Fruta que se desintegra
Tem tudo de poema:
Pequenos pêlos, inúmeros cheiros
E uma noite muda
Em muda decomposição.
Fruta-bicho desarquitetando a vida
Silenciosa dilaceração
Saliva, susto, sublimação.
Será de bicho ou fruta esse cadáver em solidão?
É tanta melancolia em seu corpo
Tanta ausência em seus odores
Que me confundo no espelho.
Em vez de fruta é a mim que vejo:
Catedral vazia de amores
Turva simetria do desejo
Sem rastro, sem porta ou fecho.
Ela e eu apodrecemos no soneto
Fruta-abcesso, bicho-obsessão:
Loucas rimas da mesma solidão.
Bicho da noite/mulher
Fada fruta deflorada
Que tempo esse te transfigura?
Que mecanismo te empurra?
Será o avesso do cheiro
Ou apenas tua doçura?
Doçura mesmo derretendo alma adentro é esta sua poesia cortante, maçã ao meio e o miolo humano exposto. Sublime tudo, as imagens, a maestria das palavras, o mirar-se no espelho, profundamente, mesmo que este seja uma fruta na bandeja do tempo...
Cida Almeida · Goiânia, GO 13/3/2007 12:14Obrigado mais uma vez, Cida, por suas palavras sempre generosas. Bjs.
Nivaldo Lemos · Rio de Janeiro, RJ 13/3/2007 12:18
a dualidade do desejo? os constrastes do eu que quer e espera, que teme e se afasta e apodrece diante da doçura... não sei.
mas adorei o texto...
abraços, conterrâneo. e aquele céu azul é sim de teresina!!! e eu nunca comi arroz com pequi... hehe. bjs
Obrigado, Arianne. E não deixe de experimentar arroz de pequi, é uma delÃcia! De sobremesa vai bem um doce de bacuri. E uma rede com varanda sob o céu daÃ. Quer mais? Que saudades do PiauÃ! Bjs.
Nivaldo Lemos · Rio de Janeiro, RJ 13/3/2007 17:30Em tempo: adorei sua butija!
Nivaldo Lemos · Rio de Janeiro, RJ 13/3/2007 17:32
olá nivaldo,
texto conduzido de maneira brilhante, bom de se perder o fôlego... essa metáfora que rebrilha num fulcro primeiro, a volátil existência de tudo o que vive-morre sem cessar. seu poema poderia se chamar simplesmente "fruta", tão simples e poderosa é a imagem, tão fugaz a beleza e o sabor de tudo, que somos obrigados a reconhecer, como em mishima: a beleza é como um dente podre.
abraços!
r
Oi, Renato,
obrigado pelas palavras, você entendeu bem o espÃrito do poema, é isso mesmo, a poesia em si mesma dói como um dente podre, uma fruta que apodrece na alma e brota, renascendo na própria dor da criação. Valeu, amigo. Um abraço.
Muito bonito e poderoso!
Um corte na fruta, na alma. Pungente sabor, intensa dor, em versos aparentemente leves.
Gostei imensamente.
Nossa!! Muito profundo, isso aÃ, Nivaldo!
BelÃssimo!
Abraço!
Saramar,
obrigado por suas palavras tão lisonjeiras, mas poderosa é você que carrega o mar no próprio nome. Um abraço.
Carlos ETC
muito obrigado também pelo incentivo. Abração.
A desintegração do "eu" e a insurreição da essência: poesia!
MagnÃfico poema !
Adorei.
Parabéns!
...o tempo de maturação chega e
o sabor se altera....pra melhor!
agridoce esse poema... tdo vc entao, penso.
bjssssssss;
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