Panorama, oeste paulista.
Cidade ribeirinha de terras arenosas e de dias e noites muito quentes.
E como é possível se entender a partir do próprio nome, um lindo lugar.
De natureza exuberante essa pequena cidade me proporcionou alguns momentos hilários e inesquecíveis. Como observar bandos de araras bem da varanda da minha casa ou tentar ler um livro embaixo de uma jabuticabeira repleta de papagaios beliscando as frutas ainda verdes.
Por cerca de um ano contemplei a paisagem do rio Paraná estampada bem de frente ao meu portão.
Observei o por do sol variando suas tonalidades no transcorrer dos meses e a lua mudando e refletindo sua mágica silhueta nas águas calmas do rio.
Mas nem a admiração que tenho pela natureza e nem a contemplação de tamanha beleza foram capazes de trazer paz para minha alma.
Quando eu olhava a imensidão do rio e meu olhar atingia até a outra margem procurando um repouso para as minhas inquietações eu me certificava da distância que estava de tudo o que me era familiar.
Foi aí então que compreendi todo o significado da palavra “desterro”.
Mesmo tendo nascido nessa região, toda minha bagagem de vida foi adquirida na capital paulista.
Um universo adverso a quase tudo que encontrei por aqui.
Pude refletir e compreender que a alma não encontra a “paz” somente por que contempla a poética mansidão dos dias tingindo o horizonte.
Meus anseios me conduzem à paz que tanto almejo.
E onde travo as minhas guerras repousa também a minha paz.
Por Cherry Blossom, 9 de abril de 2008
Estranho é o mecanismo que permeia nossas memórias.
Mesmo tendo já se passado algum tempo, quando contemplo essa fotografia tirada num mês de julho. Tenho a mesma sensação melancólica que tinha quando observava o rio ao cair da tarde. Daqui onde estou posso até sentir o frio entrando pelas sombras daquele começo de inverno.
Quando for embora do Oeste Paulista, além dessa crônica levarei comigo muitas lembranças e reflexões feitas sobre nossas escolhas de vida.
Cherry, boa noite.
O que é a vida senão uma sucessão de escolhas, n'algumas acertamos, notras erramos, mas é preciso seguir.
Já me vi longe da minha família e amigos por mais de uma vez, mudando de cidade por motivos justificáveis e variados, mas que no fundo carregavam a minha ambigüidade, então, por mais que as paisagens fossem assim belas, como esta que você nos brinda, os anjos e os demônios, as guerras e a paz, continuavam dualizando a minha vida.
Belo teu texto, me trouxe lembranças e lembanças.
Parabéns e um beijo.
Cherry, estranhos nossos caminhos, às vezes estranhas as nossas escolhas. Muitas vezes nos sentimos estrangeiros em nossa terra e nem a beleza da paisagem nos deixa satisfeitos. Mas a beleza permanece em nós.
Beijos.
Cherry, que surpresa maravilhosa essa sua crônica de relflexões. Inspirou-me o que tentamos buscar, se eu não interpretei mal, o nosso próprio ser. Que está escondido entre várias camadas que não são próprias...A natureza é um conforto para quem se busca e fonte de inspiração para se encontrar. E compartilhar isto é sagrado!!! Obrigado por seu desapego. beijos.
Cristiano Melo · Brasília, DF 2/6/2008 21:41
Cherry, gostosa crônica dos dias lindos, lindíssimos à beira-rio, junto à natureza. É belo também reconhecer que o campo de batalha pode ser um lugar de paz. Estamos em paz quando nos encontramos com nós mesmos, não é? Salve!
Beijos.
Abraão
Essa batalha entre anjos e demônios. As guerras e a paz parecem ser uma constante no intempestuoso universo de quem escreve. O desejo de alcançar novos horizontes nos faz ultrapassar fronteiras ainda que meramente poéticas. Li apenas três textos teus e ainda não percebi traços regionais no que li. Eu acredito que eles estejam dentro de você assim como os meus estão em mim, mas há tantas outras vozes, tantos outros clamores...
Obrigado pela leitura e comentário.
Beijos querido
Sônia
Às vezes é preciso se perder para poder se achar. Pra ter certeza do que se deseja. Apesar das angústias e da distância esse tempo trouxe crescimento em mim. E na memória levarei belíssimos panoramas do que vivi por aqui. Você viu o tamanho do Paranazão agora. Ficou uma imensidão, a balsa agora sai em Paulicéia e pra gente alcançar com os olhos Brasilândia é preciso usar binóculo.
Beijos querida
Boa noite, Cherry. Bem me disse lá, que eu viesse por um presente que me dava. E assim foi, que essas fotos são lindas demais. São grandiosas. Esse Rio Paraná eu ainda não conhecia nem por foto. Naveguei por ele somente pelo Google Earth, rs, e por lá fazia idéia dessa grandeza. Mas nunca é como quando se vê, mesmo que não seja sentado no barranco. rs. Agora quanto ao céu eu o trago em minha memória, nos azuis da minha infância. Quantas horas eu não fiquei olhando para ele e para uma pipa no ar que queria alcançar os altos cirros. Céu de muitas tonalidades de azul a depender da hora do dia e das núvens que passavam. Torreões de nimbos brancos contrastando na perspectiva o azul profundo. Azul celeste mais claro nas madrugadas frias. E esses crepúsculos de estrato-cúmulos esgarçados, que o incendeiam. Sua crônica também me fez lembrar dos bandos de periquitos que destruiam as painas e liberavam os flocos brancos que o vento ia levando.
Sua crônica é muito boa e traz uma mensagem que achei super legal: E onde travo as minhas guerras repousa também a minha paz., e assim é - Nós não vivemos de paisagens, mas vivemos de "pertença".
Obrigado pelos presentes e pelo convite.
beijos.
boa noite.
Cristiano
É meu doce Cris é isso aí! Como disse pra Sônia. Pra se achar é necessário se perder. É estranho sabe, quanto mais eu procurava a paz na beleza que me estava sendo oferecida, mais percebia as guerras dentro de mim.Hoje tenho a certeza que meu campo de batalha é outro e minha paz me espera também em outros lugares.
Do bom relacionamento que fiz com a natureza levarei o conforto de uma mão amiga que me ensinou o caminho.
Beijos e beijos
José Carlos
É estranha a primeira vista essa conclusão, mas sei que a paz estará lá me esperando. Acho que é esse sentimento que leva um homem a permanecer ou retornar pra sua terra sitiada pela guerra. Ele sabe que ao término descansará.
Obrigado e beijos!
Marco
Eu sabia que você iria gostar do presente! Você trás dentro de si uma verdadeira paleta de pintor tingida com esses tantos azuis. As variações dessa cor também são tantas dentro de mim que chegam até a ter cheiro e sabor. Quando vou para Panorama ou retorno de lá para Dracena, costumo inclinar um pouco a cabeça pra fora da janela do carro só para observar a azul do céu correndo. A sensação é a mesma que eu tinha quando era menina e brincando num balanço de corda inclinava a cabeça pra trás tentando ver o mundo correr de cabeça pra baixo... ahahahahah...Esse Paraná por causa da barragem hoje é uma imensidão difícil alcançar o outro lado com os olhos. Meu avô quando era vivo costumava levantar cedo pegar a balsa que antes saia de Panorama e ir até a outra margem no município de Brasilandia somente pra comprar carne fresca para o almoço. Isso quando ele não se decidia por ir pescar umas “loiras” (piaparas) nas barrancas do rio. E note só que interessante, aqui se diz “barranca”.... ahahah..eu como gosto muito de cozinhar até batizei um prato pra nunca me esquecer disso “pintado a moda da barranca” que se for feito com mandis pro meu gosto sai ainda melhor! Eh!!!! Coração viajante!!!!...ahahahah...
Beijos meu querido muito obrigado pela presença.
Escolhas... ou será para onde a vida nos leva em busca desta paz que você percebeu, só se encontra em meio à nossa própria guerra?
Essas imagens de "desterro", é interessante, não se vão de dentro da gente quando o que mais necessário é esquecer o que passou.
E. no entanto, é bela, com essa constante melancolia de todo pôr-de-sol.
beijos
oi cherry...as inquietações parecem ficar ainda mais afloradas em locais lindos...quase mágicos...como este que você viveu...e como é o lugar onde vivo...
daqui também acompanho as variações de um lindo por de sol...que nas diversas épocas do ano muda sua coloração...
o que é lindo nos deixa...talvez mais sensíveis...e mais angustiados...acho eu...em alguns momentos...
um beijo.
eu volto.
samuel
Saramar
Talvez por que não tenha vindo pra cá em busca de esquecer experiências ruins. Sinto-me mais como já disse acima como um exilado de guerra tomado da consciência que tem que quer voltar e resgatar o que lhe foi pilhado. Como o que acha nas ruínas a motivação e a força pra conseguir voltar e prosseguir. Contudo as palavras "desterro" e "exílio" são muito fortes, dilacerantes...
Beijos querida!
É Samuel... acrescente aí as inquietações da alma de quem escolheu o ato de escrever como forma de expressão. E todos esses pores do sol se tornarão tão intensos a ponto de serem verdadeiros cenários de "drama"...
Obrigado pela presença querido!
Beijos
cenários de drama
a tarde inflama
o sangue mais quente
cenas incandescentes
memória ardente
solidão infinita
tardes lindas trás seus traços
mais presentes
desnorteando a mente
Momentos intensos
Inquietação
Finais dos dias
Trazendo noites frias
Repletas de estrelas
À sua procura
continuação
um beijo cherry.
samuel
Oi Samuel,estou deixando meu carinho e votos.
clara arruda · Rio de Janeiro, RJ 4/6/2008 18:29
Samuel
............. nossa...... vou falar o que !
Não te falei sobre os efeitos dramáticos do por do sol...
Um beijo dourado nessa tua linda alma incandescente!
Clara
Foi pra mim o carinho e votos?...(tomara)...ahahah
Obrigado querida!
Muito lindo! Mais uma vez surpeendido, espero aprender muito com voces.
convido o a conhecer minha primeira colaboraçao no Overmundo. Espero que goste. Um abraço
http://www.overmundo.com.br/banco/tudo-que-ha-no-mundo
Cherry, Recordar é viver...
Quem não leva erm suas entranhas sensações estranhas de questionamentos interiores e sentimentos delicados ou toscos...?
Gostei do texto.
Beijos e votos
Cherry, muito boa a emoção que você me passou nessas tuas lembranças e reflexões.
Infelizmente eu não viajei muito em minha vida, porisso essas tuas emoções me emocionam pra caramba e pra você pode já até parecer "carne de vaca", a vida é mesmo assim, cheia de diferencinhas, né ?
Você nos passa mesmo muita emoção, a gente sente que é sincero
esse teu compartilhar, obrigado por nos mostrar algo tão maravilhosamente teu !
Um beijo !
votando cherry...
um beijinho
samuel.
iiiii....viajei...
já tinha votado...rsrs
um beijo mesmo assim...
É as vezes imagens do passado dão força e sustento quando estamos em neblina e fumaça, na correria. Parabens pelo texto.ab
Cintia Thome · São Paulo, SP 5/6/2008 19:30
Cherry querida, gosto desse seu jeito de narrar. Acho que além da vocação para a crônica, vc. poderia ir mais adiante com o conto, ou quem sabe um romance até.
Estou com novos poemas
http://www.overmundo.com.br/banco/tres-cantares-bacantes-e-outros-poemas-fesceninos
Beijos
Essa coisa absurda, o tempo, é o maior ladrão...e passaram-se dias que aqui estive, sentado no barranco onde se senta nas barrancas que bordam o rio. E vi as piaparas loiras, e o dourado ferroado a brigar na flor da água e a fazer assobiar desesperado a linha retesada que separa a vida e a morte - que vôo fantástico!... É dos meus tempos-mandi-chorão de tiete do Tietê, o sabor e o cheiro da peixada, pintado, pacu, piaba e do bagre papa-terra. O seu 'pintado a moda da barranca' é com certeza uma delícia - é um céu pintado no negativo do retrato, prateado com estrelas negras. rs. Interessante o seu relato de inclinar a cabeça no carro para ver o céu passar, no vai-e-vem do balanço que vira o mundo de ponta-cabeça... nas grandes cidades onde nem céu se vê. Foi nessa infância que aprendemos a olhar o céu e ainda hoje, nas estradas desertas, quando vou para a Chapada atravessando as caatingas sem umidade que tornam o céu mais transparente, paro o carro no acostamento, apago as luzes e fico ali até sentir medo por tanta grandeza, a admirar aquela imensidão, das estrelas aos 'sacos-de-carvão'.
Então Cherry, estou no encerramento do semestre na Escola e só hoje eu vim trazendo os votos.
beijos.
Muito bem escrito! By Ser Universitário
Rodrigo Siqueira O. · São Paulo, SP 9/5/2011 14:35Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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