DEKASSEGUI

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Roberto Maxwell · Japão , WW
25/8/2006 · 117 · 13
 

Quem mora fora de São Paulo (ou de regiões sem a presença do imigrante japonês no Brasil) conhece pouco sobre o movimento de dekassegui. A raiz dele está, ainda no século XX, quando a primeira leva de japoneses aportou no Brasil.

Quase 100 anos depois, o Japão modificou as leis de imigração permitindo a entrada, com visto de trabalho, de descendentes de japoneses que haviam nascido em quaisquer outros países. Coincindiu de, no Brasil, estarmos no auge da crise do Governo Collor que confiscou parte da poupança nacional, gerando um caos econômico e social. Foi nesse período histórico que o movimento dekassegui tomou força.

Dekassegui, em tradução livre, significa "o trabalhador sazonal, aquele que migra pelo trabalho e retorna a seu local de origem após um tempo". Inicialmente, era essa a proposta dos descendentes de japoneses que vinham do Brasil e do Peru, principalmente, para o Japão. No entanto, apesar desses imigrantes brasileiros viverem no Japão em condições econômicas muito melhores que aquelas nas quais viviam em seu país de origem, uma série de questões como xenofobia, baixa auto-estima, trabalho excessivo, desconhecimento do idioma têm gerado sérios problemas de convivência entre brasileiros e japoneses.

DEKASSEGUI - o filme - é um ensaio poético-documental sobre os primeiros momentos de um imigrante brasileiro no Japão. O vídeo é dividido em duas partes: uma encenada na qual o ator Marcos Takeda vive um trabalhador imigrante no Japão que é "perseguido"
pelos sons e imagens da língua japonesa. Seu cotidiano normal é afetado por essa língua que ele não conhece. Na segunda parte, que entra com os créditos, Takeda dá um depoimento sobre a sua história como dekassegui.

O vídeo foi inteiramente gravado no Japão, com uma equipe reduzida, formada por alunos da Universidade de Shizuoka, onde estudo. Os alunos se organizam em um clube de cinema onde são realizados filmes coletivos e autorais, com custo baixíssimo. Não existe função definida e os membros se desdobram em todas as áreas, colaborando nos filmes uns dos outros.

O vídeo foi gravado em dezembro de 2005 e foram mais de dois meses para que eu, que jamais havia editado nenhum trabalho, conseguisse dar forma ao material captado. A edição de imagensfoi relativamente fácil, visto que o vídeo fora bastante decupado - os planos bem definidos antes da filmagem, sem espaço para takes improvisados. Quanto à encenação, consistiu em cenas externas que que representam o caminho de casa para o trabalho. As internas que representam o refúgio do lar, onde os sons e imagens ficam fora, mas as emoções, sempre contidas, estão na cabeça e escapam.

O segundo momento foi a busca de material de áudio que pudesse dialogar com as imagens. Aliás, cada vez mais parecia que era o áudio quem levantaria as questões que o filme se propunha a discutir: a identidade do brasileiro descendente de japonês, a solidão na cidade, os sons e imagens incompreensíveis da língua japonesa, o refúgio no silêncio. Foram alguns dias com a câmera e o notebook em punho pesquisando os sons mais característicos da urbanidade de uma cidade de porte médio.

Ao longo dos dois meses de edição, a imagem foi sendo enriquecida com os sons e sendo alterada por eles. No final, o material montado já não era mais o mesmo. O som havia gerado novas necessidades na imagem, além de ressignificá-las. Nesse momento que entrou o haiku de Matsuo. Da mesma maneira ocorreu a absorção do Setsubun, um ritual de purificação xintoísta, popular no Japão.

O resultado tem pouco menos de 11 minutos e meio de duração e
licenciado em Creative Commons Atribuição Não-comercial.

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Embutir



informações

Autoria
roteiro, direção, produção, captação de som e edição: Roberto Maxwell
Ficha técnica
Gênero: Ficção/Documentário
Duração: 11 min 19 seg
Suporte: mini-DV
Idiomas: português e japonês
Direção, roteiro, produção e edição: Roberto Maxwell
Direção de fotografia: Ryo Goto e Hiroya Tokumoto
Assistente de direção: Jessica Cahill
Elenco: Marcos Takeda

Agradecimentos; Shizuoka Daigaku Eiga Kenkyubu, Fernando Okada, Hamilton Oshiro, Tomoya Ohata, Prof. Hiroko Kumai, Prof. Rie Ohsaka, Prof. Kanako Suzuki, Prof. Taeko Urushibata, Prof. Kayoko Matsuo, Prof. Itsuo Harasawa, Prof. Sachiko Misawa, Prof. Hiroko Nakazato, Ryotaro Sakamoto, Dan Takayama, Yusuke Miyazaki.

comentários feed

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ronaldo lemos
 

Roberto, fantástico o filme e a sua contribuição! Acabo de assistir e fiquei muito impressionado. A única dica é que o arquivo do filme está vindo no formato .m4v. Muita gente pode ter dificuldade de vê-lo nos players normais. No entanto, recomendo baixar o player VLC através do seguinte link. O VLC é um player universal (aliás, quem não tem ainda não sabe o que está perdendo!). Ele toca o arquivo sem nenhum problema. Enfim, uma vez mais aproveito para dizer que o filme é demais e é esse tipo de contribuição que abre os olhos para nossas visões sobre o Brasil e o brasileiros.

ronaldo lemos · Rio de Janeiro, RJ 23/8/2006 08:18
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Roberto Maxwell
 

Ronaldo, qual o formato que vc me indicaria? Posso colocar em outro formato mov ou mpeg. O tamanho do arquivo eh que seria muito maior... Mas, a ideia eh mesmo socializar.

Roberto Maxwell · Japão , WW 23/8/2006 11:32
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ronaldo lemos
 

Pois e', o ideal seria colocar em XVid (que e' o formato aberto do DVix), mas da' um trabalhinho para converter. O meu filme (Anna Livia) eu optei colocar em MP4, pela facilidade de conversao e bom tamanho final do arquivo. A unica coisa e' que o arquivo passa a tocar pelo iTunes da Apple, mas a vantagem e' que ele tambem vai direto para o iPod video. Espero ter ajudado!

ronaldo lemos · Rio de Janeiro, RJ 23/8/2006 22:09
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Roberto Maxwell
 

0 m4v eh exatamente esse tipo de arquivo que toca no iTunes e vai direto pro iPod.

Roberto Maxwell · Japão , WW 23/8/2006 22:21
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ronaldo lemos
 

Blz, entao tá tudo certo (o problema deve ter sido o meu iTunes que não reconheceu!)

ronaldo lemos · Rio de Janeiro, RJ 24/8/2006 02:45
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Roberto Maxwell
 

Sera, Ronaldo, que o formato m4v soh roda em computadores macintosh? Se bem que, atraves do site iTunes, os videos sao vendidos nesse formato. Ou sera que os videos me foram vendidos nesse formato porque eu uso MacOSX? Sera, ainda, que o iTunes precisa ser configurado para ler o formto m4v? Bem, o tempo de edicao acabou, mas gostaria de compartilhar outros arquivos pelo Overmundo e queria usar o formato mais adequado. Obrigado pelas orientacoes.

Roberto Maxwell · Japão , WW 24/8/2006 03:55
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ronaldo lemos
 

De qualquer forma, é só usar o VLC que está tudo resolvido! Abs!!

ronaldo lemos · Rio de Janeiro, RJ 24/8/2006 17:48
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Barba
 

Gostei bastante. (Consegui rodar o vídeo no QuickTime.)

Barba · Belo Horizonte, MG 25/8/2006 12:42
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JSaboya
 

Parabéns por sua sinfonia, Roberto! Foi remissivo para a viagem de volta que fiz lembrando-me de Hopong, Shinjuku e cenas de sua sacada que lembram Hokaydo, quando estive na JICA, estudando na NHK. Você conseguiu mostrar e sonorizar o sentimento brasileiro no Japão. Parabéns! PS. Sem consegir o plug-in, segui o seu conselho para ver sua obra. Obrigado.

JSaboya · Rio de Janeiro, RJ 26/8/2006 17:02
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Julia Levy
 

Oi Robeerto, gostei muito do seu filme! Parabéns!
A estética dele me lembrou um pouco uns filmes japoneses que vi no Fest Rio do ano passado; filmes do Ozu, o "Cafe Lumiere", etc. Muito interessante.... Vc pensa em inscrevê-lo em algum festival? Boa sorte com a carreira do filme.

Julia Levy · Rio de Janeiro, RJ 15/9/2006 13:39
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Henrique Alqualo
 

Realmente adorei o seu filme, ele expressa o sentimento do personagem que se encontra fora de sua pátria, também achei bastante interessante a idéia de misturar os créditos com o filme. Boa sorte na carreira.

Henrique Alqualo · Rio de Janeiro, RJ 16/10/2006 19:05
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carlos magno
 

O trabalho é muito interessante, eu achei ótimo, Roberto. Parabéns.
Carlos Magno.

carlos magno · Rio de Janeiro, RJ 20/5/2007 20:52
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Roberto Maxwell
 

Valeu, galera, pelas mensagens. Fico feliz de que as pessoas aqui tenham acesso ao filme. Ja que recentemente, um festival que eu considero muito importante deixou de exibir a obra. Alias, ela nunca foi exibida em SP, onde ha um grande numero de descendentes de japoneses, muitos deles com a experiencia de viver no Japao.

Roberto Maxwell · Japão , WW 21/5/2007 00:08
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