A PELEJA NO PASTO DO PINDOBÃ
Nasci na cidade grande
Na beira do mar fui parar
Muito tempo depois
Na chapada vim morar
Noutras paisagens
Não consigo me pensar
De tudo que já vi
Tenho gosto em contar
Arranhei-me nos calumbis
Caà sobre gravatás
Já fui açoitado por carcará
Do seu ninho a cismar
Passei por cima de cascavel
Outras me deixei passar
Não fui atacado
Deixa prá lá
Cobra coral na toca do caburé
Sua morada era certa.
O pior de tudo mesmo
Foi a sinistra peleja
Com uma linda peçonhenta
Luta feia com jararaca
Coisa linda a bocarra aberta
Dança de mestre
Sem berimbau
Pulava de todo lado
Uma faca pequena
Uma palha de coco
To aperreado no sufoco
Três chegaram a cavalo
Apearam e se alistaram
Dança daqui, sapeca de lá
Suor de tanta refrega
Pegamos a bandida vencida
Em forquilha de vara curta
Não morta, desfalecida
Manhosa toda estirada
Levo prá Salvador
Lá o veneno é soro
Na mão de algum doutor
Outro gritou prá feira de Ipirá
Tem rezador que vai comprar.
Nessa conversa toda
Ao ver a bicha rebolar
Bengo Véio empeixerou
Lascou da goela a ponta
Ainda viva a bichana
Num zap eram duas peças
De um lado o couro ocado
Do outro a carne trincando
Um palmo cabeça a dentro
Enterra bem fundo as presas
Prá menino não pisar
O couro é pro jardineiro
É ele quem vai esticar
A carne deixa aqui mesmo
Mais tarde vou moquear.
A valente jararaca
Ganhou destino insólito
A noite no dominó
AbaÃra e carne assada
A desafiante virou farofa
Nas lenhas de um fogão
Do couro, um tamborim
Uma frente de boné
Uma capa de povari
Uma bolsinha pequena
Prá guardar fel de teiú
Todo cuidado é pouco
Nas noites de boa prosa
Com viola ou sem viola
Com direito as arrumações
Uma história prá contar
Mil modos de acreditar.
Almirante Ãguia – Dez 2008
É só um caso, pode ser um causo, mas é verdade das boas, com inventações e tudo.
Ê coisa boa de ler, coisa boa de ver. De ver, só o grafite e giz de cera, pois da bicha só quero a contação vivida e inventada. Degustar o andamento dos versos e da ação dessa gente que transforma um elemento em tantos.
No mais, fico a cismar: "Passei por cima de cascavel
Outras me deixei passar".
Eu acredito e boto fé! É maravilhoso toda vez que encontro alguém falando assim de nossa gente, de nossas coisas! Valei-me Itaberaba pois tem coisa boa lá! Vixe!!!
Parabéns! Eu volto feliz da vida...
Abraços daqui,
Meu querido Almirante, sua poesia nos aproxima das boas raizes culturais. É bom demais saber que você existe. Parabens, Bjos.
graça grauna · Recife, PE 14/12/2008 12:12Na beira da fogueira caso vira moqueca de qualquer bicho rasteiro ou voados, de toca ou de copa alta. Conte causo, Almirante, conte mentiras e verdades das caatingas e chapadas.
Marcos Pontes · Eunápolis, BA 14/12/2008 12:50Eita saga curraleira meu caro Almirante! Um mergulho na infância campesina! FELIZ NATAL!!!
raphaelreys · Montes Claros, MG 14/12/2008 14:01
Almirante,
a) recebi, com prazer, o seu recado para ver a possibilidade de postar algo sobre o INDIO BRASILEIRO. Vou atende-lo e agradeço a confiança e o interesses demonstrados;
b) do postado. Vizemos, nos versos, caminhos inversos - eu nasci na chapada e fui morar na cidade grande. De boto conheci eu mesmo um filho do tarzinho.
abraço
andre.
Almirante,querido,pois eu acredito, a vida é essa, asssim, contada bravamente, nessa aventura entre a cidade grande e a mata deslumbrante e seus mistérios desafiando a gente!!!
Muito bom, muito lindo!
Uma delÃcia de se ler e sentir!!!
Parabéns,meu querido conterrâneo,maravilhoso causo esse,viu?
Bluebjks
Blue
Almirante Ãguia · Itaberaba (BA) ·
A Peleja no Pasto do Pindobá
A Vida é luta em todo lugar.
Lutas de todas formas.
Lutas das mais incrÃveis.
Náo é uma luta só.
Náo é cada um tem a sua luta.
É todo mundo lutando em todos lugares mas, é a mesma luta da vida.
Náo se pode ficar só na Luta.
tem de ter Amigos Queridos.
Irmáos amigos no mesmo sentido.
Lutas sem fim no litoral e no interior.
É a Luta do sustento da Vida.
Ainda se luta as cegas mas, ela pode organizar.
Tem de juntar os amigos pra fortalecer.
Tem de junto celebrar pra ficar forte e aumentar a uniáo.
tem de comungar e partilhar uma forofa boa.
Toda farofa é boa porque a gente até gosta até de farinha pura.
Comer é comungar, é eucaristia pode ser com páo e vinho ou com farinha e água.
Sempre o Pai vai estar presente por isso que tem de acreditar.
Parabéns Abtacáo Amigo
Almirante
Quanta cobra !
E só das peçonhentas .
Muito bom trabalho.
Parabéns amigo.
Muito bom!!! Vc é um gênio poeta e contador de causos! Vc é cultura pura! Continue a alimentar as raÃzes da cultura popular - ela é cacimba nos tempos de estio.
Ah, sobre teu pai e a vida que ele levava na sua tapera - mesmo com zil adventos tecnológicos e da grana, creio firmemente que ele é que sabia morra bem!!!
Abraço!!!
Digo: ele é que sabia morar bem!!!
Viva o simples!!!!
Almirante, Grande Ãguia,
Nesta beleza de cantiga
quase fiquei com gosto
de experimentar a peçonhenta
com farofa, ou muqueca no jantar.
Muito bom!
Beijos,
Regina
Pra quê matar a coitada?
Volto para votar
Abs
Eae velho almirante, na pazzz?? :-)
M-a-r-a-v-i-l-h-a de texto!!!! Muito bom mesmo!!! Parabéns!!
volto na próxima fila!
Abração e ótima semana!
Aglacy - Muitas cobras, a cascavel é uma delas, estando saciadas passa por nós indiferentes, nós é que nos apavoramos e acabamos por esquartejar as pobres coitadas.
Vera e Nina - Após ter ler Chuva Marvada e ouvir Irerê do Aldy, peguei o rascunho da peleja e dei os toques finais, por isso disse que vocês me ajudaram a inspiram.
Grauninha - Bom é saber que há com quem existir.
André - Feliz por sentÃ-lo confiante, para o norte, para o sul, devemos abrir trilhas como infantes, para que outros sejam seus navegantes.
Blue - Faço parte do inverso êxodo, posso dizer que tenho raÃzes, tanto lá como cá.
Azuir - A luta é sempre árdua, com pão ou com farinha, salve a eucaristia.
Ivan - A vida nos prados nos leva a estes encontros constantes.
Ademário - Seu comentário me faz pensar que estou no caminho certo, falando sobre as taperas, bons momentos vivi em barracos de lona e palha, morando na rua fico longe de tudo o que já esteve tão perto.
Regina - A farofa é boa mesmo, o problema é que a gente come ficando esperto, come-se arrepiado, tirando o tempo todo os pés do chão.
Aldy - Quando vejo, nunca divulgo, para os outros não fazerem o incerto, mas com essa danada não teve jeito, a jararaca vem prá cima sem medo, com sua dança e bote certo, só foge cansada ao perceber que será vencida.
J Lago - Este entusiamo é sempre bem vindo, obrigado.
um grandioso trabalho, parabéns.
depois eu volto.
Um caso tão bem contado,
como não acreditar?
Grande abraço.
volto.
Almirante,
Muito prazerosa leitura.
Parabéns!
Abraços
Almirante:
Com muito prazer
abrindo sua votação
abraço
Eita, que tá gostado imensamente!
Abraços poéticos,
Já tem meu voto, só pela contação vivida e inventada.
Ivette G M
Almirante, Grande Ãguia,
Se o arrepio é um nó
basta colocar o pé na madeira.
O choque para de correr
e come-se o que tiver gosto,
- Dependendo da fome,
Alimento do homem.
Beijos e votos.
Regina
Êta cabra valente esse Bengo Véio!!!
Inventação deliciosa!
Abraços!
Êta meu irmão!!!!
que orgulho da sua valentia, matador de jararaca heim!?!?!?
tá me saindo um excelente contador de causo...
estamos lhe aguardando em janeiro, traga o tamborim e o boné...todo mundo quer ver...rsrsrs
bjs
Almirante,
E vamos seguindo nessa poética linda,parabéns!Abraços
Caà sobre gravatás
Já fui açoitado por carcará
Do seu ninho a cismar
Passei por cima de cascavel
ALMIRANTE ÃGUIA,
BelÃssimo conto,
Com todos os toques,
e retoques do bom "contista"
Parece saltar aos olhos as imagens!
"Ao ver a bicha rebolar"
Parabéns,votos
de um FELIZ NATAL
2009 repleto de glórias!
O POETA É O SAL DA TERRA;
SE O SAL PERDER O SABOR,
COM QUE SERÃ SALGADO
O ALIMENTO DO CORAÇÃO
DO HOMEM???(o Mestre já alertava)
LUZ & PAZ
Para toda sua famÃlia!
ABRAÇOS.
Leitura agradável, envolvente que expõe belas imagens da Natureza e da Alma agreste própria dos vastos Chapadões brasileiros. Abraços. jbconrado
ayruman · Cuiabá, MT 19/12/2008 11:22
Muito Bom Almirante, posso notar que além de escritor tem se mostrado um grande desenhista, muita inspiração desta terra boa onde foi morar...parabéns...gostei.
Muito bom o seu texto. MagnÃfico! Causos eu os ouvi muito no interior de minas. Muitas mentiras, meias-verdades, e até, acredite, verdades.
Você descreve as cenas cinematograficamente.
Parabéns!
Salve águia!
Aqui o camarada das cobras chama-se Atenor Capanga e fala mais que o home da cobra(mas se é o próprio!). Mentira vai, mentira vem, e a muié dele só confirmando. Cê Ãa gostar de conhecer.
Bravo!
Um causo de deixar até os cabelos de careca oriçado...
Abraços, Almirante.
Aqui relendo e desejando grandes realizações em dois mil-inove!
Luz e Paz . jbconrado.
Agradeço a todos os overmanos que tem agraciado este trabalho com suas visitas e registros, agradeço também aos amigos que não são do overmundo mas fazem parte deste "Nosso Mundão' e me agraciam com seus comentários pessoalmente.
Meu muito obrigado a todos.
depois de um longa ausência...
estou de volta!
bj na alma!
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