[o avesso da sala verde]
Aonde minha autossuficiência (teimosia) vai me levar? Para longe daqui, espero. Começo ouvir uns sons, parecem música percursionada por ruÃdos ambientes. Uma espécie de orquestra com motosserras, martelos e um som agudo que não posso identificar. Sinto-me totalmente restabelecida, até parece que é a primeira vez que visto meu corpo e estamos extasiados um pelo outro: minha essência e carne.
Daqui do outro lado dessa sala verde começo a perceber que não posso ficar esperando. Preciso sair. Duas escadas aparecem no canto oposto onde me encontro. “Aparecem†porque não as havia percebido antes de precisá-las. Tenho que decidir subir ou descer e só agora me dou conta de que não há portas. Por mais que pareça me enterrar, e percebo isso porque cada passo abaixo a umidade, assim como o frio, aumenta, prefiro descer. Nem sei se escolho, sinto mais que estou sendo impelida. Meus passos estão cada vez mais pesados, parecem quase quebrar os degraus de madeira. Acabo de descobrir um corrimão maluco. Cada vez que tento segurá-lo, ele range como se fosse uma estrutura de cabo de aço estendido a sustentar a escada. Estranho, mas estou com uma sensação que não há mais nada além de mim, dos degraus de madeira, do corrimão enferrujado e dessa música sincopada. Acostumei com ela e com meus rangidos, só eles indicam que estou viva e me movimentando porque já perdi aquela comunhão com o meu corpo degraus atrás.
Mais um passo e vou poder ver alguma coisa, pressinto uma luz logo à frente...
Parede estranha, esta. Parece que a poeira conseguiu se acumular nela como se um pequeno grão fosse segurando outro logo acima e acho... - ela tá se expandindo? Não...Droga! Não era parede era o chão. Cai do último degrau para cima da parede, chão, bom que seja chão porque como explicar essa inversão de planos? Não consigo levantar, preciso, a poeira não me deixa respirar e as escadas de Escher vêm à lembrança. Definitivamente, chão. Talvez a escada estivesse num plano diferente, pior que não consigo me convencer disso. Cada vez que tento ponderar o que está acontecendo algo parece fugir da minha mente. É como se ela estivesse tentando se esvaziar de mim.
Tantas vezes tentei não ser como eu sou e agora esta sensação aguda de estar me apagando me apavora. O que me define vai indo embora. Vou tentar mais uma vez, lembrar algo... Droga! Meu coração dispara. Tenho medo de tentar lembrar e nessa tentativa esquecer para sempre. Sinto que avancei bastante dentro daqui, para onde agora?
interlúdio dois
Olá Ana Cris!
Verdadeiramente, me senti descendo as escadas do Escher.
Gostei das imagens evocadas e da prosa no avesso da sala verde.
Abração
sua teimosia vai te levar longe, só não se sabe se é pra onde você quer ir...
Greyce Kelly Cruz · São LuÃs, MA 4/4/2010 22:59
Gookz, acho até melhor ir para os lugares que eu não queira...devem ser melhor dos que ando frequentando.
Obrigada por passar por aqui!
Interessante,
nossa mente prega peças, enquanto a vida continua num processo de auto conheimento tambem nos confunde entre tantos caminhos a seguir...
bjs
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