A Morte e a Morte de Henry Ralph

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Caio Mário · Castanhal, PA
2/8/2007 · 24 · 5
 


1 - Passada manhã de ontem
O vento se deu ao lume
Como se fosse um estrume salgado,
Célere que nem palavra de poeta desdito.
Marcavam 11 e nem pareciam
Horas de acidente automobilístico...
Exceto o “rush†habitual das grilhetas,
Não havia sido a mesma manhã
Dos ventos alhures.
Tal como era a morte trôpega e frouxa
De um vento coxo que havia extraído do corpo puído
Uma felpa solteira:
Parte do nada; óvulos
Do ocaso...
Pois que, de soslaio,
À tardinha em bela tez já era iniciante;
Corda sem nó sob o pescoço
Suara-o como a existência rediviva do infinito,
Dando-nos falsa impressão de que
Se lubrificássemos o pulso doído do asfalto
Com alva certeza de não sufocar-se,
Pensaríamos haver a demolição do tolerável:
Ó Luz!
Símiles angústias são
Todos os fulgores ao cabo,
Ao pranto...

2 - Ah este Poema é o “Mortal thrillerâ€
De uma “Dor Congeminadaâ€:
A historieta de um jovem viciado em haxixe
Ido aos 20.
Cuja morte o levou prematuro
Dos vícios, dos abismos insondáveis,
Da forma, como aqui, vos conto:
Era sábado, 20, do mormaço de flôres mongolóides,
Da poluição preenchendo as narinas...
Eis que, o destino, porque inapto
A defendê-lo do front da paixão,
Não mediu alcance e furtou o Boy;
Tirou-lhe a brancura da vida.

3 - “Henry Ralph†conheceu o óbito
Num escorregão urbano que dizia Cult
Golfando dores pela rua.
Mas antes de ser assassinado,
O veículo em volúpia estratérrea
Ziguezagueando em sua frente,
Foi chocar-se ao fatídico Guard Rail,
Como que golpeasse e massacrasse
O único urso amazônico à esquina...
Na volta...
Perambulou drogado de sarjeta em sarjeta,
Até tirar-lhe o encanto.

4 - Ralph, morreu.
E a multidão lamentava a partida...

5 - Como um estrume invisível
E de bobeira nas fimbrias do infinito
— Alimento altruísta dos mortos no asfalto —
Soube ele através do vento
Que morrera jovem
Para calar o velho pensamento
Do orvalho pressurizado e não
Para esconder-se do verbo atroz,
Nem do hábito de extrair tumor computadorizado
Da álgebra até conseguir engendra-la
Ao cimento,
Almejando, assim, uma viagem com
Seus mata-pastos
Incubados.

6 - Ralph agora estava morto
E a multidão pranteava a partida...

7 - Tais como a água viva
Levitando sob os tênues orvalhos dos pântanos,
E a dizer que não perdoaria
A asa da morte que o adormecera
No choque ao sonho,
E já junto às retinas do vazio,
Bem que Ralph gostaria de renascer
Igual ao poderoso Hubble
Para roubar o tempo e fotografar o UFO
Que lhe levou do crash ao nada.

8 - Ah Ralph!
Quis o meio-dia que não escutássemos
O teu calar...
Mas agora é tarde brother...
Você está morto!
Ao menos saiba outro segredo:
Uma lágrima porque te ama,
Encharca o lenço do mais tarde...
Talvez você, por ser ingrávido
E com urticária na Alma,
Nem saiba muito bem
Onde nascem e morrem
As clorofilas e seus petulantes
Roseirais.

9 – Será, Henry Ralph,
Será que o outro lado da morte
É coberto de antemanhãs
Entupidas de ida e partidas
Que seguem
A mesma fumaça
Só que em paralelo
Antigramaticais?
Faz tardinha, Ralph,
E o sol já transpôs
O cachimbo da aurora e te olha
Jogado no asfalto
De cima do infinito...

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Autoria
Caio Mário Jorge
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Benny Franklin
 

Caio, Salve!
Seu Belo e Comovido Poema, é de uma beleza rara. Transmutante assim como esse Henry Ralph, morto aos 20. O interessante é que você conseguiu transmitir em palavras cenas de uma dor gigante.
Perfeito, Caio.
É Arte Poética de quem sabe fazer.
Parabéns!
Abçs e obrigado por sempre comentar em meus poemas.
a) Benny Franklin.

Benny Franklin · Belém, PA 31/7/2007 09:01
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Saramar
 

Caio, minha reverente admiração diante da beleza tristíssima desse poema.
Uma ode, um lúcido lamento (se isso existisse), coisas que só os Poetas maiores inventam.

beijos

Saramar · Goiânia, GO 3/8/2007 09:44
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Caio Mário
 

Benny,
Tua poesia já deveria ter cruzado os oceanos.
Teu tempo já chegou, cara. Cruza-os.
Vai. Segue teu rumo. Golpeia a palavra.
Soca o vento de porrada.
Transforma o sonho em verdade;
Vira o moinho de nossas vidas.
Valeu, grande, e obrigado pelo comentário.
Abs, Caio.

Caio Mário · Castanhal, PA 3/8/2007 10:59
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Caio Mário
 

Oi Sara.
Tua presença deu um ar feminino a este poema masculino.
Honrou-me o teu comentário.
Volte sempre, querida.
Bjs.

Caio Mário · Castanhal, PA 3/8/2007 11:01
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Rynaldo Papoy
 

Beat! Beat! Beat! Cada poema brasileiro contemporâneo que leio me leva ao orgasmo.

Rynaldo Papoy · Guarulhos, SP 7/9/2007 14:56
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