Assim é, se lhe parece II

Silêncio.
Antoine prendeu a respiração quando a porta se abriu. A moça tomou um susto tão grande que deixou uma pasta cheia de documentos cair no chão. Nenhum dos dois se moveu depois disso até que foi ouvida a voz da mãe de Tereza .
__ Antoine, entre meu filho, não fiquem os dois aí parados.
__Mas, eu já estou de saída, mamãe. Antoine - disse com um beijo no rosto do rapaz- eu estou de saída e volto daqui há duas horas, me espere, sim?
E saiu correndo pelas escadas.
__ Entre , meu filho, por favor, ela está com pressa porque tem que deixar uns documentos na empresa onde arrumou trabalho que fica fora da cidade. Você emagreceu desde a última vez que nos vimos, quer comer alguma coisa?
Puxado pela sogra- seria ela ainda sua sogra?- Antoine entrou no apartamento zonzo. Ensaiara tantas vezes o que diria a Tereza no momento em que se vissem novamente. Mas não adiantou o texto decorado, sua mente simplesmente parou de funcionar no momento em que os olhares se cruzaram.
__Tome o café comigo, Antoine , por favor. Estou tão confusa quanto você a respeito disso tudo.
Sentou automaticamente e olhou o fundo da xícara vazia enquanto escutava a narrativa da sogra.
__Ela telefonou dizendo que estava no aeroporto , que estava assustada com aqueles incidentes nas ruas de Paris , que havia largado o emprego. Eu não entendi nada mas como poderia dizer para ela não voltar? Eu não sabia exatamente o que estava acontecendo. E quando ela chegou , foi do jeito que contei a você , chorou uma noite inteira , não quis comentar o assunto e pediu para não passar seus telefonemas. Eu realmente não entendo, ela parece bem , apesar de tudo. E você como está , meu filho.
__Como eu poderia estar? Estou vagando como um zumbi sem entender o que aconteceu desde o instante em que ela disse que iria partir. As peças não se encaixam, estava tudo muito bem até o momento em que ela me deu a notícia. Perguntei a todos os que tinham contato mais direto com ela e ninguém sabe me dizer a causa desta fuga. O que eu faço Dona Mara?
__Não sei, meu filho, mas conversem, vocês precisam conversar. Por que você não descansa no quarto dela até ela chegar? Faça isso , por favor.
Entrar no quarto de Tereza foi uma das experiências mais dolorosas . Em pouco mais de um mês ela já havia arrumado tudo a sua maneira, colocado fotos dos amigos de Paris em um mural e não havia nenhuma de Antoine. Deitou na cama , sentiu-lhe o perfume, a cabeça ainda confusa, o perfume, não havia pregado os olhos no avião , o perfume, adormeceu.


* continua...