Dentro do carro apertou. Pequenos, eu e a mana fomos no colo, mas não dá pra saber ao certo de quem eram as pernas. O pai mal conseguia guiar, a mãe rezava pro motor não morrer. O vô sorria e achava tudo uma beleza. A vó sorria e achava o lenço na bolsa para secar o sorriso.
Em casa a mãe e a mana arrumavam a mesa enquanto pai colocava a mala dos velhos no chão da sala. Eu mal aguentava esperar aquele almoço que vinha sendo preparado há mais de semana. O cheiro estava demais. Agüei. Tentei tirar uma lasquinha do frango mas tomei um beliscão. Chorei. A vó me consolou. Descobri que vó é doce como o pudim de leite da sobremesa.
Depois da bóia, o pai levou o vô pra oficina e mostrou como estava bem com seus trabalhos. Tinha cliente fixo e dois ajudantes. Arrumava até Monza. A mãe ria que o único motor que não andava bem era o nosso. O pai explicava que tava em falta a peça, paciência. A mana, já sem laço de fita, sentada no colo da vó provava um pouquinho do doce que eu descobri.
Perguntei ao vô baixinho se eles iam ficar pra sempre, de tão bom que é ter vô e vó assim, pra abraçar a gente. Nessa hora a mãe chorou sem fazer barulho mas eu vi com o cantinho do olho. O velho curvado segredou no meu ouvido:
__ Vô e vó estão sempre pertinho dos netos. O pensamento não deixa a gente se afastar. Quando tiver saudade do vô pensa nele, que acontece.
__ O que acontece , vô?
__ O vô pensa de volta.
Continuação do conto Domingo
A visão do mundo através de uma criança
é sempre simplificada. Depois a gente cresce
e bagunça tudo.
um abraço
belÃssimo texto, depois eu volto.
O NOVO POETA.(W.Marques). · Franca, SP 25/8/2008 16:32
Gostei desta continuidade pelo olhar da criança.
E discordo do Edimo. Vida de criança não é nada simples.
É um inferno, por vezes. Mas, esquecemos!
ainda bem.
Parabéns, Vanessa
Gosto cada vez mais de seu texto
bjos
CD
Vanessa,
BelÃssima continuação, singela e nostálgica, tudo pelo mágico olhar da criança. Lembrou-me a minha infância (acho que a de quase todo mundo), em que a doce presença dos avós (ou de um deles) marca pra sempre nossa vida...
Parabéns ! Vo(l)tarei.
Bjs poéticos
Valeu a pena esperar a segunda parte. Tão gostoso quanto pudim de leite.
Marcos Pontes · Eunápolis, BA 26/8/2008 18:20
Vanessa,
Cá estou novamente, parabenizando-a mais uma vez pelo belo conto e abrindo a votação.
Bjs poéticos
"Descobri que vó é doce como o pudim de leite da sobremesa." é a melhor descoberta que fazemos.. e votando para que logo fique no banco.
Omar Costa de Umbro · São Paulo, SP 27/8/2008 15:31
Há vida no pensamento, sempre.
Vô e vó estão sempre pertinho dos netos. O pensamento não deixa a gente se afastar.
Que comovente!
Eu mal aguentava esperar aquele almoço que vinha sendo preparado há mais de semana. O cheiro estava demais. Agüei.-
-adoro essas expressões que vc usa!
__ Vô e vó estão sempre pertinho dos netos. O pensamento não deixa a gente se afastar. Quando tiver saudade do vô pensa nele, que acontece.
__ O que acontece , vô?
__ O vô pensa de volta.
_ lINDO, SIMPLES, AMEI ISSO !!!!.....
Valei pela força, gente. Assim eu não paro mais de escrever.
Vanessa Anacleto · Rio de Janeiro, RJ 1/9/2008 18:40Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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