Foto: Adida Fallen Angel/Flickr/Creative Commons
"OM MANI PADME HUM!"
(Salve a jóia que vibra no lótus)
Findo os meus dezoito orvalhos pêcos,
Porque engasgado de vieses
Desconectei-me do Verbo acreditar e, agora, aos quarenta,
Conectei-me de novo ao Vulto
Na busca do Sangue Derramado.
Não deparava
Deus de Deus havia anos.
Minha devoção
Resumia-se a expelir vômitos e anfetaminas.
Porque bêbado de lascivo poder,
Porque barbudo de corrupção e anginas,
Temia ser Deus de Deus;
Porquanto era a Pedra e não Eu
O próprio Deus de Deus
Em pessoa.
...................
Na verdade,
Nunca temi espumar
O gozo de Deus de Deus.
Creiam-me! Meus momentos com o Dito-Cujo
Sempre se sujeitaram a amolar canivetes de lágrimas,
A grelar sonhos de enxadas e suores,
A copular palavras sem nunca penetrá-las
E a negrejar pivetes de tênue esquina
Com passos e rejeitos desgalados...
Antes, fumar Deus de Deus,
Era como transpor à desmedida angústia,
De modo que, meu conhecer,
Prestava-se a orar imagens de corpos e baionetas,
A calcular milagres (?) de rezas pernetas
E de acreditar
Em seitas de fortunas e pranchetas:
Sobretudo certas seitas
De subornar exegetas;
Sobretudo imorais seitas
De fétidas sarjetas...
...................
Ai! Sempre repousei na fomedez das dúvidas
E na certeza de ser (Eu e a Pedra)
O Deus de Deus.
Porém, dado à redenção do olhar,
Coube a mim e não a Ela,
Ser o anjo de compungir meteorito,
Ser o frasco de sorver e baldear sexualmente
As incredulidades noturnas.
Porque antes, sendo Deus de Deus,
Coberto de lamas vaginadas,
Estava forçado pelo vômito do querer,
A morrer de mãos dadas
Com as virgens beatas despossuÃdas.
...................
Além do mais, apostava
Que Deus de Deus
PossuÃa extrema coragem de matar,
Que de Deus de Deus
Devastava rios de sonhos
E se desfizesse em sangue sob a rala maquiagem
Dos nossos esfomeados encantos.
Sempre cri que fé
Soar-se-ia a mim e não aos céus
Como se prendêssemos Deus de Deus
Às gaiolas dos padres,
Às máscaras dos broxas,
Às flôres dos natimortos...
Cujo amor camuflado
Qual fechadura
Das têmperas entreveradas,
Soar-se-ia a mim e não a Deus
Como paternidade
Sem alva compostura.
...................
Mesmo que
Invejasse ser Deus de Deus,
Não era o que eu mais temia.
Minha piedade em mim
Resumia-se em fomes e guerras,
Em lúgubres enterros,
Em homens sem terra...
Já que, intuÃdo
A furar os meus olhos
Com alfinetes de inferno e céu,
Eu cria ser Deus de Deus...
E Deus de Deus,
Não haveria de me catar em bagos soluçantes
Como carniça humana,
Ou féretro congeminado
Caminhando em fina abstinência.
...................
Nunca temi ser
Como o aço das nuvens sem sexo,
Tampouco ser o próprio Deus de Deus.
Porque agora, Deus de Deus,
Obrigava-me
A copular
As selvagens orquÃdeas desmerecidas;
Obrigava-me agora, a ver
O gozo excitante
Das nuvens em descomunhão de idéias...
Porque, enfim, agora, “Acreditei-meâ€
E hoje, Creio-O.
...................
Deus... Deus...
Agora de posse do cajado eletrônico,
Não temo recusar o amor dos condenados,
Não temo expulsar
A loucura dos Deuses broxados...
Porque agora, Senhor, anexando-me a Ti,
Razão da razão,
Verbo do verbo,
O Teu fluÃdo há que alimentar
O meu cimo desconhecido,
O insustentável há de iluminar-me – e galar-me!
Daà Senhor, perdoe-me o gládio:
“Que dizer da saúde emprenhada
Dos fortes rochedos de nós?â€
A face — não!
Benny Franklin
Teogonista Benny, o olimpo estremece.
Face a face fica difÃcil de se encarar.
frente a frente com o eu-mesmo.
Volto e comento mais ao vo(l)tar
Benny!!!
Desde algum tempo venho comungando intimamente do ensinamento que oblitera em parte o sentido restante da BÃblia (em princÃpio alfabetizante fulcrado na Espiritualidade), atribuÃdo a Cristo: "VÓIS SOIS DEUSES". Em outras (minhas) palavras: Pois como disse um certo galileu, "Vois sois deuses".
Portanto, celebrando-me estarei, por conseguinte, celebrando deus também. Note-se também que com o poder de "ser deus" advém também, como disse certo amigo da vizinhança, 'grandes responsabilidades!!' ".
Comentário completo AQUI.
Cara, afluem também as linhas gerais do seu poema para o livro que recentemente tem me tirado o sono, 'Ascece', do Nikos Kazantzákis, cuja lápide, hoje, GRITA: "Não quero nada. Não tenho medo de nada. Sou livre."
'Poesofia ou Filoesia?' são os teus escritos?
Poesia e Filosofia emeiados com fina linha em bela estampa.
GRANDE abraço!!!
A.
André vc falou em Ascese do Nikos, aà me lembrei do Ascese MÃstica do Pietro Ubaldi que mistura ciência e filosofia/sabedoria/mÃstica.
Uma coisa leva a outra, esse poema do Benny faz pensar.
abraços
É bem verdade, Benny!
Basta crer que o céu já nos espera.
Em qualquer esfera, de qualquer cor e em qualquer dimensão
haverão deuses. E lhe digo mais:
Eu lhe abençôo...
Benny,
teu poema vasculha o universo da própria alma, teomancia promordial da existência, numa viagem mÃstica, quase teológica, pelos mistérios da criação. Poesia teogônica. A melhor que li.
Parabéns.
Um abraço.
não tenho " capital pensante " para oferecer qualquer comentário. apenas, receioso, compactuo com tua escolha ao final. Deus de Deus, apenas enquanto Nele não nos residirmos, fizermos morada e erigirmos sentido. Deus, como bem dizes tu, se compreendi bem, está nas pequenas centelhas de humanidade e até mesmo numa "esfácela" pedra a condoer-se de suas tamanhas e infinitas obrigações perante Ele.
belo texto!! ( grande reflexão )
abraços,
Benny, ainda não li seu poema. Agora, apenas uma observação: verifique o mantra. Todas as referências que tenho trazem OM MANI PADME AUM e não RUM.
Abraços,
Benny do céu!
O Vaticano te espera e a tua excomunhão também. Te imagino morando dentro de um livro sem letras, como castigo. Não vc não merece castigo e sim aplausos muitos.
Meadmiromideti.
Como diz meu amigo Dolzane, Carpe Diem
Benny, Benny, onde as palavras para dizer mais alguma coisa?
Deois da ponte que atravessei lendo esses versos, vejo-o do lado do Deus que sempre acolhe suas imagens dispersas pelo mundo.
Vou reler e depois tentar dizer alguma coisa.
beijos
Fantástico este teu reencontro com Deus, não o "deuses broxados" presos às "gaiolas dos padres", os deuses de "seitas de fortunas e pranchetas", sobretudo " de subornar exegetas", mas o Deus de Deus, SOBERANO CRIADOR INCRIADO, o Deus de "alva compostura"
Fantástico!
Olá amigo Benny,
gosto muito da maneira diferente com que você constroi e conduz seu texto poético e o coteúdo também é muito interessante. Meus sinceros aplausos e abraços.
Carlos Magno.
O homem jamais quer descobrir ou aceitar ser ele o próprio Deus de Deus. Seria refutar o que ele mais persegue: a eternidade. Se não a possui aqui, a projeta no Além, de conformidade com a idéia de ter que durar para sempre, pois é superior a tudo que na face da terra existe.
O seu grande calvário é, pois, a irrefutável constatação de ser igual a tudo que existe aqui: finito! Já o disse Schopenhauer, a despeito de seu pessimismo, que para a Natureza não interessa o espécime, mas a espécie. O espécime é finito, só a espécie sobrevive.
abcs Benny, bela poesia.
Benny
Mais uma jóia? E brilhante.
Envaidecida de conhecer este amigo...amigo de Deus.
Razão da Razão
Verbo do verbo
Só voce para definir erros e acertos do homem diante Dele.
Você é "o " Poeta. Modernismo ...agora já sabemos o significado rs. Bom demais.
OHF aplaude.
BENNY,
glória a Deus pela tua bendita inspiração!
Abçs de Betha.
Se é verbo, idéia foi.
Então, do criador a criatura à semelhança feito,
finita, o imagina infinito.
Imaginar o verbo ou é a tarefa da fé...
Ou do poema.
E bem o fizestes, Benny.
MetafÃsico Benny, que poema é esse? Uma mistura de Nietzsche com Fernando Pessoa e mais algumas doses Existencialismo sartreano...
Gostei muito.
Que catarse poética mais maravilhosa, Benny. Que talento incrÃvel. Parabéns.
Bel Fonseca · Belo Horizonte, MG 17/8/2007 18:21
Voltei e votei Benny.
Que os Deuses do Olimpo te ilumine!
abraços!
Amigo Benny.
O reencontro do homem com Deus é um risco de luz no universo. Isso é fé, Benny.
Forte abraço.
Noélio
Deus (?)
Fé (?)
Não ... Não o posso, não ainda...seja-o-teu!
Para ser arquivado e lido com muita calma!
Lindo texto, pungente...
Bjs
Cris
Caro Benny,
Poema devoto, poema ex-voto, pleno de votos.
Meu voto de Votto.
Abraço,
Aldo
Meu Deus!
Perfeito!
Como o Deus de Deus.
Abçs
Sander
Cada vez mais me sinto encantado por sua divina poesia existencial.
Um forte abraço
Deus de Deus...
Uma súplica, uma benção, um parceiro único.
GOSTEI E VOTEI
bj
Benny:
Diferentemente do recado que vc postou no meu perfil, eu ainda não tinha acessado aqui para ler este seu poema.
Ao fazê-lo agora, sinto nêle a expressão da vertigem que o componente mÃstico ancestral da alma humana provoca.
Tocado por ela, faço o cumprimento budista com as mãos postas, de encontro ao peito, que significa:
O Deus que habita em mim reverencia o Deus que habita em ti.
Um abraço.
Acrescentando:
Habita em ti, em mim e em todos nós, criadores e criaturas neste vasto Olimpo humano.
Benny:
Com um olhar mais atento, vejo a sacada genial que há no duplo sentido em "A copular palavras sem nunca penetrá-las", entendido o significado de cópula como: palavra que, numa proposição, exprime a relação entre o sujeito e o atributo.
Está aà uma daquelas pérolas de sentido a que me referi antes.
Um abraço.
A furar os meus olhos
Com alfinetes de inferno e céu,
Eu cria ser Deus de Deus...
Foram tuas palavras, poeta, que me trouxeram pra este excelente Overmundo. Obrigada por nunca esquecer-te de mim. Mais grata ainda fico eu, pelos teus poemas inquietos que desaguam dentro da gente.
Salve Beat Benny!
Voltei, obrigado pelo lembrete.
Os deuses hindus são os que mais se identificam com os movimentos
do mundo: o destruidor Shiva e o criador Brahma, vivem em ciclos
de caos e cosmos.
Seu poema retrata bem essa destruição e criação no lado humano.
A eterna luta entre o inferno e o céu.
Comer e ser comido por esse Deus interno e externo.
Um autocanibalismo cÃclico.
O teu poema é isso: Deus comendo Deus e arrotando Deuses.
A jóia do lótus esteja contigo.!
Amei...Repito aqui :amei sobre todas as coisas...amei as coisas e quero retornar para amar sempre sobre todas as coisas.
Cintia Thome · São Paulo, SP 24/10/2007 05:14Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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