Está tudo entre o solipsismo e a embriaguez da existência:
ENTREGA ESPECIAL
Chegou pelo correio há meia hora. Faz dias que esperava o embrulho. Não sabe ainda se o conteúdo da caixa é de ler ou comer. De qualquer maneira decide abrir o pacote só depois de ir ao banheiro. Se olha no espelho. Fica imaginando como seria se fosse outra pessoa. Abre a caixa quando sai do banheiro. Encontra nela três coisas: um chocolate, um livro e um espelho. Lê enquanto degusta o doce.
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Quero regar bem a flor que recebi de presente.
Segurá-la pelo caule entre os dentes, cuidar para não contrair demais a mandÃbula, usar a lÃngua como sensor de pressão, andar na rua, no meio da multidão com as flores todas que me deram entre os dentes, mas sempre cuidando delas e regando-as com saliva morna. A flor que me deram já não lembro quem presenteou, mas anda junto com todas as outras, no ramalhete que compus e carrego na boca.
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pássaro
passos
vôo
vértice
revoada em triângulo de um bando
passadas no ar
aves astutas
sorrisos ao vento
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faz o que é útil,
iça as velas
utiliza as velas,
aproveita o vento
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Descobre que está nu. Não há espelhos no ambiente.
A nudez é evidente apenas porque se toca.
Nenhuma luz ilumina o momento.
Tudo é tato.
Como um tatu, mergulha na toca das próprias entranhas. Procura secreções nas mucosas. Enfia dedos na boca, remexe orelhas, vai até os ouvidos, quase machuca os tÃmpanos. Sente prazer, quase fica surdo. Vasculha o corpo em busca de viscosidades. Se vê com as mãos. Usa os dedos para aprofundar descobertas. Tenta unir as mãos nas costas. Se contorce. Sente que é um arquipélago de ilhas entre as quais a única ligação possÃvel é a nado.
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Ao baixar o arquivo, encontram-se mais textos e algumas fotografias geradoras de clima
essa entrega especial deve ser demorada.
para sentir o calor e a umidez das suas palavras.
cinematográfico.
Explica melhor...
Felipe Obrer · Florianópolis, SC 9/4/2007 00:08(enquanto restrito ao plano verbal, na verdade, tudo bem.)
Felipe Obrer · Florianópolis, SC 9/4/2007 00:14
Foi apenas um comentário. Nada deve ser mudado no texto.
Um sentimento que o texto trouxe, apenas isso.
Pena não ter entendido.
Abs
Não queria ficar desentendido sozinho, por isso perguntei. Obrigado por voltar e esclarecer. Sensações não se expicam, de fato.
Um abraço,
explicam (as teclas falham)
Felipe Obrer · Florianópolis, SC 9/4/2007 01:21
meu irmão! adorei seu texto, e se eu falar que enquanto eu tava lendo ele rolaram umas coincidências comigo na ultima estrófe!!!
ParabÊns!
há, alguem leu seu texto hehehe
Alan Guerreiro · BrasÃlia, DF 9/4/2007 02:43
Alan, o comentário é por causa do trecho em que digo que não imagino que vá haver alguém que leia, né?... Vê só... acabei publicando.
Abraço,
Estou na dúvida sobre se mantenho a colaboração ou apago...
Felipe Obrer · Florianópolis, SC 9/4/2007 15:29
porque mano?
tá bacana... deixa ele po
Ah... pode ser. Mas sabe aquele dilema de se ver cristalizado num apanhado momentâneo, sem chance depois de se desvencilhar das palavras? É literatura, mas nunca falta quem resuma alguém ao verbo.
Abraço,
Acho maluco, o abuso no ponto que eu gosto. Se fosse coisa de são, não sei não...ia pensar, antes de falar. Tem tanta coisa por aà que a gente já leu em algum lugar.
Me lembrou de uma maluquice que eu disse pra um dermatologista ou coisa assim, uma vez: Disse ao cara que só existiam três sentidos, que olfato e paladar eram uma balela, que não existiam, já que, na verdade eram tato também, sensores internos, uma forma da gente se sentir por dentro, quando come, bebe, sente dor, etc.
O cara me achou doido mesmo mas, e da� Escrevi o conceito numa apostila de musicoterapia. A apostila era minha. Maluco era ele, coitado que não sabia nem o que se passava dentro de si mesmo.
larga o post em paz. Agora ele já é de todos.
As entranhas já se abriram para o mundo...overmundo, sei lá.
Antônio (risos...).
Valeu por aparecer. Abraço,
Abraço, não tem de que.
SpÃrito Santo · Rio de Janeiro, RJ 10/4/2007 06:58
Na verdade aqui trata-se de um prólogo. Só quem fizer o download sentirá todas as suas imagens sonoras soltas no espaço.
Abraços
Valeu, CÃntia! O pessoal à s vezes tem preguiça de baixar, é compreensÃvel.
Abraços também,
Eu mesma às vezes tenho... E também haja HD para tanta coisa!
Até qualquer dia.
Pois é... Haja espaço! Só esta semana baixei no Overmundo dezenas de arquivos...
Abraço e até já,
legal,sinto a procura de um estilo próprio
votei
abraço.
Bela harmonia de cores, adorei Felipe, parabéns.
Carlos Magno.
Ainda bem que você manteve o texto. Desmamei, sonhei, encontrei e desencontrei. Quanto ao teu comentário sobre "cristalizar-se", não tem outro jeito. A gente escreve (e isso é sempre se expor); o resto fica pro outro, que lê. Não dá pra controlar, não tem sentido querer fazê-lo.
bjo
Escrever não é cristalizar-se: a escrita não está apenas em quem escreve, mas também em quem lê. Se leio, o texto é meu (embora seu). Nele prego meus sentidos, como borboletas em alfinetes, ou pouso minhas sensações (quem sabe para voar logo em seguida...). Nesse seu texto aqui o pouso é mais demorado, sem pressa de sair logo voando para outras folhas... é coisa pra se ler e reler, ato que a poesia exige por ser assim: uma escrita a várias mãos (ou sentidos).
Beijo
;)
Sem mais, nem menos, nem ais, só agradeço o comentário. E mando uma piscadela cúmplice de quem entendeu o recado e concorda.
Beijo,
Felipe
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