Acredite se Puder: Os Mercenários da Desgraça Alheia!

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AZnº 666 · Rio de Janeiro, RJ
21/1/2008 · 113 · 6
 

Leiteiro e Nato no início do tratamento. No Donwload reportagem de Jornal!

Chegamos na Cidade Nova em 1986 e tomamos um susto, a propaganda oficial no rádio e TV era:
Voçe não é daqui! Voçe não é daqui!
Feita por uma descendente de Nordestino/s, previa oque nos aconteceria pouco depois. Este incentivo gratuito e irresponsavel a Xenofobia, incutiria-nos indelevel, a mania de perseguição! Vitimados por uma doença, procuramos tratamento num Centro de Saúde bem longe de nossa cidade, temendo ser conhecidos como portadores da mesma, e também para não sermos envenenados, já que eramos/somos ferrenhos inimigos de Centros Comunitários, que achamos ser eleitoreiros. Por coincidência a mãe de 2 alunos meus, era enfermeira no Centro de Saúde Julia Sefer, a 10 KM de minha casa. Lá fomos nós, e bem recebidos pela enfermeira, imediatamente atendidos. Os remédios, gratuítos foram-nos entregues pela atendente do almoxarifado de nome Ruth!
Saímos cada um com sua dosagem relativa a um mês de uso. Os efeitos colaterais do remédio eram de arrepiar os cabelos, literalmente, a côr da urina nos primeiros dias era marrom-alaranjado, e passou rapidamente para vermelho-alaranjado.
Apossou-nos uma terrível mania de perseguição, discutir nem pensar, o sangue fervia e ficavamos a segundos de uma agressão física. Uma fome avassaladora, dispensa e geladeira vazias, eu me safava com Chibé, (farinha de mandioca com agua) mas meu irmão só na agua com açucar, dava passos largos para a diabete. Parecíamos 2 exemplares ambulantes de aula de Anatomia, 2 fugitivos de um Campo de Concentração!
Dois meses nessa agonia, e no 3º mês, relatamos a médica-Diretora do Centro de Saúde os sintomas, visando um substituto mais suave. Ela pediu a caixa de remédio e ao vê-la exclamou:
Meu Deus, quem foi que deu isso a voçes?
Informada, foi no almoxarifado e trouxe o remédio certo, da mesma marca mas 900 miligramas a menos.
Estavamos tomando remédio para maluco!
Perdemos a confiança no Centro e pedimos transferência. Atendidos fomos para outro, mesma distância de casa, mas mais perto de Belém. Em lá chegando, não havia fichas como é comum em Centros de Saúde, apenas num livrão a atendente escrevia o nome ao lado de um número, que era para comprovação oficial de atendimentos mensais. Enquanto esperava minha vez ia vendo ela escrever, aí notei que ela pulava a cada nome de 3 a 5 números, calculando mais de 180 números pulados por pagina. Conforme a doença após a inscrição ela indicava a sala, lá fomos nós, e enquanto esperavamos, entra uma enfermeira e fala com outra que estava na nossa sala:
Mais 3 casos!
Do muito ou do pouco?
Do muito!
Então coloca no do pouco!
Nesta época estava havendo uma epidemia de Dengue e varios casos de Meningite, e seja Governo ou Prefeitura, só trabalham com dinheiro, e uma Epidemia gera reforço de emergência, daí o interesse.
Pegamos os remédios só deste mês neste Centro, e como eu era entregador de jornais, acabei conhecendo um freguês meu, que me indicou essas 2 figurinhas que entram agora:
Bat-Tyson e Filé de Borboleta, este apelidado pelo meu freguês.
Bat-Tyson, uns 50 anos, forte, uns 90 kilos, não tinha os dedos parecendo os punhos, 2 "luvas". Filé de Borboleta era magro e baixo.
Numa reunião com Bat Tyson na casa de meu freguês, sou informado por ele, que várias famílas estrangeiras, principalmente italianas, sabe Deus porque razão, apadrinham portadores dessa doença, dando-lhes algo não muito caro, numa forma de amenizar o sofrimento. Para fazer jus ao presente bastava tirar uma foto.
Quem recebia o dinheiro do exterior gerava confiança, avalisava o risco:
Padre João M.....!
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leiteiro Entendi que a foto iria para o Exterior e não me prejudicaria, depois, de graça até injeção no olho!
Topei, tirei, e pedi:
Uma TV 29 popo, e 1 Video com mais cabeças que a peruca da Medusa!
Vai mês, vem mês e nada de Popo, nem Vivi, e a duplinha só enrolando. Zum,zum,zum, correndo na cidade, já era uma romaria atrás da duplinha, de pires na mão, cada um querendo o seu pedido realizado.
Nós, eu e meu irmão, que já tinhamos lidos 3000 revistas em Quadrinhos de Super-Heróis, estavamos imbuídos em defender os desvalídos, bancar o Don Quixote de La Mancha!
Marcamos audiência com Padre João M...., para entregar de bandeja, tal e qual Salomé, a cabeça dos 2, no escritório dele. Lá chegando, fomos recebidos por um desconhecido, que nos informou que o Padre.., continua ficha téc.
Ficha técnica
Padre ainda não chegara, nos colocando no escritótrio do mesmo. Sentamos e passamos a ler alguns dizeres pendurados na parede, até que torcemos o pescoço e bem em cima de nossas cabeças estava este:
Se eu não puder confiar nos meus comandados, eu quem eu vou confiar!
Caramba, e agora?
Não dava pra voltar atrás, nossos dedos indicadores com priapismo, apontavam para os patifes. Entra o Padre, senta-se na escrivaninha e poêm-se num interminavel, receber fax e dar telefonemas. Finalmente dignou-se a nos falar. Abrimos o bico, deduramos bacana. Haviamos lido no Jornalzinho que o Padre financiava um Mega Projeto de plantio de arroz. Falamos de nossa experiência de 3 anos com os cablocos, e dissemos que desistisse. Ele não se convenceu, e um ano depois dessa história ele já estava na Itália!
Findo o papo, saímos, meu irmão na frente, eis que entra na sala os patifes, me isolando de meu irmão pelo rapaz (que tinha aberto a porta e nos conduzido até a sala) e ficando na minha costa.
Filé de Borboleta, que junto com os outros provavelmente escondidos, ouviram tudo enquanto dedurávamos, gritou:
Mentiroso!
Virei espumando de raiva, dedo em riste na direção do rosto de Filé:
Ninguém me chama de mentiroso na frente de um padre!
Pensaram que eu ia "jantar" aquele "carne-sêca com batata", o rapaz da porta me segurou pelo meu "rabo de cavalo" a lá Sonsão, enquanto Bat-Tyson sentava aquela 'Luvinha" nojenta na minha cara, tudo isto na frente do padre, que parecia cantar:
Ai,ai,aiai/ tá chegando a hora/ o dia já vem raiando meu bem/ e eu tenho que ir embora!
Isso foi um desbunde nas minhas convicções, eu que tinha ajudado uma porrada de missas nos 4 anos de colégio, não admitia uma postura daquelas em um padre. Depois deste episódio nunca mais rezei, nem mesmo quando estivemos presos, um dia e uma noite, com 8 acusações falsas cada um, eu rezei;
Clamei por Deus, mas rezar não....
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AZnº 666
 

Clamei por Deus, mas rezar não....
Conseguimos receber alguma coisa em dinheiro, mas demos em troca para o padre, uns 20 postais rarissímos da década de 50, do RJ e Itália!
Tivemos que assinar uma declaração de que não éramos portadores da maldita doença, portanto sem direito a qualquer tipo de indenização!
Assim termina mais um: Acredite se Puder!

AZnº 666 · Rio de Janeiro, RJ 17/1/2008 14:15
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Saramar
 

Uma história tão abjetamente obscura como essa só poderia acontecerneste país onde lei e honra são palavras vazias.
Nunca confiei em padres (acho que nem Deus confia, apesar do amor imenso que tem). Com padres políticos, nem o diabo se mete. Que Deus nos livre.
Crei que este é um tipo de história que poderiamuito bem estar registrada em um documento policial.
Verdadeiro horror!
Aposto que todos os envolvidos estão por aí posando de líderes e pastores dos necessitados.
É realmente nojento.
Perdão por minhas palavras, mas se detesto os poderosos aproveitadores, tenho ainda mais horror a esses miseráveis seres que se aproveitam dos seus semelhantes (em condições) para melhorar suas mesquinhas vidas.

beijos

Saramar · Goiânia, GO 17/1/2008 18:45
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brigitte
 

É de horripilante esse episódio. E o papa ainda afirma que a única igreja legítima representante de Cristo é a Católica!!!Conheço outras histórias parecidas e que causaram um estrago na minha fé. Mas tenha certeza, Renato, que sua fé não ficou abalada pela atitude mesquinha do religioso. A fé se baseia em obras, portanto as suas obras provam a sua fé. És um vencedor, com certeza!

Abração a você e seu irmão!

brigitte · Goiânia, GO 17/1/2008 21:20
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Cintia Thome
 

Mesquinharia, repúdio!

abçs.

Cintia Thome · São Paulo, SP 20/1/2008 20:06
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brigitte
 

Votado, amigo.
Abração!

brigitte · Goiânia, GO 20/1/2008 20:13
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Pedro Monteiro
 

Abaixa a maldade!

Abraços a você.

Pedro Monteiro · São Paulo, SP 1/3/2008 11:57
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