CRESCER É PERIGOSO!
Bentinho foi um dos primeiros moradores da vila. Quando sua famÃlia mudou-se para lá, além de sua casa havia apenas mais quatro ou cinco. As recordações que ora me vêem datam de nossos sete anos de idade até os...
Bem vou contar aqui nossa história e haverá momentos que terei que introduzir trechos inventados por mim porque minha memória certamente, não me será tão fiel, além de a vida nem sempre ser tão interessante quanto o que se imagina dela.
- Nossa vila era formada por quatro ruas, minha casa ficava na rua central, a rua das Pitangueiras, que saÃa da principal rua do bairro e terminava na rua dos Coqueiros onde morava o Bentinho, formando um T. O final desta rua, pelo lado direito, fazia esquina com uma rua sem saÃda que terminava no quintal de uma casa cujo terreno tinha um enorme pomar onde goiabeiras, mangueiras, ameixeiras, limeiras, amoreiras, touceiras de canas de açúcar, etc. adoçavam, de acordo com a época do ano nossa, infância de moleques da periferia. Ao longo desta mesma rua pelo seu lado direito havia um enorme barranco que limitava nossa vila. Lá em baixo vÃamos a principal rua do bairro ao lado e uma enorme fazenda onde costumávamos ir buscar nossas pipas, quando as perdÃamos para cortantes melhores que os nossos, outra coisa que gostávamos de fazer era ficarmos sentados à beira do barranco contando os carros que passavam lá embaixo, meu amigo Bentinho sempre ganhava, pois escolhia os fuscas, enquanto que para mim sobravam as brasÃlias ou as kombis.
Nas manhãs úmidas pelo sereno da noite, após devorar a metade de uma bengala com manteiga e um copo cheio de café preto, saÃa e encontrava-me com meu melhor amigo. Portando nossos estilingues corrÃamos ao pomar. Ali costumávamos nos lambuzar com todas as frutas da estação e depois de uma preguiçosa conversa à sombra do abacateiro, resolvÃamos ir caçar passarinhos. Então se iniciava a mesma discussão de sempre:
- Vamos matar umas rolinhas, dizia eu, no que respondia o Bentinho: - De jeito nenhum, ta doidão? Uma pedrada de estilingue e você acaba com o passarinho, temos que pegá-lo vivo; vamos fazer uma arapuca.
Na verdade eu concordava com meu amigo, porém o fato é que eu nunca fui muito bom em construir arapucas e também não tinha muita paciência de esperar o bicho cair ali, isso quando caÃa; além do que na maioria das vezes, ou melhor, sempre soltávamos nossas presas. Não tÃnhamos coragem de fazer nenhuma maldade com os bichinhos.
- Orra meu! Pega uns paus mais redondinhos, estes estão muito tortos e cheios de nós. - Bentinho sempre foi exigente – Depois o bichinho foge por entre os vãos e você fica aà reclamando...
- Estes estão bons? Acho que deve ter pra mais de vinte e todos bem roliços.
- Tudo bem! Respondia ele e emendava: - Trás o barbante pra montarmos nossa arapuca.
Depois da aula encontrávamos novamente e Ãamos correndo verificar nossa armadilha. Inacreditavelmente daquela vez pegamos um coleirinha, foi uma festa, pois era uma raridade. Seria assunto para o resto do mês, mas não teve jeito, na primeira noite encontrei meu amigo junto à gaiola.
- O que você está fazendo?
- Você sabe, e não fica me olhando com esta cara, me ajude a soltá-lo, vamos... – Lá se foi nosso coleirinha... – Passarinho nasceu para voar alto, não é mesmo Bentinho? E caÃamos na gargalhada.
Uma infância cheia de aventuras a nossa, pena que o tempo passa...
- Olá Bentinho, vamos descer juntos para a escola?
- Hoje não vai dar, vou resolver uma parada com uns manos.
Já fazia um tempo que meu amigo se envolvera com uns caras barra pesada lá da escola. Eu tentava de tudo para trazê-lo de volta para nossa turma, mas era em vão. O dia que descobri que ele estava usando drogas, chamei-o de lado e tive com ele uma longa conversa: Falei de nossa infância juntos, de como era legal nossa amizade e de que ele estava jogando tudo isto fora ao se envolver com aqueles caras. – Que nada meu. Você está com inveja, ou pior está com ciúme. Sabe que as minas vivem no meu pé enquanto você só tem aquele bando de babacas... – Eu percebi que o Bentinho estava tão chapado, que não adiantava discutir com ele naquelas condições. – Tudo bem meu. Desculpe me intrometer, manhã agente se fala. – Faça o seguinte mano, estou em outra e nessa você está fora. Esqueça-me.
Voltei para casa abatido e tive pesadelos horrÃveis à quela noite. No dia seguinte, ao chegar à escola, encontrei o maior reboliço junto ao portão de entrada.
- Ele tinha apenas treze anos, era uma criança – Gritava desesperada uma mulher. – Eles o mataram. Assassinos, assassinos!
Eu não quis acreditar, quando ela envolveu-me em seus braços e se pôs a soluçar e chorar como uma criança perdida.
Era a mãe de Bentinho. Ela me abraçou tão forte que eu sentia dificuldade de caminhar, enquanto voltamos para sua casa.
Li, num site da internet, um aviso importante quando procurava maneiras de otimizar e aumentar o tráfico de visitas em meu blog: "Não publique textos longos...â€
"Mais como sou teimoso bato neste da.....qui!"
Meu blog.
"A vida na perifa é cruel, se neguinho vacilar, dança!" Frase muito usada nos anos 70/80.
A partir dos anos 70 a periferia de São Paulo passou por uma profunda mudança. Deixou e ser uma "quase" cidade interiorana para servir de bairros dormitórios. O "progresso" chegou rápido, atropelando valores e violando ingenuidades...
A “bandidagem†se instalou por ali para corromper nossas almas de crianças, e a ROTA, polÃcia tão absurdamente defendida por alguns à época, não perdoava. Dizia-se de suas intervenções: A ROTA mata primeiro, pergunta depois.
Robert, pô cara, cê ainda fala que eu sou bom pra contar causos? Ce nao contou, ce passou um filme...Parabens amigo, beleza pura!
victorvapf · Belo Horizonte, MG 16/5/2008 21:51E tem mais: Nao e' qualquer um que escreve textos longos e e` lido nao. Voce sabe prender o leitor do comeco ao fim e ainda quem le fica com vontadade de querer mais... abracos
victorvapf · Belo Horizonte, MG 16/5/2008 21:58
Grande Victor!
Agradeço as palavras de incentivo e obrigado por ler e gostar.
Forte abraço.
Um conto que enche a mente de criatividade e fantasia.
Boa, Robert! - é sempre bom te ler.
Abçs.
Roberto,
Essa tua história me arrepiou, sério mesmo.
Já perdi um grande amigo assim, pras drogas, também tentei trazê-lo de volta, mas as pessoas são livres para traçarem seus caminhos, nós, eu e afamÃlia, e outros amigos, o perdemos tristemente.
Belo texto, apesar de ter me feito voltar a uma triste história minha.
Um abraço.
maravilhoso seu conto meu amigo.
Triste quando perdemos alguém para a droga ou para qualquer outra situação.Maravilhosa sua forma de abordagem.
Voltarei.
Abrindo sua votação.
Um grande abraço.
Muito bom o seu conto.
Infelizmente, às vezes é muito alto o preço que se tem que pagar para o que chamamos progresso.
Um abraço.
Robert.
Um conto excelente, verdades da vida retratadas em bela escrita.
ler o que escreves, parceiro, é sempre uma surpresa para a alma.
tristes ou felizezes, não importa.
Abraços
Noélio
Muito bom o seu conto, Robert.
É uma pena mesmo que se "cresce". É tão bonito ser criança.
Abraços.
Olá.. pois é, atuando junto a crianças e adolescentes em risco, hj vivi uma estória sem o final do seu conto. Ela de treze, drogada, prostituida e talvez até já assaltando, com rosto de menina. A conheci ainda limpa, menina carente e lindinha. Conversamos rapidamente, ela estava chapada. É de fazer chorar. Abraços.
analuizadapenha · Natal, RN 20/5/2008 18:14Uma pena perder amigos assim...mas a gente só lembra do lado gostoso mesmo, enfim ele era uma criança...Bem real em todas as esquinas, escolas, meio fio...barranco da vida...Belo conto...ab
Cintia Thome · São Paulo, SP 21/5/2008 18:52
Puxa vida rapaz que estória triste amigo, o texto está uma maravilha.
Eu adorei mesmo. Meus sinceros aplausos e abraços.
Carlos Magno.
muito bom seu conto! um abraço
fatima queiroz · Santos, SP 22/5/2008 03:01
Olá Benny!
Obrigado pela visita e comentários. Saber que meu texto produziu este resultado em sua mente me enche de alegria e satisfação.
Forte abraço.
Olá AbraAo!
Fico feliz por ter te sensibilizado. Os sentimentos quando se nos afloram sejam de alegria ou tristeza nos fazem sentir-nos mais sensÃveis à s coisas do nosso mundo, não é mesmo?!
Abração.
Oi Clara!
Maravilha sua intervenção. Deixou-me bastante feliz.
Um beijo.
Oi Sônia!
É isso mesmo. A vida em sociedade tem seu preço, e nem sempre podemos escolher o que comprar, por vezes “somos compradosâ€.
Um beijo e grato pela visita.
Olá Noélio!
Sua presença é sempre um regozijo para a alma de que escreve. Obrigado pela força.
Um forte abraço.
Olá V@nder!
Realmente, quando crescemos nós é roubado nosso maior tesouro, a inocência. Isso pode ser cruel.
Abração!
Oi Ana!
Ter contato com uma criança nestas condições é realmente de partir o coração e de nos fazer refletir muito sobre a sociedade que cultivamos, não é mesmo?!
Beijoão.
Oi CÃntia!
Que bom que veio. Infelizmente você tem razão esta situação é bem real e cotidiana ainda nos dias de hoje. Parece que nunca aprenderemos como construir uma sociedade sem este lado obscuro, não é mesmo?!. Porém como você disse vamos lembrar do lado gostoso...
Um Beijo.
Grande Carlão!
Fico muito feliz de te ler por aqui...
Um forte abraço.
Oi Fátima!
Prazer tê-la aqui, Estou feliz pelo fato do texto ter te agradado.
Um beijo.
Robert Portoquá · São Paulo (SP)
CRESCER É PERIGOSO! - Breve Conto
Este Texto é a mostra de um livro pronto. De um Projeto em condicáo de ser apresentdo. Um trunfo do Batalhador.
Gostei muito já confiava no seu potencial, agora, fico feliz por ter bala na agulha.
Muito bom.
Deus esta Presente Sempre
Vooto de mérito
Olá Azuir!
Grato pelas palavras de incentivo. Sinto-me orgulhoso de ter comentários seus em minhas colaborações.
Forte abraço.
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