Coisificações espiritualiquidificadas em liquidações de camelôs

Marcelinho Hora
1
André Teixeira · Aracaju, SE
13/9/2008 · 91 · 12
 

Coisificações espiritualiquidificadas em liquidações de camelôs

No fim da rua,
essências e espíritos
que não servem nem mais nos cabides que vestem
são varridos com água
bocas de lobo abaixo.

Acumulam-se
sobre outras tantas
almas escorridas e esquecidas,
a entupir as artérias da cidade
mecânica, só carne e ossos
dos sonhos nus
que não excitam nem incitam
o passo.

Imitando a cidade que lhe devora,
o Homem enxota 'por quês', 'ondes', 'quandos',
‘quems’, e esquece
de Ser.

Some no horizonte anêmico
feito de luzes que lhe crucificam
em cruzes artificiais que prometem apenas
a eternidade da cova.


======

Sobre a obra

Poesia escrita em comentário na página de 'Como está a vida?', respondendo ao Domingos:

Domingos!!! A palavra coisificação, nesse contexto de Poesia, gerou mais uma poesia... Obrigado pelo comentário e incitação às novas letras...


O.M. - 4/9/2008 14h24

Foto de Marcelinho Hora, no site Flickr

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Autoria
André Teixeira
Ficha tcnica
Foto de Marcelinho Hora, no site Flickr
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Dito Venéreo
 

sinistreira.
ao declínio, profeta.
o último estribilho.
é noise.

Dito Venéreo · São Paulo, SP 12/9/2008 12:29
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André Teixeira
 

Sinistreirias sinestésicanestesiantes do último som entendido pelos olhos

O barulho entra pelos poros:
a vida,
dodecafônica e tal e etc,
coisamente entre suas anteposições,
soa espelho.

Algures,
a alma distendenda do cerne,
vai além de suas questões carnais
a imprimir em mídias vazias - nuvens cheias de chuva,
páginas digitais,
a pele toda boca aberta,
o sangue marcado a ferro & fogo
pelo invisível
que corrói qual lava -
o Tudo que o Nada semeia
no passo transformado
em vôo
quando o Abismo é um melhor amigo.

==

A.T.

André Teixeira · Aracaju, SE 13/9/2008 08:23
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Planícia
 

Fetiche
ver a alienacao pelas coisas
é coisa que a sociedade e poesa
tangem pouco.
E a cidade é opressoramente envolvente...

Planícia · São Paulo, SP 13/9/2008 13:42
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Compulsão Diária
 

que maravilha de poema. aliterações irresistíveis e plenas de significado. Poeta, como foi que não te descobri antes? Nas bocas de lobo o lixo e as almas entopem as vias, as veias e a cidade anêmica!!
Muito bom!

Compulsão Diária · São Paulo, SP 13/9/2008 13:47
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phe
 

Coisificados... é verdade... tbm
quer minha máscara? rs
votado ! bravo!

phe · São Gonçalo, RJ 13/9/2008 14:18
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danlima
 

André, belo texto, carregado de conotações físicas e metafísicas. Lendo-te, vem-me algumas considerações, que aqui coloco, em primeria mão:

almas

As almas escorrem pelo lodo
pelo todo limo,
e não são pedras que rolam
simplesmente,
diluem-se, derretem-se,
dissolvem-se
como se dissolvem cadáveres
assassinados
em ácidos claorídicos.

As almas não se guardam,
nem se aguardam delas
qualquer pena,
qualquer dó,
qualquer nota,
pois enquanto corpos
foram apenas
vil matéria
adrenalinas descarregadas
em sensações de ódio e incertezas
nunca a beleza a reger
seus sentimentos:
de sensoriais, apenas os sentidos
imediatos
os sabores da palato
os toques,
o fruir do gozo,
os cheiros acres do egoismo
nada de belo, nada de crível,
nada de perene,
nada de etéreo
unicamente matéria.

Por isso as almas rolam,
para o abismo de si mesmas,
e se diluem,
em ectoplasmas sangrentos
sem nunca ter tido
o consolo das lembranças
doces na memória.

Por isso as almas coisificam-se
como inermes objetos
abjetos
ratos de esgoto.

Abraços Danlima

danlima · Brasília, DF 13/9/2008 16:33
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O NOVO POETA.(W.Marques).
 

muito bom trabalho.votado.

O NOVO POETA.(W.Marques). · Franca, SP 13/9/2008 17:42
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André Teixeira
 

WMarques! OBRIGADO!!!

===

Danlima!!! caro poeta, tuas palavras mais me inspiram... e as do phe (ou V?)!!! as da Planícia!!! as da CD!!! TAMBÉM!!!!


ESSA poesia é inspiradas nessas suas palavras.

MUITO obrigado e um GRANDE abraço em todos!!!


fetiches, ensaios, quadros, uma bola azul e o zunido do tempo a desgastar a pele estática


não quero máscaras.
usei-as até os 10,
quando descobri que a religião estraga Deus...
estragou tanto que uns até acreditam que Ele morreu!
(se fosse Eu,
até que me matava mesmo...
talvez Me enforcasse
com uma emaranhado de nuvens
pendurado num quarto minguante)
talvez tenha saído de férias e esquecido
de voltar.

Não, não quero máscaras,
obrigado!

eu quero é tirar da garganta um grito
que diga todos os silêncios guardados;
quero arrancar da pele os sonhos que nela
se engancharam e apodreceram qual pele morta
na sola dos pés;
eu quero é ficar bêbado de sobriedade!
chapar com oxigênio e enlouquecer com poesia
a me entupir as veias...

Não,
eu não quero sua máscara
nem uma máscara outra. Quero o que vou dizer agora:
usar a minha cara, meu rosto, dar a minha poesia a tapa
ou ao carinho alheio. Eu vou é
arregaçar o peito,
dessavessar o sonho e mergulhar a alma
na correnteza da Luz que passa.

Não, eu não quero máscaras...
se tens algo a me oferecer, me dá tua alma,
teu sangue e sonhos tal qual dou os meus
aqui nestas e noutras linhas
de uma poesia sem sinestesias de engenharia
gramática
ou metafísica aplicada.

Sim,
são tantas insanas coisas
pra quase nada e muito pouco
pra quase Tudo
que sobra muito nada pra tanto muito
que muito me espanta...
e desce assim a ladeira dessa poesia
a nuvem que esqueceu de subir e veio tempestadear
meu torpedeado entorpecido peito-balão:
não cabe no cercado feito pra ele;
sobra na máscara que lhe inferem;

deixou o branco ouro da página
e foi ser cachorro vira-latas e seus ossos
sem querer ofender a nobre raça – numa
praça sob jornais de notícias quentes de ontem
na noite fria
de hoje.

André Teixeira · Aracaju, SE 13/9/2008 21:21
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phe
 

Bravo !! tiro o chapéu err.. quer dizer a máscara rsr entretanto quem nunca sua cobriu sua face de palavras? Que fale-me do puro verbo! Quem nunca sentiu a realidade escapar-lhe do teclado...do lápis...dos suspiros...da ("nossa") verdade... quem pode se levantar e dizer que : todo poeta é o mesmo desde sempre! Eu não... assumo minha máscara. Para meu bem? bem comum ? são questões profundas demais para um raso poeta como EU. Eu que avisto máscaras sociais... por todos os lados.
Grande abraço
PUBLIQUE: fetiches, ensaios, quadros, uma bola azul e o zunido do tempo a desgastar a pele estática. VOLTO PARA VOTAR !

BRAVO !!!

phe · São Gonçalo, RJ 14/9/2008 14:55
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Planícia
 

uau! preciso de um tempo para pensar...
ainda vou reler algumas vezes...
obrigada pela mensao...
abs

Planícia · São Paulo, SP 14/9/2008 22:52
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DECRÉPITA BÚSSOLA
 

UM POEMA BEM CONSTRUIDO!!!MUITO BOM!!!ABRAÇO E BOM DIA.

DECRÉPITA BÚSSOLA · Caçapava, SP 19/5/2011 10:00
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André Teixeira
 

Salve DB! Obrigado pela presença & comentário, bem como aos demais... Compilei um livro com todos os poemas que publiquei no Ovemrundo 'poe-mails' pode ser baixado aqui: http://www.overmundo.com.br/banco/poe-mails-poemas-paridos-no-meio-ambiente-digital

André Teixeira · Aracaju, SE 19/5/2011 15:51
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