INTRODUÇÃO
Este trabalho se dedicará a analisar o papel das redes digitais e das tecnologias de comunicação que configuram o ciberespaço nas transformações sociais e culturais contemporâneas responsáveis por dar voz a grupos sociais historicamente marginais.
A internet e as tecnologias digitais não inventaram sozinhas a condição pós-moderna de nosso tempo (a qual dada sua fluidez e não totalidade é de difÃcil definição, podendo ser denominada também modernidade lÃquida, era da complexidade ou era pós-paradigmática, de acordo com cada pensador do tema), a qual é fruto também de diversos eventos de ordem social, econômica, polÃtica e cultural. Porém, certamente a dinâmica que o ciberespaço atribui à comunicação o coloca como condição crucial no funcionamento dessa sociedade. Ao dar voz a milhares de pessoas antes enclausuradas na condição de receptores passivos, vÃtimas do velho mundo analógico, o ciberespaço promove a individualidade e a interconectividade, o que rompe com a lógica que reforçava o monopólio de grandes instituições nos processos comunicacionais na sociedade, desvalidando os tradicionais conceitos de emissor e receptor. Esses novos contextos interativos e colaborativos, produzidos pelas novas arquiteturas de redes, são denominados contextos reticulares.
O Funk Ostentação, fenômeno musical brasileiro e paulista, em que jovens de origem pobre exibem-se, áudio e visualmente, portando objetos caros, é fruto dessa conjuntura. Somado aos fatores sociais e econômicos que culminaram na eclosão desse subgênero ostensivo do Funk carioca, que também serão analisados neste trabalho, o ciberespaço configura-se como palco sem centro nem fronteiras para indivÃduos acostumados com as margens. Margens sociais, econômicas, e culturais, porém cada vez menos tecnológicas e comunicacionais.
Compreendendo-se o papel das redes como fundamentais ao surgimento do Funk Ostentação, optou-se nesse trabalho por seguir uma estrutura de análise que parte do estudo da sociedade em rede para a abordagem do fenômeno musical em questão. Com isso, conduzir-se-á o leitor por veredas que lhe proporcionarão rigidez conceitual para a compreensão dos fatores que condicionaram o atual protagonismo digital do movimento Funk Ostentação.
A primeira parte do trabalho (CapÃtulo I) se dedica a desbravar a evolução dos estudos reticulares, decifrando os efeitos que estes trazem à sociedade e à cultura contemporâneas. Nesta etapa, pensadores como Albert-Laszló Barabási, Massimo Di Felice, Manuel Castells, Pierre Lévy, Zygmunt Bauman, dentre outros, fornecerão as bases teóricas para as análises desenvolvidas.
O tema da segunda parte deste trabalho (Capitulo II) é o Funk. Nesta etapa o foco será entender como se deu o surgimento e desenvolvimento do estilo, que deve sua origem ao Funk norte-americano, mas que, graças à s então emergentes tecnologias de digitalização e compartilhamento de músicas, foi reapropriado pelas camadas pobres do Rio de Janeiro que o transformaram em manifestação cultural brasileira legÃtima, traduzindo todas as peculiaridades inerentes à s massas populares que lhe deram vida. Tais estudos serão conduzidos à luz de estudiosos do assunto, como Silvio Essinger e Hermano Vianna.
A terceira parte do trabalho (CapÃtulo III) se dedicará ao entendimento do fenômeno Funk Ostentação à luz dos estudos reticulares até então analisados. Ao ostentar os objetos caros, tais indivÃduos ostentam também uma identidade de essência digital, baseada no consumismo, e frenética por ser reconhecida e validada, não apenas pelos participantes de seus grupos sociais mais próximos, mas por toda sociedade que sempre lhes segregou. Desta maneira, buscar-se-á desvendar os motivos que impulsionaram camadas acostumadas à opressão econômica, social e cultural a desejar assumir um suposto status social pelo consumo, encontrando na música, no vÃdeo e nas redes seu meio e sua mensagem.
As análises conduzidas neste capÃtulo serão baseadas em autores de comunicação e sociologia, como Luiz Guilherme de Carvalho Antunes (Luli Radfahrer) e Pierre Bourdieu. Além disso, esta etapa do trabalho será amplamente sustentada por análises de letras de músicas do gênero, fragmentos de entrevistas com seus artistas e na afinidade do autor pelo tema, a qual lhe orientou a vivenciar experiências imersivas, tendo participado de eventos festivos e coletivos de debates em cuja temática ostentação fora trazida à tona.
Por fim, nas Considerações Finais serão feitas as conclusões das análises que culminarão no esboço de perspectivas futuras tanto para o gênero Funk Ostentação quanto para o gênero Funk.
Este trabalho se propõe a analisar a relevância dos contextos reticulares no estabelecimento da individualidade e na construção da identidade de grupos sociais historicamente marginalizados (econômica, social e culturalmente), a partir do estudo do fenômeno Funk Ostentação, movimento cultural proveniente das periferias paulistas. Será defendida a tese de que esse gênero musical encontrou no ciberespaço vias para que seus atores criassem, disseminassem e consumissem produtos artÃsticos e culturais de maneira autônoma, o que culminaria no protagonismo digital deste gênero.
obrigado por ter postado o trabalho por aqui! já baixei, vou ler!
Hermano Vianna · Rio de Janeiro, RJ 30/11/2013 18:56
Obrigado Hermano, para mim é uma honra que se disponha a ler meu trabalho! Espero que aproveite a leitura. Estou aberto para crÃticas e sugestões.
Ele ainda não foi avaliado, a apresentação para a banca é essa quarta-feira às 18h na sala 20 do CRP, na ECA/USP, está convidado caso esteja por São Paulo e queira participar.
Abraços!
Gustavo parabéns pelo trabalho... Espero que esteja dando continuidade em um programa de pós! Faço um debate muito próximo ao teu em meu mestrado! Vamos manter contato! forte abraços!
prof.joaoneves · Uberlândia, MG 15/9/2014 14:13Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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