A espada que atravessou o seu coração denunciou o punhal que havia traÃdo suas convicções. Para ele não existia alternativa. Somente o fim planejado pelo seu “Paiâ€. O sacrifÃcio era o seu destino. Um sacrifÃcio que salvaria à s vidas que habitavam o seu prado. Ele cresceu sabendo que a fuga era impossÃvel. Sua mãe sofria por ele. Mãe solteira que nunca relatou algo misterioso em seu nascimento. Não há indÃcios que desejou escapar daquilo, alegava terem traçado para ele. Apesar de alguns boatos, de quem leu as expressões de seu rosto atentamente, de que ele amou uma mulher, e que tal condição de apaixonado, poderia por em risco os objetivos de seu “Paiâ€. O que complicava ainda mais a situação, segundo a população, era o fato da moça não ter nada de virtuoso. A jovem ganhava a vida como garota de programa.
Sempre bom e justo, enfrentou a miséria, a desesperança, a desconfiança dos outros. Até ameaças de morte vindas de paramilitares, grupos neonazistas e fanáticos religiosos. O olhar lançado com semblante interrogativo, para o rapaz, era devolvido com ternura. Ele não era nobre de nascimento, somente de alma. Uma alma de bravo. Ele deveria fazer as pessoas enxergarem seus erros, fazê-las esquecerem seus temores e aspirarem à liberdade. Ele dizia que tal liberdade que desejava para o povo só seria possÃvel com o seu “Paiâ€. Uma junta de psiquiatras intitulada “Saúde Mental em Nome do Estado e da FamÃlia†o declarou insano e cogitou a sua internação em um manicômio.
Adulto, e pronto para a sua missão, partiu em peregrinação. Por alguns foi adotado, enaltecido, seguido, por outros tantos foi hostilizado, repudiado, pedido sua morte. O Governo começou a estudar a possibilidade de considerá-lo persona non grata ou sequestrá-lo e dar cabo dele em qualquer terreno baldio. Ele transitava de um lado para outro e começava a formar aglomerações ao seu redor. Isso não é nada bom para o tipo de regime polÃtico do paÃs. Ele virou “Aquele homemâ€, mescla de desprezo e medo.
Ele era aquele que foi engendrado para espalhar o bem. Sócrates, Buda, Jesus, Che Guevara, séculos depois destes, transitando pelo caos, disseminando ideais arcaicos. Era essa uma acusação que os donos do poder fizeram questão de alardear.
Condenado à revelia por crimes contra o estado e desrespeito à religião oficial, foi caçado até ser capturado e levado ao calabouço. Uma mulher, conta-se uma dançarina famosa na época, pediu sua cabeça numa bandeja de ouro. O presidente negou a solicitação por considerá-la demasiada primitiva e irracional.
Torturaram-no com exÃmia crueldade e destreza. Seus seguidores tidos como insurgentes foram fuzilados. Ninguém o renegou ou traiu. Ele foi encontrado porque nunca se escondeu e, além disso, o governo possuÃa uma excepcional Agência de Inteligência. Execução sumária para todos que contestassem as determinações estatais. Finalmente um decreto tornava o “bem-nascido†um desterrado. ExÃlio polÃtico. Depois converteram essa sentença em pena de morte. Ele seria morto em praça pública. O suplÃcio da roda deveria obrigá-lo a se retratar das injúrias contra o Estado e a religião oficial. Ele não o fez na esperança que o seu “Pai†o salvasse. Porém, o seu genitor não apareceu. No momento derradeiro, ele percebeu o abandono: os ossos quebraram-se e os órgãos se arrebentaram como se animais ferozes o dilacerassem. Ele não viu nada além do terror. O terror que emitem aqueles que cometem o erro da devoção cega. O juiz que proferiu a sentença se orgulhou do eficiente recurso à quele expediente de execução, “Riram de mim, dizendo para que trazer de volta instrumento tão defasado, coisa do século XVIIIâ€.
A vida já havia se esvaÃdo do corpo do “bem-nascidoâ€, quando o carrasco, sem mais nem menos, espetou o coração do nobre rapaz. Morreu sozinho. Para muitos foi um lunático, bem intencionado, que quisera libertar seu povo do jugo de um Governo totalitário, abraçando a equivocada ideia de acreditar, e esse assumir, como um Messias. A mãe, a garota de programa e algumas tias e primas, e poucos fiéis, recolheram o corpo e prepararam-no para o sepultamento. Os amigos não compareceram. Os que não estavam mortos foram viver na clandestinidade. No terceiro dia de sua morte, o “bem-nascido†não ressuscitou. O Governo decretou feriado no dia seguinte, uma segunda-feira cinza. Motivo: o Estado fazia o seu povo feliz.
Megalópole, 01º de Abril de 3333.
No futuro a humanidade se depara com "a mais bela história do mundo". Mas não é aquela, só se parece com ela. O Salvador, seus discÃpulos e seguidores e os carrascos estão lá.
REALMENTE É UMA HISTORIA QUE SE PARECE COM AQUELA.. ADOREI ESSA OBRA!! ME DESPERTOU INTERESSE EM CONTINUAR LENDO E NÃO PARAR NO MEIO DO CAMINHO, OU MELHOR, DO TEXTO.... PARABENS! CONTINUE ASSIM! BJS.
DAI* · Recife, PE 18/4/2011 17:02
Estrutura e qualidade textual excelente.
No entanto, Jesus nosso SENHOR, foi citado como um homem, ele não foi só isso, e sim o salvador!
Isso acontece com os fanáticos, pois a fé em demasia também cega e mata, porque o pai não pode interceder aqui na terra. É território dos homens que estão se tornando maus e vingativos. bjs
Doroni Hilgenberg · Manaus, AM 19/4/2011 15:26
M. Leite, o homem do conto não é Jesus. Ele, o homem do conto, é, realmente, humano. Mas Jesus, apesar de filho de Deus, teve a sua porção humana. Viveu, sofreu, se iludiu, sangrou como todos nós. Há naterra, homens dispostos, ou pensam que podem salvar a humanidade e governo totalitários e sanguinários o bastante, para executar pessoas que desejam praticar o bem. É sobre isso o conto.
Eu respeito a História de Jesus, por mais que não eu seja cristão, o suficiente para considerá-la a mais bela história do mundo.
Pois é, graças a deus que o "Pai" não veio alterar o "bom" andamento dos procedimentos humanos, demasiadamente humanos para serem livres o sulficiente para repetir velhos padrões de da antiguidade barbara, com a diferença de que agora nos vem pela industria massificante dos meios midiaticos que servem ao capital.
Adorei o conto, e isso não cai para o religioso. Um abraço WULDSON
Essa ideia de "salvação" feita por uma pessoa só, não é viável. A polÃtica deve ser feita pelo coletivo. Bela história.
wender m. l. souza · Cuiabá, MT 21/4/2011 10:54
O Divino Mestre Jesus é e sempre será a "Luz do Mundo".
Ele não veio salvar nós pobres mortais, mas sim mostrar o "Caminho da Salvação" que é individual. Cada ser humano façapor onde e construa a sua libertação guiado por esta Luz Universal.
Quando puder apareça. Ayruman agradece!!!
Uma boa Páscoa. Uma boa Semana.
Wuldson, como sempre ótimo post. Voce realmente cria em nossa mente um pensar de reflexão que nos leva a contestar ou a discutir o assunto em pauta.
Isso é bom, pois nos leva a imaginar como seria o mundo se a ficção torna-se realidade.
Parabéns.
Uma boa história, tanto que desperta verossimilhanças (algumas até fundamentalistas). Uma narrativa que não permite que se tire os olhos da tela. Vou e volto, permaneço exilada deste espaçom mas sei que escritores como você garantem um retorno certo ainda que tardio. Maravilha de texto!
Débora Maria Macedo · São Paulo, SP 1/5/2011 09:12
Eu de novo aqui no seu santuário.
Tenha uma boa semana.
Se puder apareça. Sou grato.
Wuldsom.
Prbns. Vc me parece ser joem, porisso o tema é extasiante, vivenciei os tempos da ditadura, sofri na pele, porisso me tocou. por hoje assista a novela do sbt, a qual eu não aguento assistir, pois me remonta ao acontecido desde 1964.
Prbns garoto.
Gteixeira
Digo jovem. o que + importa é a sua bela maneira de retratar o tema.
Gteixeira
Achei uma tremenda viagem esse texto!
A troca de contexto fez toda a diferença e fez a história original soar simplesmente como um conto de fadas diante da "releitura" quase surrealista, não fossem os personagens figuras de uma sociedade realista.
Pirei.
Wuldson, um cola acima escreveu que vc parece ser jovem. Engraçado, sempre tive a impressão que era um coala atemporal
Texto inteligente abriu para discussão, testa o nosso intelecto, o mundo necessita de paz, de coração limpo, de solidariedade, de amor e respeito. Ao homem o seu legado conforme sua caminha aqui na terra, e, que sua vida ou morte seja revertida sempre para o bem, ainda que seja em um verdadeiro 1º de abril. Parabéns. bjs
MartaLucena · Natal, RN 16/5/2011 23:53
Ele, o Wuldson é um Coala atemporal, mas sempre se conserva jovem no seu proprio modo de sentir-se jovem, e pessoalmente continua sendo um ser notavelmente admiravel. Um abraço Wuldson! E vai que tenho coisas novas no Overmundo, e elas solicitam teu olhar. rsrs
Digo "coala" não "cola". (trava-lingua)
Débora Maria Macedo · São Paulo, SP 26/5/2011 12:00Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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