O movimento na Carlos Gomes estava frio, a noite quente, mas o movimento estava devagar, estranho tratando-se de uma sexta-feira. Não lembro bem a data, mas era época de pagamento e todo mundo estava bem, mas aonde?
Eu mesmo nem queria saber, tava de guarita esperando uma carona, na minha, de olho em tudo e em todos.
Em um flash, ao observar o fim da rua e o relógio, copiei o movimento do coroa do outro lado da pista. Com ele saiu umas três colaboradoras e na calçada ele apontou o serviço. Deu um beijo na cabeça da mais nova e passou outras coordenadas aos seguranças.
As meninas resmungaram, mas em seguida se posicionaram no posto de serviços, alisaram o cabelo, comportaram os seios no sutiã e suspenderam a bunda ao mesmo tempo que ajeitavam a mini-saia.
Encostaram por lá uma viatura da PM, um táxi, um carro importado, mas não entrou ninguém. Não saberia dizer se foi o calor ou a qualidade da meninas. Imagino que quem vai na busca da noite na Carlos Gomes já imagine o nÃvel do bagulho.
Passou novamente outro buzão e já me preocupava onde estaria a porra da carona. Na verdade seria um rolé básico, eu tinha vazado da faculdade e iria pra uma festa que não lembro onde seria.
Parei pra pensar sobre o que sabia daquela rua. Ali já foi uma rua freqüentada pelos barões de várias mercadorias, hoje o melhorzinho é um jokey que vendeu bem e tá com duzentos conto de boa e mais cinco gramas da boa, só pra brincar com a vida.
Mas aÃ, algo brilhava no inÃcio da rua, bem na curva do Sulacape, bem ali onde os trios elétricos fazem a curva no carnaval e os Filhos de Gandhy mostram quem é que comanda. Quatro faróis brilhavam e os olhos brilhavam, os cordões brilhavam e o neon piscava fosco. O coroa que tinha entrado voltou no mesmo momento, ele se agitou todo, chamou as meninas pra pista, a narina coçava, e elas gritavam:
- E aà rapaziada...
Eles vibram e um grita alto:
- É nós gaaaaatas! Cadê as outras? Tamu em alta, cinco mil graaaaaaau.
Eu reconheçi a voz, mas sem lembrar de quem, e torci pra que falassem de novo. Encostaram o carro e prestei atenção no som, e é claro, estavam escutando rap, reconheci o beat e me assustei, era meu som que estava tocando.
Outra vez escuto um grito, só que junto a buzina do carro que me aguardava. Minha atenção estava presa ao objetivo de saber que barreira era aquela, e nesta vibe me vi sair do carro. Não conseguia entender, pensei ser um sonho, mas não era, eu me vi vestido com uma bela roupa, tipo Rocawear, tipo todo fino, primeira linha mesmo. Saà desengonçado do carro, era meu andar, eu com mais três parceiros, todos rindo, batendo palmas e gingando no andar.
O coroa me olhava rindo, mas não era de felicidade pela minha grana, era pela minha presença, a expressão de minhas vitórias em bens materiais era motivo de seu orgulho no olhar e ele sabia como eu venci, ele não me julgava por nada, só estava feliz.
Os parceiros, todos que nem eu, uma espécie evoluÃda do que provavelmente foram seus passados, meu pai os olhou com o mesmo afeto, éramos na verdade irmãos. A gente se chegou, nos abraçamos com as irmãs e entramos.
A confusão me atormentava, porque o que agora te conto, eu vi como um sonho, do outro lado da rua. A buzina tocou mais forte, o parceiro me gritava do carro. Olho pra ele e volto a vista pra o estabelecimento, reparo no neon, ele oscila e acende com toda força e lá leio:
Casa da Mãe Africa Nigth Club.
Se a Africa é a mãe do mundo, quem são os pais? Me sinto um bastardo, acho que minha mãe é uma puta...
Primeiro capÃtulo da série Mãe Africa - Night Club, com o tempo os leitores descobriram e entenderam o conceito e analogia.
Caraca, Blequimobiu!
Sacada essa das mais das boas, o narrador se vendo do outro lado e de cantinho na própria vida, acordado como em sonho sendo e as lutas de umas vidas aparecendo como as lutas das vidas de tantas outras, de parecidas de batalha, dando a pensar que fossem mais que espera de dancing e talvez ainda vindo a ser adiante, já que em clube noturno ou se dança, ou se dança, sem saÃda, sendo mais ainda se é em beco, embora não saiba eu exatamente onde fica e pra onde dá a Carlos Gomes, se é que alguém ali dá.
Perdoa, mas ando meio assim, dizendo mais do que devia quando gosto do que leio e de quem cria.
Amplias com qualidade o tamanho da existência... fico feliz.
Grato pelo convite.
Sempre convide esse teu fã para as tuas festas de muito ritmo e poesia.
Abraço forte.
Olá amigo Blequimobil,
gostei do teu texto , é bem descontraido e objetivo. Meus sinceros aplausos e abraços.
Carlos Magno.
muito massa o texto, ainda mais com vc narrador-personagem, prende a atenção até o final e cria um clima de suspense... fayaka!!!
ministereo publico · Salvador, BA 26/5/2008 02:27
tô baixando, curioso pra ler isso ai!
pode usar o NOSSO espaço sempre que for necessário
Olha o voto aà amigo.
Abraços.
Carlos Magno.
Tô ligado, mas já havia votado, só naõ havia comentado...abração e parabéns.
Cristiano Melo · BrasÃlia, DF 26/5/2008 18:21
Adroaldo sempre me desconcerta em seus comentários, como pode um cara ser fã de um fã?
Carlos Magno e seus pedaços de madeiras.
Ministério Público, uma das manifestações populares mais importantes da atual música baiana.
Xavi, atualmente o maior jornalista da cena alternativa carioca.
E Cristiano Melo e sua água sem gáz, na moral, só feras do overmundo, valeu mesmo cada palavra ai.
Axé pra todos, e que venham outros!
E não é que pode isso de acontecer, Blequimobiu, e ser e continuar sendo e se renovando e se ampliando como o tempo passa e nele se acrescenta o que se cria.
Isso pode e não engorda sequer o ego, embora se pdirem confirmação eu não tenha como comprovar!
E se já tem mais, meu guri, manda bala que é quente essa onda (vibe?)
Vibe?
Aqui na Bahia temos uma cultura de universalizar as palavras e somos muito influenciados pelo reggae e raizes jamaicanas, assim como as Africanas.
E o termo vibe ficou famoso por aqui devido a tanto se ouvir nas músicas expressões como "positive vibration" ou "goods vibe"
Dai ficou meio que popular para se usar como "onda", "pegada", "ritmo", "vibração", "momento" e assim vai...
Abração meu nobre!
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