplesmente geniais e você, que delas desacredita e com elas se diverte é, a bem da verdade o único doido, pois se apega ao que é apenas ilusório...
Isso sim, é que é a própria loucura descabida...
Vejam a referência que descrevo a seguir, extraÃda do cotidiano. 5h30 da matina. A cena é digna de Fellini. Um velho conhecido morador da comunidade, visto como um destrambelhado aparece na esquina. Veste um roupão de banho listrado, puÃdo.
Um velho e surrado avental de serviço no tórax. Barba rala, nariz adunco, magro, alto, cambaleante. Setenta anos de vida em seu universo próprio.
Expansivo, cortês, atencioso com todos. Anda balançando os braços espalhafatosamente. Catador de material reciclável passa toda madrugada colhendo o que foi expurgado.
À frente da entrada de serviços da panificadora, dorme sobre caixetas de papelão e coberto por um plástico, outro catador. Um jovem paciente psiquiátrico, oriundo de muitos internamentos e fugas.
Cafuzo, estatura média, barba e bigode ao estilo mandarim. Rosto de lua, olhar perdido. Dizem um abobalhado...
Atende pela alcunha de Fiinho do Papai.
Fugiu de uma famÃlia de classe média baixa e vive como pastor da noite. Quando ocorrem as crises psiquiátricas, dá gritos de ordem e descarrega uma verborreia em quem passa, assustando.
Quando anda carregando o pesado saco, contendo o que foi catado, enverga o corpo de um lado.
Ao vê-lo dormindo, o colega Don Quixote de roupão, começa a depositar sobre seu corpo de forma cuidadosa, várias tiras de papelão e garrafas pet. São dispostas como uma arte plástica.
Oriunda do seu pensamento mágico. Dura cerca de trinta minutos a arte montada sob o que está nos braços de Morfeu e viajando no mundo onÃrico.
6h e o ir e vir dos que vai à padaria. Ele controla a passagem dos pedestres, evitando interferência em sua construção espontânea.
Dado a gradual redução do fluxo de oxigênio, o modelo improvisado acorda. Senta-se com a cabeça erguida como de um mergulho.
Respira fundo e, de imediato, reconhece o colega de jornada.
Abre uma larga risada de contentamento. Um momento mágico entre duas almas. Logo sorriem a bandeiras despregadas.
O artista pede ao modelo da sarjeta que se levante e continua a obra, trançando tiras de papelão sobre o dorso do mesmo.
Forma uma armadura, ficando a arte parecida ao Homem de Lata, do Mágico de Oz.
Saem abraçados e vão tomar um café fumegante na lanchonete.
Aqui, carÃssimos leitores, permitam-me uma reflexão doutrinária do apóstolo Paulo, em sua carta aos CorÃntios:
Faça-se de louco para ser sábio. As coisas que o olho não vê e o ouvido não ouvem, ainda não subiram ao coração do homem.
Uma reflexão sobre a loucura e os chamados loucos.
Paulo de Tarso, o chamado apóstolo tardio, em sua carta à comunidade de CorÃntios, nos alerta quanto ao fato de uma via apostolar, a princÃpio, ser considerada uma loucura para a nossa habitual compreensão, pois em sua sustentação destrói a chamada erudição intelectual.
Esse tão conclamado saber de fundo humano, tão próprio de nós é agradável aos atributos seletivos da alma, bem como dos instintos e, necessariamente, da carne. Ao expor sua reflexão, o propagador do evangelho, afiança que: O Criador escolheu as coisas vis e desprezÃveis, para aniquilar a tão badalada cultura humana, ou intelectiva.
Ainda em seu bojo catequético, a missiva instrui que a fraqueza, o tremor e as trevas são indÃcios da presença em nós da santa sabedoria. Assim, a circunspeção divina se encontra instalada naqueles que são considerados perfeitos em seu equilÃbrio.
Essa sabedoria entra no coração dos que foram preparados pela própria divindade. Assim, o homem, no geral, sabe das coisas do próprio homem.
Adverte, ainda, o evangelizador, que os sábios deste mundo doido e globalizado serão apanhados por suas próprias astúcias. São eles, portanto, vitimados pela sua própria intelectualidade.
Conclui a exposição: Faça-se de louco, para ser sábio!.
Assim, coisas do intelecto servem para a sabedoria terrena. As coisas espirituais são próprias para aqueles que são considerados, no geral, uns loucos.
Não ache graça do que, a primeira vista, parece coisa de maluco; estas podem ser simplesmente geniais e você, que delas desacredita e com elas se diverte é, a bem da verdade o único insano, pois se apega ao que é apenas ilusório...
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