Capítulo 4 - A.D.E.U.S.

ainda são 15:45 da tarde! penso em começar tudo de novo...
mas ainda não. Não ainda. Fico na cama. Aciono mentalmente o implante coclear e ouço vozes na minha cabeça. Não as vozes do Psicanalista Artificial nem da Mãe Portátil, não é hora para essas coisas mais íntimas. Até mesmo a náusea tem limites.
Fico ouvindo uma canção antiga, de pessoas mortas. Derretendo satélites. A voz – de quem mesmo, meu deus? (e o implante me joga na cabeça sem que eu diga a ele que não, obrigado, a informação na hora: é uma cantora ancestral chamada Paula Toller) – falando absurdos, girando amores, ora direis, ouvir estrelas (o implante vai começar a me dizer que eu estou lendo para mim um verso de Olavo Bilac e eu o mando rapidinho para a puta que o pariu e desativo a função Infodump e pronto), enfim, a voz, the voice, a voz dessa mulher me falando absurdos ao ouvido vai aos poucos me tirando a tonteira, me deixando num estado de torpor, de expor, de dispor, vai me abrindo como se meus braços e pernas fossem pétalas, meu chacra gerador fosse um pistilo, um caule, meu períneo fosse uma chave que aciona um campo de força, meu ânus o botão on/off.
Me masturbo.
É bom.