Desfazimento - parte 6

Lúcia chegou em casa no mesmo horário de sempre. Viu o carro de Cícero estacionado no jardim. Já estava em casa, logo sairia. "Trabalhava muito ultimamente". Como sabia que àquela hora as filhas ainda estavam na rua, respirou fundo e bateu a porta do carro. Encontrou o bom marido bebendo água na cozinha.

Para não perder o impulso disse, sem rodeios, que o casamento havia acabado, não sentia absolutamente nada por ele, exceto nojo. Que não, não havia outra pessoa. Que sim, tinha certeza do que estava dizendo. Que não, não voltaria atrás. Que sim, era sua última palavra. Que não, ele não precisaria ir embora, ela sairia. As filhas? Conversariam, como sempre haviam feito. Tudo se acertaria. Eram moças , amadurecidas para a idade. Se era só isso? Sim, exceto que ela passaria a dormir no escritório. Lúcia deixou Cícero parado com a porta da geladeira aberta e um copo vazio na mão.

Tomou um banho rápido e tornou a sair para buscar a mais velha no cursinho. Ela entendeu. A mais nova chorou baixinho e só. Dormiu como os justos a primeira noite sozinha e foi até a casa da mãe explicar sem detalhes o acontecido. Como não falou da traição do marido, foi incompreendida e sorriu. Trabalhou melhor do que nunca e jantou fora, para comemorar.

Fim.