Confissão

Não é muito tudo o que faço, confesso
para que ao menos um sobrolho fugaz tu me dediques
e quiçá eu não tenha sido mesmo convincente como o quisera,
mas nunca me culparei de não ter-me exigido tanto
e quis tanto,tanto, que nem sei o quanto poderia não querer.
A única culpa que eu carrego dilacerando a alma
é a de não ter tido coragem o bastante para tomar-te
não menos que a fera selvagemente esfomeada
sem domínio sobre os próprios atos
nem tanto como a brisa fagueira que toma a si a flor esquecida
em meio a relva orvalhada de uma manhã displicente...
Eu me dera completamente
à causa de ter-te em mim para sempre
e fui-me esgueirando pelas sombras que as sinuosidades de teu corpo
projetavam além do que eu não conseguia enxergar
e te fiz deusa
numa imaginação psicodélica de quem vive fora de si mesmo
e por fim te fiz tirana
e por mais que eu suplicasse o ódio capaz de desfazer-te em mim
tanto mais eu te quis...
Hoje, vendo-me refletido nos cacos de um prisma imaginário,
não me reconheço de tão distante em mim mesmo
e sequer posso contar as priscas
que refazem a sinuosidade de meu semblante.
Eu te fiz o precipício
e de mim fizeste a argamassa de teu orgulho.