Chiquito é daqueles descendentes de italianos, cujo pai veio do interior da Itália, região da Calábria, após a segunda guerra mundial.
Sistemático, caladão, herdou uma "venda", que até hoje tem as mesmas caracterÃsticas de oitenta anos atrás.
Ele é tão "ele", que certa vez ao entrar no seu comércio para comprar uma peça de pano, perguntei por detrás do balcão:
----Chiquito, quero aquela peça, a anti-penúltima daquela fileira, e apontei o local. Ele, simplesmente me respondeu:
----Não tô com vontade de vender aquela não, escolhe outra.
----Mas gostei da tonalidade do pano. Pega lá pra mim?
----Mas não quero vender essa peça, uai!
Dona Ivone tinha acabado de chegar do Rio de Janeiro, toda bronze, shortinho curto, pernas carnudas, bunda estilo Raimunda, alegre, fogosa, enfim pronta pra engafunhar num mineiro. E era bonita a Dona Ivone, nos seus sessenta anos.
Ia passar uma temporada na casa da sua nora, que cuidava de uma floricultura.
Pensei logo em ajeitar um namorado para ela, herdei do meu pai a mania de querer ver todo mundo casando, ou namorando. Não importa, queria mesmo era ver a bela carioca feliz.
Falei do Chiquito pra ela. Enchi a bola dele. Fui até um pouquinho mais longe , dizendo que ele deveria ter uma poupança bem gorda, que ela mudaria até o estilo do seu comércio. Trocaria aquelas prateleiras comidas de cupim, não mais venderia pinico, chaleiras, colheres de ferro, coador de café e faria uma fogueira com aquelas pilhas de panos poeirentos e cheios de buracos de traças, por roupas e bijouterias de griffe, sapatos estilosos, tudo bem à moda carioca.
---- Mas eu nem conheço o Chiquito!
----Não tem importãncia, Dona Ivone. Você chega de mansinho, diz que trabalha na floricultura e o convida para uma visita às belas flores. Não esqueça de dar um "olhar carioca" e esse lindo sorriso pra ele.
Dona Ivone chegou de mansinho, comprimentou o italiano avarento, se apresentou, sorriu e jogou todo seu charme. Nem preciso dizer que chegou rebolando, aguçando seu tesão adormecido, atrás daquele velho balcão. Fez o convite:
----Seu Chiquito, apareça lá na floricultura da minha nora. Chegou muitos vasos de flores, cada um mais lindo que o outro.
E ele respondeu:
----Gosto de flor não!
Encontrei com Dona Ivone, à noite toda chué, murchinha e xingando o mal educado do italiano.
Também pudera, nas bocas das Matildes da cidade, Chiquito gostava mesmo era de cantar as empregadas domésticas. Sempre deixava sua janela serrada, à noite, caso sua cantada fosse aceita.
Também, quem perdeu foi ele. Dona Ivone fez a festa por aquelas bandas...
Dançou muito forró, teve vários namorados e todos bem mais novos que o italiano.
Chiquito continua com sua venda, atrás do balcão, vendendo seus panos empoeirados, comidos de traças, feliz da vida!
De vez em quando tira uma na calada da noite, tá ruim?
Ana,
Gostei muito do texto. É uma história real? Quem é o bebê na foto no download?
beijos
Paulo,
Obrigada pelo comentário.
O texto é real. Tempos vividos no interior. A gente fica conhecendo pessoas engraçadas, assim como o Chiquito.
Menino, perdi todo meu arquivo e coloquei esse texto noutro arquivo. É minha netinha que nasceu em dezembro.
Um abração.
Ana querida, que conto Bom! e por ser real é melhor ainda!
Cada figura que a gente encontra na vida!Nossa, algumas inesquecÃveis.
Parabéns!
abração
Ana querida, adorei o seu causo, deu vontade de conhecer o Chiquito!
Parabens, volto para votar
beijao
sinvaline
Bárbaro, Ana!
Aqui na minha cidade tem uma loja idêntica. Parada no tempo, mais ou menos igual a do seu Chiquito, que vende tecidos também. E tem uma venda que deve ter as mesmas caracteristicas de 100 anos atrás. Eu adoro vê-las, resistindo ao tempo.
Os proprietários... personagens incrÃveis, como o seu.
Adorei!
Volto
beijos
Muito mineiro o caso e muito bem contado! Parabens, gostei muito!
victorvapf · Belo Horizonte, MG 11/1/2008 12:36
anamineira · Alvinópolis (MG)
Maravilhosa ana Mineira Amiga.
Seu texto me prendeu até o final.
Leitura interessante onde lia e construia finais diferentes na minha cabeca.
Foi um final até simples mas, me forcou a imaginar diversas formas paraterminar.
Impressionante como voce descortina um universo sem fim de possibilidades de evolucáo para o conto.
verdadeira licáo.
uma Aula da Arte de Escrever.
Parabéns e Abracáo.
Desculpas mas, meu micro náo tem til, cedilha nem acentos.
Arrasto de onde tem e faco o possÃvel.
Belo texto.
O Chiquito, na verdade
Não quis a Dona Raimunda
Pra não perder a liberdade...
Ou teve medo da sua dança!
Tá ruim não Ana. Esses mineiros, num é que os tás são tudo
assim.
Lindo, lindo com a tua marca. Essa capacidade de retratar. Contos enxutos e cheios de particulares, não sei como faz pra caber tudo. Um abraço, andre.
Texto real?
Parabens pelo texto
Votado Aninha.
bj
É muito engraçado este teu texto, minha amiga Anamineira. O seu Chiquito é realmente uma figura interessante. Meus sinceros aplauso pelo belo trabalho.
Beijos.
Carlos Magno.
Olha o voto aà amiga.
Beijos.
Carlos Magno.
Ana, conheço uma pessoa igualzinha a esse italiano, mas creio ser ele distÃmico sabe, aquelas pessoas zangadas sempre e à toa.
Texto muito interessante. Parabéns!!
Bj
Aninha minha flor! Votei no seu cada um, ou seja no seu cada qual é seu cada qual, já que o mundo é composto e todos são necessários. Um bom fim de semana. Mantenha seu sorriso!
raphaelreys · Montes Claros, MG 12/1/2008 07:08
Queridos overamigos,
Anamineira retrata a vida do interior, com jeito mineiro mesmo.
E ainda tem muitos casos engraçados pra contar.
Todos os comentários são muito, muito, muito bem vindos.
Obrigada de coração: Paulo, Sinvaline, Branca, Raphael, Rosa, Victor, André, LÃgia, Carlos, Cyntia, Azuir, Frazão e Nydia.
Que bom existir o Overmundo, onde conheci pessoas tão excepcionais!
anamineira · Alvinópolis (MG)
Maior orgulho estar aqui de volta para votar.
Reafirmar a elevação do trabalho e o talento da Poetisa.
Estar junto nesta decisão tão honrosa.
Parabéns.
Abração
Oia Ana, voltei a ler o caso do Chiquinho, no qual tinha votado, mas nem reparei que não tinha deixado um comentário! Que Chiquito danado heim... ainda bem que todo mundo acabou feliz, cada um a seu modo! ;-)
Beijos e flores @>--
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