Lá pelas bandas do Sertão, bem num vale que era cortado por uma antiga estrada de ferro abandonada, ficou registrado na mente dos moradores o triste caminho que duas amigas resolveram tomar. A história foi assim:
José Lucas perguntou para o trocador do ônibus onde era o ponto principal para ele descer e começar seu trabalho naquela cidade. Ao descer viu que estava diante de uma pracinha que lhe chamou a atenção. Além do cheiro bom que exalava do canteiro de "Damas da Noite", pode ver que na praça tinha belas morenas que olhavam meio de banda todos que desciam do ônibus. Como tinha poucos rapazes na cidade, as moças, depois da aula, desciam todas refesteladas na esperança que Santo Antônio mandasse no ônibus, um moço bom e bonito para casar com elas.
Toda tarde Marta e Lúcia, como de costume apareciam na praça para tagarelar com outras amigas. Não deu outra, seus olhares se encontraram com o de José Lucas que, achando um pretexto para se aproximar das duas, perguntou por um hotel mais próximo. Conversa vai, conversa vem, combinaram um encontro para mais tarde.
Na cidade tinha um local pouco recomendável e "moça direita" não ia lá de jeito nenhum. Era num topo de uma montanha que tinha uma vista linda. Nas noites de lua cheia era mesmo uma magia estar lá no alto vendo aquele luão. Até hoje se quizer ficar falada na cidade é só fazer um passeio por lá. E foi justamente nesse lugar mágico que Marta e Lúcia levaram José Lucas para um passeio. No dia seguinte a fofoca estava correndo pela cidade e até o padre falou no altar, na missa das sete, onde toda a sociedade estava presente. Causou tanto mal nas moças que elas não deram conta da cobrança dos pais, do padre e da sociedade. Sentindo o preconceito moral na alma, um turbilhão de medo e vergonha, passaram na venda da esquina, compraram uma lata de veneno e sumiram do mapa, deixando nos corações dos pais, amigos e todo o povo da cidade grande amargura e quem sabe até culpa.
Bem, quarenta anos se passaram... Marcos, um apicultor da cidade foi em Belo Horizonte enviar seu mel para BrasÃlia. Enquanto esperava o Ônibus para despachar o mel ficou conhecendo um senhor, por sinal muito simpático. Quando Marcos falou o nome da sua cidade, o senhor assustou e contou sua história. Era o próprio José Lucas. Na época saiu corrido da cidade, pois teve medo de ser envolvido no terrÃvel acontecimento. E falou que nunca tinha conhecido moças tão alegres, tão educadas e que não chegou a tocar num só fio de seus cabelos. O pior que até hoje ninguém sabe nada disso. O que tem registrado na mente do povo do lugar é que elas teriam feito algo muito errado para acabar com a própria vida. Voltando a dias mais recentes, no alto daquela montanha foi e ainda é palco de encontros mágicos que valem à pena dar um passeio por lá. Até hoje para alguns pais "minhas filhas não vão lá", mas todos os jovens gostam de sentir envolvidos pela magia deste lugar. Marta e Lúcia devem estar por lá, talvez felizes por sentirem que as mentes evoluiram, cresceram e muitos preconceitos foram banidos.
um conto e tanto!muito bom mesmo!!
é história ou estória??
parabéns!!!
abraços,
André, é uma história verÃdica. Que bom que voce gostou! Um abraço.
anamineira · Alvinópolis, MG 12/8/2007 22:00
Ana,
Um conto muito bem contado!
Parabéns menina!
Um aBRAÇO, Marluce
Gostei muito Ana! É um belo conto - e retrata a mentalidade da época. Esse tipo de preconceito chegou a causar não poucas tragédias.
Um abração!
Baduh
Que coisa triste Ana!
Eu também cresci numa cidade do interior goiano, cheia de histórias de pessoas que tiveram que conviver com as maledicências alheias. Para algumas a saÃda acaba sendo trágica.
Para outras, a liberdade custa caro, mas chega.
Parabéns pelo texto!
Marluce, muito obrigada pelo comentário. Um abraço amigo.
anamineira · Alvinópolis, MG 15/8/2007 14:32Baduh, obrigada pela visita. Seus comentários são bem vindos. Um abraço mineirado.
anamineira · Alvinópolis, MG 15/8/2007 14:35Roberta, essa tragédia foi mais ou menos cinquenta anos atrás (1960). Famosos anos dourados. Anos conturbados pela vontade de fazer tudo sem muita repressão dos pais e sociedades. Já na minha adolecência, em 1970 fui uma das primeiras garotas a sair de Alvinópolis para fazer cientÃfico (antes era esse nome dado ao segundo grau) aqui em Belo Horizonte, você nem imagina como causou fofocas e ainda deixei meu namorado pra trás. Com minhas amigas foi a mesma coisa. Fiquei feliz pelos comentários. Obrigada.
anamineira · Alvinópolis, MG 15/8/2007 14:48
Essa história me lembrou uma trovinha que por esquecimento fiz uma adaptação:
A agua do cume cai
A agua do cume desce
"Arrasta tristezas e magoas
E depois desaparece!"
AZn 666, é isso mesmo. Coração da mineira se alegrou com sua visita. Obrigada. Abraços...
anamineira · Alvinópolis, MG 15/8/2007 17:43
ANA,
que conto maravilhoso. Acho que as duas moças, coitadas, devem estar felizes pelas mudanças de mentalidade... pena que sofreram pagando com suas próprias vidas.Eu gostei de acompanhar a narrativa, isso conta muito no conto.
Abçs de Betha.
Seu comentário foi muito valioso. Me incentivou a escrever. Estou começando agora, é um sonho antigo que está se tornando real. Muito obrigada. Um doce abraço pra você.
anamineira · Alvinópolis, MG 16/8/2007 09:51A culpa é da hipocrisia de todos aqueles que adorariam visitarem a mágica montanha. Meu saudoso pai dizia:- Filho: essa gente fica execrando os outros com falsos moralismos, dizendo que antigamente era diferente, na verdade era bem melhor, porque agente namorava na rede ou no mato. Beijos
Falcão S.R · Rio de Janeiro, RJ 3/5/2008 00:14Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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