A melhor cozinheira do mundo

Chegamos tontos e amarrotados, doía tudo, do dedão do pé até a pestana. Eu nunca viajei tanto assim. Quero dizer, a verdade é que eu nunca viajei. Mas, a viagem até a casa dos velhos valeu por todas as que eu não fiz na vida inteira. Enquanto eu, o pai , a mãe e a mana saculejávamos no ônibus comendo poeira, a Terra deu uma volta inteirinha em volta do Sol.
O vô esperava sorridente na parada, nos deu muitos abraços apertados e carona no caminhão. No sítio, a vó esperava com café quentinho e broa. Como diz o vô : " Que beleza!"
A casa dos velhos era muito boa pra brincar, com horta, galinheiro e até curral. A mana, é claro, correu da vaquinha. Eu aprendi até ordenhar. Penso que a gente devia era morar ali com eles. Casa boa, vô bom, vó boa; num entendo esse negócio de progresso que o pai fala. Ele diz que é melhor na cidade. Eu não acho.
No dia do natal, teve almoço especial. Vieram também os tios e nós conhecemos nossos primos. Brincamos até cansar e a mãe chamar pra bóia, o vô fez um agradecimento especial e falou até o meu nome. E foi aí que aconteceu. Eu tentei controlar muito pra não fazer vergonha. A mãe tinha falado tanto pra ter bom comportamento que eu fiquei quieto um certo tempo. Mas, teve uma hora que não deu pra segurar:
__Que comida danada de boa!!!- bradei.
Todo mundo riu mas, eu estava falando a verdade. E enquanto a mãe ajudava as tias a lavar a louça eu chamei a vó num canto e contei que achava ela a melhor cozinheira do mundo. Mas pedi segredo que a mãe pode magoar. A vó concordou e prometeu guardar um pouco do frango pra mim.
A volta no ônibus não foi tão ruim. Nem cheguei em casa cansado. Depois fazer a maior viagem, ganhar o maior abraço, comer a melhor comida e aprender a ordenhar, eu não podia reclamar. Só torcer pra acontecer de novo.