A Morte II

1
Cristiano Melo · Brasília, DF
11/10/2008 · 180 · 43
 

Na escuridão do quarto solitário
Descreve o inominável.

Ânsia de ser ouvido,
Com a voz embargada,
Grunhido estampido,
Cigarra entalada!

Alguém para lhe estender a mão?
Um ombro para recostar a cabeça?
Colo para desabafar baixinho?
Esmorece que o tempo não deixa de cortar.

Desejo,
Querência,
Sentimento.
Tempo!

Do que se deixou de ser
Ao que se vê no espelho:
Farrapos de um ser
Que não sobrepesou com olhos críticos o mundo...

Resta algo a dizer,
Sempre há.
Não vá,
Fica!

Mas o querer não intercede,
E se vão os anos nos vincos da face.
Nos dentes que caem,
Dos cabelos rarefeitos.

E eis que mais um ser
De uma amargura contida,
Não sabe se reconhecer
Da própria janela de sua alma.

Amanhece,
A luz retorna,
E denuncia:
Jaz um corpo estendido ao chão.

Ser não ser,
Não foi e não será,
As asas da esperança
Simplesmente apagaram seu brilho.

E, num traço roto,
Foi-se.

Cristiano Melo, 08 de Outubro de 2008.

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Cristiano Oliveira de Melo
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Ailuj
 


Sempre resta algo a dizer quando alguem se vai
sempre fica a sensação que poderíamos ter impedido a partida
ou que poderia te-la feito diferente
Cris,esse texto está forte,contundente, em cada trexo uma reflexão de o que somos e como ficamos e pra onde vamos,diria que cada trexo é um hai -kai
Beijos meu amgo e tenha um dia de paz

Ailuj · Niterói, RJ 9/10/2008 10:57
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EdimoGinot
 

Resta algo a dizer,
Sempre há.
Não vá,
Fica!

Pois é. No meu caso, não fico,não...
vou....
Belo poema sobre o inevitável
Um abraço

EdimoGinot · Curitiba, PR 9/10/2008 11:14
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Angélica T. Almstadter
 

Essa conversa de travesseiro é uma constante para os tristes, sobretudo para os poetas que se questionam e questionam seu viver, eu conheço muito esses monólogos tristes. O que dizer de confortante é que quando a gente consegue se esgotar em poemas e prosas a alma fica tão mais leve, tenho pena de quem não sabe ou não tem um dom de se esvaziar. parabéns Cris pelo poema prosa tão contudente, senti daqui o peso das suas palavras. Beijo

Angélica T. Almstadter · Campinas, SP 9/10/2008 12:40
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Compulsão Diária
 

Se sempre resta algo é porque não vai dar pra dizer tudo. então, faço como o Edimo, vou. contrafóbica, eu. ele nem sei. Sei que o tempo passa e com ele passam coisas muitoruins também. Vão pra longe. bom, isso. E o que não deu pra salvar, no guilt, no pain, no gain. Paciência. Cést la vie . Melhor como se pseudodenominava (existe isso?) o duchamp qdo ia ser fotografado pelo melhor amigo Man Ray: Rose Selavy. No espelho: eros c'est la vie. O resto é morte, Cristiano, deixa ir.

Compulsão Diária · São Paulo, SP 9/10/2008 13:05
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Raiblue
 

A morte I...morte II ...morte III....estamos constantemente morrendo...desde que nascemos...hehe......mas ainda bem que temos o poder de renascer...com nossas asas de fênix..reais ou inventadas...mas são o que nos salva de verdade...Fica com a vida, Crisss...descarta o que está morto...faz um peeling...renova a pele...torna-se outro...entre tantos que somos....

Adorei o poema!!
Saudades,querido!

beijinhos bluecarinhosos
Blue

Raiblue · Salvador, BA 9/10/2008 14:18
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alcanu
 

Cris, penso que o que morre, o que fica, talvez seja o que não prestava de nós, que nem pele de cobra, cheiro de renovação, que nem aquela águia que sobe numa montanha alta, quebra seu bico e arranca as suas garras pra que venham outras...
mas a gente olha e vê o que não presta como se prestasse, tal fosse uma perda irremediável, vai ver aprendemos a dar muita importância pro que não importa, olha aquela parábola de Jesus caminhando em direção ao cadáver de um cão, onde ouviu:
"-Ai, que nojo, veja seu intestino está se decompondo..."
e ainda:
"-Credo, dá pra ver as suas vísceras apodrecendo !"
ao que Jesus afirma:
"-Mas vejam que lindos eram os seus dentes !"
Ponto de vista, meu querido, cada um vê aquilo que quer !
Um abraço !

alcanu · São Paulo, SP 9/10/2008 20:51
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Marcos Pontes
 

A morte começa no parto, mas só pensamos nela como algo muito ruim. Não é ruim, a princípio, apenas é. O poema em si, é uma das melhores construções suas que já li, padrinho.

Marcos Pontes · Eunápolis, BA 9/10/2008 22:30
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Saramar
 

"Sempre há algo a dizer"

Diante de toda dor, da solidão, do encontro dolorido com a própria imagem neste espelho cruel do tempo, ainda há alguma palavra.

Este poema é terrível!

beijos

Saramar · Goiânia, GO 10/10/2008 01:19
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Falcão S.R
 

Cristiano,

Realmente você estava inspiradíssimo ao escrever tão bela poesia.

Abraços

Falcão S.R · Rio de Janeiro, RJ 10/10/2008 02:38
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Ecila Yleus
 

muito interessante.

Ecila Yleus · Recife, PE 10/10/2008 09:26
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Coluna do Domingos
 

Amanhece,
A luz retorna,
E denuncia:
Jaz um corpo estendido ao chão.
Muito reflexivo. Parabéns

Coluna do Domingos · Aurora, CE 10/10/2008 11:41
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Cristiano Melo
 

JU,
Tanto a dizer acaba por nos deixar inertes em alguns momentos e situações, há de aceitarmos mais os fatos. Obrigado pelo comentário e o desejo de um dia de paz seja estendido a você sempre.
beijos

Cristiano Melo · Brasília, DF 10/10/2008 14:05
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Cristiano Melo
 

EG,
Costumo ir também...Aliás não se trata de querer ou não...Só se pode ir ou ir, sei lá!
Bem, Inevitável é agradecer seu comentário e dar-lhe um abraço.

Cristiano Melo · Brasília, DF 10/10/2008 14:06
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Cristiano Melo
 

Angélica,
Saudável é esvaziar por meio de palavras escritas, não é? Existem tantas meneiras de se fazer isto que pode levar o humano ao bicho, pulsões e pulsões...
Obrigado por sua sensibilidade
beijos

Cristiano Melo · Brasília, DF 10/10/2008 14:08
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Cristiano Melo
 

CD,
Eu também me vou, mas fantasminhas acabam grudados no profundo de sua essência, mas como você mesma diz: c'est la vie! e deixar morrer o que se tem de morrer, é salutar! A ótica de sua percepção dos processos internos determina o seu grau de liberdade? rs
beijos e obrigado

Cristiano Melo · Brasília, DF 10/10/2008 14:10
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Cristiano Melo
 

Blue-Blue,
Gostei muito de seu comentário, farei um peeling na alma...rs
Sim, os processos de nossa vida sempre estão pautados em morte e nascimento, processos de transformação, do velho no novo e etc. Fico contente com suas palavras generosas.
beijos saudosos

Cristiano Melo · Brasília, DF 10/10/2008 14:12
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Cristiano Melo
 

Al,
isso mesmo, pontos de vista nos levam à nossa realidade, o que me faz pensar, qual será a realidade real? Existem tantas realidades quanto seres no mundo? É muito bom mesmo deixar o morto, o velho para trás como pele de cobra, nossas camadas internas e renovar o profundo do ser, do contrário morreremos engasgados com a fumaça de nossas angústias.
Dentes...hum....Dentes....eu acho que sei mais ou menos...
: )
obrigado
abraços

Cristiano Melo · Brasília, DF 10/10/2008 14:15
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Cristiano Melo
 

Marcos,
nobre amigo (não sei como chama o que é o que de um padrinho...)
Bem, é, o processo morte é um fato, sim, nada além disso, penso mais ou menos assim, literalmente, mas o processo em vida de transformação, deixar morrer para vir algo novo... Isso é mais abstrato, requer reflexões e energia e etc... Né?!
Obrigado por ter gostado do poema.
abração do padrinho

Cristiano Melo · Brasília, DF 10/10/2008 14:18
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Cristiano Melo
 

Saramar, espero que o terrível seja bom, no caso, a impressão de amargura ou outra coisa, né? rs
Assim acho que consegui atingir meu objetivo. Às vezes acho que peso demais a mão na pena da escrita...rs
Obrigado
beijos

Cristiano Melo · Brasília, DF 10/10/2008 14:20
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Cristiano Melo
 

Falcão,
fico muito agradecido pelo seu generoso comentário,
obrigado
abração

Cristiano Melo · Brasília, DF 10/10/2008 14:21
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Cristiano Melo
 

Ecila, obrigado, beijos

Cristiano Melo · Brasília, DF 10/10/2008 14:21
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Cristiano Melo
 

Domingos, obrigado, abraços

Cristiano Melo · Brasília, DF 10/10/2008 14:21
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Samuel Luciano Assunção
 


cristiano...

a morte inevitável...
o inevitável conflito
se fico ou deixo-me ir...

se vou...quando será...
quem me levará...

se lá estou...quem mais estará...
eu mesmo...o deus dará...

abraços

Samuel Luciano Assunção · Angra dos Reis, RJ 10/10/2008 21:14
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Cristiano Melo
 

Nossa Samuel,
assim você já fez um poema....
Obrigado ficou bem legal
abraços

Cristiano Melo · Brasília, DF 10/10/2008 21:32
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AnaLu Fernandes
 

Será que mãos se procuram na morte? Ou a morte se encontra nas mãos? Reflexões...
Bjs...Mil...

AnaLu Fernandes · Rio de Janeiro, RJ 11/10/2008 00:37
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celina vasques
 

Comn muito prazer dou partda à sua votação querido Principe dos Poetas!
Como sempre dando um banho de texto!
beijo na alma linda!

celina vasques · Manaus, AM 11/10/2008 10:19
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raphaelreys
 

Nada como uma noite de divagação ou de insônia para refletirmos nos mistérios da vida!

raphaelreys · Montes Claros, MG 11/10/2008 10:51
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Samuel Luciano Assunção
 

Samuel Luciano Assunção · Angra dos Reis, RJ 11/10/2008 11:10
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Doroni Hilgenberg
 

Cristiano
as duvidas de todos os seres
deixamos passar oportunidades
e não nos reconhecemos diante
de nossas próprias imperfeições.
e o tempo passa,
e o espelho dá o recado
e a amargura acontece.
bjssss

Doroni Hilgenberg · Manaus, AM 11/10/2008 11:30
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EdimoGinot
 

EdimoGinot · Curitiba, PR 11/10/2008 12:45
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O NOVO POETA.(W.Marques).
 

um poema interessante e bem feito, parabéns amigo poeta.votado.

O NOVO POETA.(W.Marques). · Franca, SP 11/10/2008 12:55
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Falcão S.R
 

Feliz dia das crianças!

Abraços

Falcão S.R · Rio de Janeiro, RJ 11/10/2008 13:15
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clara arruda
 

Meu querido,hoje essa amiga está tão cansada.
Compareço com carinho.
Perdoa chegar somente agora.

clara arruda · Rio de Janeiro, RJ 11/10/2008 14:11
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Max Reinert
 

Uia....
ódio de vc!

Quando eu acho que escrevo algo, vc vem e me mata de novo!

hehehheheh

Abraço!

Max Reinert · Florianópolis, SC 11/10/2008 18:59
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Branca Pires
 

Agonia da morte e da dor...
Assim sentimos e assim vivremos. Meio que agonizando, frente às bnossas dores e nossos silêncios.
Beijão

Branca Pires · Aracaju, SE 12/10/2008 01:10
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Compulsão Diária
 

Compulsão Diária · São Paulo, SP 12/10/2008 01:23
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José Carlos Brandão
 

Descrição minuciosa da última viagem... Terrível.
Abraços.

José Carlos Brandão · Bauru, SP 12/10/2008 02:02
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Cintia Thome
 

Caro amigo, muitas vezes deixamos de dizer, nao temos palavras, corre dor tamanha, quando se lembra e como lembramos , conversamos e sabe, recriamos, gritamos para sermos ouvidos...mas naõ cessam as palavras nunca...as palavras ditas e não ditas não Morrem...são vivas para suavizar a dor ou reciclar a dor...
Cris, maravilhoso...
Mas o fim é um lugar que nao tem morada, um lugar que não existe....

Cintia Thome · São Paulo, SP 12/10/2008 13:33
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Benny Franklin
 

Grande, Cristiano!
Como sempre: de prima.
Boa!

Benny Franklin · Belém, PA 12/10/2008 20:03
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Giovanni Guidi
 

Muito bom. Gostei bastante. Uma visão sobre a morte.
Sucesso.
Votado!

Giovanni Guidi · Piracicaba, SP 12/10/2008 21:24
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Cristiano Melo
 

Amig@s,
Agradeço pelas generosas palavras e reflexões que surgiram. Muito obrigado a tod@s
abraços e beijos

Cristiano Melo · Brasília, DF 13/10/2008 21:45
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Coluna do Domingos
 

Votado

Coluna do Domingos · Aurora, CE 15/10/2008 20:53
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Inês de Sampaio Pacheco
 

Todo o gradiente emocional, superposições de tons ... Votado.

Inês de Sampaio Pacheco · Brasília, DF 22/1/2009 21:04
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