Lúcia desligou o telefone celular suavemente e caminhou até a cadeira. Sentou-se muito devagar, como se pudesse cair a qualquer momento. Sentiu o corpo pesado e a cabeça girando. Por dentro tremia inteira. Por fora turvava tudo. Meia hora depois a sensação sumiu e durante o tempo em que permaneceu dolorosamente imóvel lembrou de tudo - ou quase tudo - o que havia sido relevante em sua vida de casada.
Lembrou que completou 17 anos no dia do noivado, do bolo de casamento com tantos andades. Lembrou do vestido ainda guardado no armário cheirando a naftalina. Lembrou da moça que pegou o buquê e morreu em um acidente antes de terminada sua lua-de-mel. Teria sido aquilo um aviso, um sinal? Por que nunca havia pensado na moça do buquê em todos aqueles anos? Vinte e cindo no próximo mês. A festa de prata toda organizada. E agora, cancelar ou deixar acontecer primeiro? Vinte e cinco anos passados desde a morte da moça e nunca pensou nisso até agora. Qual era o nome dela mesmo? Convidada de quem? Não conseguia lembrar. Morreu sem usar a sorte que lhe conferiu o buquê.
Lembrou de CÃcero sorrindo aos pés do altar. Lembrou que tremia enquanto andava conforme o ensaio pela nave central. Pensou em desmaiar. Lembrou do beijo na testa que ganhou do pai orgulhoso. Lembrou que esteve feliz mesmo durante os tempos difÃceis pelos quais todos os casais passam. Lembrou do trabalho duro, da compra da casa e da reforma. Lembrou da primeira viagem e de todas as que se seguiram. Lembrou da admiração que causavam quando passavam com as filhas. Dos conselhos dados aos infelizes com toda a autoridade que acreditava possuir por ter corrido tudo bem.
Lembrou do compromisso e da entrega. Lembrou das juras, promessas, dos brindes e abraços.Lembrou de tudo desde o começo até agora, o fim. Ainda bem que não havia ninguém em casa. Ninguém para ver aquela única lágrima que teimava em cair.
( continua)
Avise quando postar a continuação. Estou na espera.
Marcos Pontes · Eunápolis, BA 10/1/2009 22:37
Sabe Vanessa até hoje vendo o seu nome me lembro da viagem a casa dos avós, a irmã, a boneca...tinha uma boneca, não? Adorável esta tambérm! Vou seguir...
Beijos poéticos,
Nina, não tinha boneca mas é uma boa idéia. Estou escrevendo a continuação daquele conto da famÃlia e em breve publico no overmundo.
bjs
Alô a segunda parte já está em edição Desfazimento - parte 2
Vanessa Anacleto · Rio de Janeiro, RJ 13/1/2009 12:24Na expectativa da segunda parte ! emocionante ! Um beijo !
alcanu · São Paulo, SP 13/1/2009 16:30Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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