AOS SERTANEJOS
(André L. Soares)
1.
Cidade grande é uma 'belezura',
com muita obra de envergadura,
tudo lindo, luxento e formoso,
gente correndo que nem formiga,
comendo horrores, criando barriga,
num vai-e-vem supimpa e vigoroso.
Milhões de carros em movimento,
tanto prédio, tanto apartamento,
luzes, vidro, asfalto, cor, cimento,
chegando mesmo a ser assombroso.
2.
Mas nisso tudo há muita tristeza...
gente vivendo em meio à safadeza,
desfrutando do fruto afanado,
homem a explorar um outro homem,
tantos querendo matar a fome,
tanta comida em supermercados.
Tanta gente a se exibir no terno,
com soberba em nÃvel sem igual,
o povo humilde só a passar mal,
a Justiça vive em bacanal,...
já se tornou a matriz do inferno.
3.
A miséria cresce e se esparrama,
ladrão rico monta e deita cama,
a lei é dura só pra pobretões.
Os alimentos são ruins e caros,
amores são cada vez mais raros,
nas leis mortas, pairam transgressões.
A escola é vil, suja e decadente,
hospitais não curam os doentes,
aumenta só a massa dos carentes,
superlotam-se todas as prisões.
4.
Já na roça o mundo é mais quieto.
Povo aqui não é metido a 'esperto'.
O caipira é até meio 'desletrado',
ganhando a vida sobre o torrão,
arranca um milagre com a mão,
na terra, no boi, no rio e no arado.
É sob o sol que esse povo trabalha,
com foice, enxada, faca e navalha,
tomando pinga e pitando a palha,
corpo há muito tempo calejado.
5.
O tabaréu fala tudo errado,
com os verbo assim, mal colocado,
sem entender metade dos nome.
Porém, não vive só de fantasia...
se amanhã nós te 'dizê' '– bom dia',
em nossa casa'ocê dorme e come.
Se 'bestá', você vira até parente.
'Desagradô', nós diz na tua frente.
'Home' do campo é capiau valente...
nós não vive em meio à hipocrisia.
6.
Galo 'cantô', nós já 'estamo' em pé.
Nossa Senhora tem a nossa fé,
nela buscamos a redenção.
Na procissão tem santo no andor,
nas famÃlias sobra mais amor,
modismo aqui nem existe não.
Não se é escravo do tal de cinema,
Então nós prefere é as ‘muié’ morena,
nós quer rezar os terço e as novena,
e tocar viola ao luar do sertão.
7.
Mas o caboclo, não é irresponsável.
Nossa labuta, é assaz louvável.
Nós que forjamos a produção,
na roça é que o trigo é semeado,
no pasto é que o novilho é criado,
colhe-se o milho, o arroz e o feijão.
A verdade se apresenta pura...
século após século de bravura,
nós na lida com a agricultura,
desenvolvendo a nossa nação.
8.
Desde a data do descobrimento,
desde o nosso primeiro momento,
planta-se aqui o que essa terra der.
Luta ardente, silente vitória...
ciclo após ciclo em nossa história,
cana-de-açúcar, gado e café,
milho, cacau, soja e algodão,...
uns vivendo'inda na escravidão,
de paga a 'pê-eme', de arma na mão
e o sertanejo, forte,... de pé.
9.
Por isso, respeite os homens do campo
e não nos deixe, assim pelos cantos,
sem terra para 'plantá' e 'vivê'.
Nós não morremos pobres bóia-fria
para essa corja podre de BrasÃlia
se 'amostrá' às nossas custas na 'tevê';
rindo-se à toa do PIB elevado,
mas deixando ali, sempre de lado,
o câncer impune do Eldorado,
ferida aberta no 'eme-esse-tê'.
10.
Então'ocê, rico barão togado,
professor, médico, 'adevogado',
medalhas, pompas pra mais de mil...
quando for sentar-se à santa ceia,
na dispensa farta, sempre cheia,
de fruta, legume, pão e pernil,
saiba que aqui sempre foi o matuto,
jeca, roceiro, leal, roto e bruto,
o honrado e sábio, homem astuto,
que com seu suor, sustenta e alimenta
esse gigante chamado 'BRASIL'.
.
.
.
Que lindo e profundo Lobo!
Nas tuas sábias e bem colocadas palavras, este é o nosso BRASIL!!!!
Pela grandeza da obra, ficaria horas e horas parafraseando os teus versos. mas ficarei com os 'matutos', os caboclos, os 'tabaréus' e os iletrados, pois são estas GENTES simples que como bem vc coloca. "sustenta e alimenta toso o resto.
Grande abraço, voltarei.
Branca Pires, suas palavras já me deixaram muito feliz. Obrigado mesmo. Grande abraço, Poetisa!
Lobodomar · Guarapari, ES 9/10/2007 18:21
André,... a imensa a sabedoria contida nesses versos dispensa qualquer análise meu querido.
E não digo isso, porque como sabe amo esse poema. Sei que sou suspeita, mas ele é lindo mesmo.
Uma linda homenagem pra essa gente que carrega esse nosso Brasil nas costas.
Quero só ter a sorte de um dia, ouvir alguém recitando ele da forma que você me contou que fizeram. Ah! Ai sim, Poeta.
Vais saber de verdade o quanto ele me emociona.
Querido, agradeço por mais essa oportunidade, ler esse poema é sempre uma alegria para mim viu.
Por essa maravilha para a nossa literatura, você merece parabéns e aplausos infinitos...
Beijussssssssssssssssssssss
E claroooooooooo que volto. ;) Beijusssssssssssssssss
Rita Costa · Rio de Janeiro, RJ 9/10/2007 21:55Ah minha linda Alma de Poesia,... a felicidade maior dos meus versos é agradá-la. Quanto a esse povo que trabalha duro, merece mesmo toda forma de referência - artÃstica ou não! Que bom que você gostou. Isso me deixa muito feliz. Beijussssssssssssssssssssssss, Poetisa!
Lobodomar · Guarapari, ES 9/10/2007 21:56"gente correndo que nem formiga" Sabe que eu adoro este "que nem"! Até hoje uso muito! Aqui no meu interior também tem esta gente bonita e forte, que arranca o milagre com a mão! Belo e sábio eu poema, André (me permite?)! Abçs...
Nydia Bonetti · Piracaia, SP 9/10/2007 23:02Nydia, só tenho a lhe agradecer pela generosa apreciação. Permito sim. Apareça sempre. Grande abraço, Poetisa!
Lobodomar · Guarapari, ES 9/10/2007 23:10
Cara, este poema é de tirar o fôlego. Excelente.
Um dos bons daqui.
Parabéns!
Benny.
André, mais um poemaço. Gostei pra caramba da numeração. Suavizou o poema deixando-o ainda mais interessante.
abço.
Sérgio, grato pelo comentário. A numeração eu usei para dar um certo 'tom de cordel'. Grande abraço, Poeta!
Lobodomar · Guarapari, ES 10/10/2007 11:25
VotadÃssimo, querido!
Boa tarde!
Branca Pires, obrigado pelo voto e sua generosa atenção. Grande abraço, Poetisa!
Lobodomar · Guarapari, ES 11/10/2007 19:12
Belezura de rabalho.
Teve de ter pernas e fólego.
Verdadeira Epopéia.
Tem todo merecimento e glória
Azuir, poeta-amigo, 'belezura' é sua apreciação generosa. Grande abraço, Poeta!
Lobodomar · Guarapari, ES 12/10/2007 07:18
Perfeito! Parabéns pelo belÃssimo poema!
Flores pra você @>--
Adriana Costa, flores para todos nós. Obrigado pelo voto e comentário. Grande abraço!
Lobodomar · Guarapari, ES 12/10/2007 10:27
Põ cara, demais!!
Adoro o mundo caipira e você escreveu uma verdadeira Ode ao Universo Sertanejo...
Por que não me convidou para vir conhecer?
Votado com merecimento!!!
Marcos Paulo, muito obrigado. Acho que no dia que postei ainda não conhecia sua arte. Mas, nas próximas eu te perturbo. Grande abraço, Poeta!
Lobodomar · Guarapari, ES 13/10/2007 13:49
Bicho! É um espetáculo este teu poema. Que beleza, é de encher a boca dágua meu gigante poeta Lobodomar. Meus sinceros aplausos e um grande abraço amigo.
Carlos Magno.
Obrigado Carlos. Seu comentário me deixa bastante feliz. Grande abraço, Poeta!
Lobodomar · Guarapari, ES 13/10/2007 22:51
BelÃssimo. Um dos melhores que li no Over ...Valeu ler tudo...a gripe compensou, rs
abçs.
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