Céu liquido
A oeste de Mato Grosso do Sul os morros elevam escarpados e há vales com matas cerradas nas quais nunca um ser humano esteve. Existe uma vegetação atÃpica, que margeia a única estrada de areia onde árvores se inclinam fantasticamente e finos regatos escorrem do alto das pedras. Ao longo dessa estranha estrada de areias douradas há uma dezena de fazendas, com casinhas feitas de madeira, onde o mato de São Caetano percorre as cercas e paredes, dando a impressão de que estão todas abandonadas e que ainda guardam antigos segredos.
Os jovens moradores sempre vão embora. Os velhos continuam no lugar. Esta região não é boa para a imaginação e também não traz sonhos repousantes à noite. E, talvez por isso, este vale quase nunca é visitado por alguém. Outrora havia uma outra estrada, que vinha sobre as colinas e se encontrava com a estrada das areias de ouro. E, justamente neste encontro, formava um pequeno lago onde patos selvagens viviam.
Hoje, é apenas um pavoroso pântano, repleto de jacarés, cobras, mosquitos e cercado por morros, onde o céu alcança em tom sépia, dando a impressão que ali estão enterrados segredos dos dias estranhos que se passaram. O silêncio era excessivo nas noites que começavam mais cedo e, às vezes, se ouviam uivos de lobos ao longe, ou melhor, ecos nas colinas.
1.900 e a guerra do Paraguai havia terminado. Quase todas as famÃlias que viviam ali foram embora e algumas outras chegaram. Ao lado direito do velho pântano arenoso tinha um enorme e retorcido carvalho seco, que balançava sinistramente ao vento. Segundo os moradores, aquele carvalho balançava mesmo sem vento algum. Atrás dele ficava a fazenda de Ramona, uma refugiada da guerra que ali se aportou. Ela nunca pensou em deixar aquele vale estranho. Aquele lugar sinistro combinava com a aparência de Ramona, sempre carrancuda - seus cabelos longos e brancos davam uma visão surrealista de sua figura atarracada mestiça com chiquitanos (Ãndios bolivianos). Contudo, era uma espécie de matriarca da pequena comunidade.
Foi no quinto dia do mês de agosto que o horror eclodiu. A chuva despencou por toda tarde. No inÃcio da noite haviam ruÃdos estranhos e os cães latiram freneticamente. A madrugada foi invadida por um odor insólito. A chuva passou era 6 horas. Laguna, o ajudante contratado por Ramona para trabalhar na fazenda, voltou numa correria alucinada de sua jornada matinal à estrada de areia com as vacas. Ele estava quase convulsionando de pavor quando entrou, esbarrando em tudo que havia na cozinha, enquanto diante do fogão Ramona ficou a olhar sem palavras. Laguna tentou balbuciar sua história.
- Os anjos, os anjos, eles estão morrendo!
Ramona não espera a narração, uma vez que o rapaz tem problemas na fala quando fica nervoso. Saiu em disparada, seguida por Laguna, e foram até a casa do velho Barbalho, um sujeito magro que criava porcos e tinha os dentes enormes de cor ocre. O velho Barbalho já passava dos 80 anos e vivia com sua mulher, uma negra fugitiva de um quilombo, conhecida por Abá. Eram os vizinhos mais próximos.
Os quatros saÃram em direção à estrada de areia. Ninguém disse uma palavra - o céu estava escuro, corriam baixas nuvens apesar de ainda ser manhã. Dois quilômetros para a frente da fazenda de Ramona, onde passava a estrada velha, tinha um lugar que os antigos moradores denominavam “mesa dos anjosâ€, que para Ramona soava um tanto excêntrico e teatral - ela relutava contra as crendices daqueles vizinhos.
Continua/abrir arquivo.
Assim morrem os sonhos.
Um dia alguém os decepa, e só ressuscitam na boca do trovador.
Velho menestrel - Arlindo de Belas Imagens...
Parabéns, meu amigo!!
Mais te admiro, hoje e sempre...
Poeta dos pantanais...
Tuas palavras um alento para sonhadores...
Também sou fascinado pelos seus escritos - se parecem comigo.
abraços
arlindo
arlindo, meu pai mora em campo grande e ler vc me deixa mais perto dele. obrigada
NatashaCorbelino · Rio de Janeiro, RJ 20/12/2006 14:21
Natasha,
Como chama seu pai? (conheço metade da cidade a outra metada ja vi de passagem).
Vc também é daqui?
abraços.
Puta-que-pariu!!!! Simplesmente sensacional! Nem tenho o que dizer, mesmo. Me lembrei do GarcÃa Márquez, mas com a pantaneira sensação de rever mitos como o "Velho do Rio" (essa marcou, não marcou? hehehe)
Abraços,
Putz! Está maravilhoso!!!
Simpatia.
Vc gostou? (que bom!!).
Te convido a ler "O lado oeste da noite" (conto) tá aà no Bco de Cultura.
Acho que todo mundo tem vontade de ser "velho do rio" - é aquele momento que vc. se desprende de certas coisas ou valores...(vc me entende).
Saudações.
meu pai se chama pedro gomes corbelino
NatashaCorbelino · Rio de Janeiro, RJ 20/12/2006 19:43
Natasha,
Não conheço. É que trabalhei num grande Jornal daqui e acabei conhecendo bastante pessoas...(vou buscar no banco de memórias).
Ele trabalha com que?
abraço
http://www.overmundo.com.br/banco/sala_edicao.php?em_edicao=2835
Vai lá e deixa a sua participação em Balanço Literário
abraços
Beleza Arlindo.
Obrigado. Realmente O Leopardo virou filme, belÃssimo. O Universo numa casca de noz" li. O Hawking é fera.
O que voc disse lá concordo com tudo. Também sou fã do Manoel. Tenho livros dele. E curto aquele estilo Ãmpar de ele fazer poesia. Gostaria também de ter visto o seu documentário. Parabéns!!
jjLeandro · AraguaÃna, TO 23/12/2006 11:55
doc.
o doc. tem 55 minutos e foi produzido pela TVE/Minc.Vc encontra bastante matéria sobre o doc. na web (procure pelo tÃtulo).
http://www.cultura.gov.br/upload/Jardim%20de% href="v">20Poesias_1112799241.pdf
Abraços
http://www.cultura.gov.br/index.php
arlindo fernandez · Campo Grande, MS 23/12/2006 12:37
Feliz Natal, mano
http://jjleandro.blog.terra.com.br/
http:fotolog.terra.com.br/jjleandro60
Em dobro!
Toda essa felicidade...
Em 2007 pretendo lançar um livrinho de contos.
Saudações para toda famÃlia.
vou visitar seu blog
Beleza, cara! estou lendo seus contos e gostando muito. Além de uma técnica despojada, rápida, simples, que aprecio muito, está também visceralmente ligado à realidade fantástica do Mato Grosso do Sul: impossÃvel de acreditar mas perfeitamente lógica na argumentação de um poeta. Sei que seu "livrinho" poderá sê-lo apenas na referência fÃsica de suas dimensões, mas gigante como os planaltos do MS no seu conteúdo.
abcs
JJLeandro,
Fico profundamente agradecido pelas suas palavras. E Muito mais por vc ler os contos...(Obrigado mesmo).
Saudações.
FELIZ ANO-NOVO, Pantaneiro!!
Abraços
http://jjleandro.blog.terra.com.br/
http://fotolog.terra.com.br/jjleandro60
CarÃssimo,
Quando penso que me extasiei ao limite, tu me vens com novas construções e imagens... Por favor, quando lançar o livro de contos não deixa de me avisar. Qualquer coisa, manda pelo correio, só não quero deixar de tê-lo inteiro!
Glaiddhe,
Pode ficar certa disso.( vc é minha primeira leitora oficial).
Fiquei feliz por ter gostado e quando fico feliz
também fico inspirado.
cheiro de tomilhos
Ps. Leia "A extraordinária vida de Clorofila" taÃ.
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