Claro que há controvérsias, mas são doces estes dias de frio, se não chove. Tudo e todos se quedam mais recolhidos, menos afoitos. Reina um tipo de delicadeza. A delicadeza de falar mais baixo, de estar mais em casa, buscar aconchego, sair menos às ruas, especialmente à noite, ou de madrugada, reduzindo as chances de acontecimentos funestos. (Será que há menos crimes, nesses dias e noites? Será que criminosos não pensam melhor antes de sair para invadir, roubar, ferir? Talvez.)
O fato é que dessa delicadeza vem mais poesia, mais cuidado, mais olho no olho e intimidade, inclusive com as coisas nossas de cada dia. Mesmo que à força, olha-se melhor para dentro. Para dentro da gente, dentro de casa, dos guarda-roupas, das gavetas. E pensa-se nos outros que, se têm gavetas, agasalhos dentro delas não têm. E se constrange o coração de muitos, donde surgem doações, campanhas do agasalho, solidariedade, algum compartilhamento. Não se vê, no verão, distribuição de shorts, camisetas-regata, biquÃnis... Não se constrangem os corações pelo calor que os menos favorecidos andam passando, até porque onde não há o refresco do mar há o de um rio, cachoeira, piscina, tanque ou torneira, e muito menos se deflagram campanhas para doar refrigerantes, sorvetes, saladas... E isto pode embrutecer a gente.
Nestes dias frios há mais silêncio, mesmo de dia, inclusive da parte dos bichos, como se dessem trégua a correria e a barulheira, latidos e comparecimento de aranhas, baratas, formigas. O olhar é mais atento, menos disperso, mais perspicaz: sente mais. E sentar ao sol que não queima nem faz suar aquece também a alma, convida a sonhar, cochilar, namorar... Daà mais comedimento, menos espalhafato, mais elegância. Anda-se mais devagar, sempre que possÃvel, talvez para armazenar calor, e isto prolonga os passeios e as conversas, se se está em paz. Dá vontade mais vezes de arrebentar pipoca e tomar chocolate quente, de beber mais chá ou café, de assar bolo e pão, fritar bolinho, ficar junto, conversar. E de abraçar o cobertor que ficou quente, na janela (que delÃcia!) e aproveitar aquele trecho da cama (ou de qualquer outro lugar) onde o sol pega à tarde, ou de manhã, e sentar ali com um livro, esquentar os pés, as costas, chupar mexerica, lagartixar... Tão simples!
Aqui, nas montanhas, nem venta nesses dias. Lá pelas tantas pode passar, como em câmera lenta, uma nuvem leve, frisada e branquÃssima, muito alta, a lembrar os Alpes ou os Andes, talvez. E o céu é tão profundamente azul que parece ser ele o responsável pela quietude da vizinhança: talvez tenham parado um pouco para beber desse azul, desse sol ameno, do ar mais fino, mais limpo. Ou, quem sabe bordem mais, leiam mais, lagartixem mais? Também pode ser que se acovardem mais no sofá, diante da TV, encolhidos e tolhidos... cada um, um estilo.
Claro que pisar descalço no piso frio do box, no banheiro, exige um “plus†de disposição, e sair do banho quente e relaxante, ou da cama de manhã quase requer coragem mesmo, em pessoa, e digo quase porque não dá para esquecer do que requer verdadeira coragem nesta vida e que passa longe de tocar em metais e azulejos gelados! Esses pequenos sustos, quando nem 10º marcam os termômetros, compõem o lado ruim dos dias frios. Mas desgraça é outra coisa. Agradável não é lavar as mãos na água fria, ou tirar a roupa para entrar no banho, muito menos o são as tarefas dos que precisam mexer em água, e o dia-a-dia penoso dos desfavorecidos pela imprevidência própria ou alheia, mas tudo também faz parte. O nome do planeta é Terra, não Céu, o que faz da vida aqui um campo de provas. Com chances de pequenos e grandes prêmios. Felicidade completa, mesmo, só a dos bichinhos domésticos: pegam sol o dia inteiro, espalhados onde há mais calor, lânguidos e preguiçosos, se é que se pode – ou deve - atribuir a eles qualidades tão humanas. No inverno ou no verão.
Nesta minha terra já fez muuuuito frio, lá pelos idos dos '60 e '70, pra falar do que me lembro...
Mas, passa logo, hoje em dia, já que o aquecimento global atinge a tudo e a todos. Mesmo assim, há um perÃodo de bastante frio, inclusive com geada.
Talvez por conta de boas lembranças acho o inverno mais bonito que o verão. Daà a poesia remanescente, sem tirar os pés do chão.
Linda descrição poética sobre o inverno, agora descobri porque sou suave, sensivel, romântico, extremanente lindo e modesto...rs.
Nasci em 19 de junho, eita geminiano show! rs.
Muito lindo Fátinha!
Beijos,
Fátima, esta é uma reflexão tão saborosa que espanta o frio.
Realmente, ninguém distribui biquines, mas sempre há alguém para entregar, com amor e solidariedade, um casaco ou um cobertor de frio.
Dizem até que nos tornamos mais bonitos no inverno (onde ele aparece, é claro). Aqui, quase nunca temos oportunidade de sentir esse frio.
Fiquei "vendo" estas cenas deliciosas que você descreveu e que só o frip permite: o aconchego, a segurança, um livro no sofá... Acrescentaria apenas, o peito quente de quem amamos a nos acolher e aquecer (rsrs...).
Adorei!
beijos
Agradeço o convite para este chá gostoso, rs...Texto muito gostoso, dias de inverno são saborosos, ficamos mais próximos das pessoas, mais calmos...o sol não queima, ilumina...Parabens pelo texto
Cintia Thome · São Paulo, SP 3/6/2008 16:12
Eu adoro o inverno, Fátima, acho que isso nos dá a chance de nos aconchegarmos aos nossos amigos, familiares, em volta de uma fogueira, entoando uma canção, coisas da Biodanza ...
Um beijo !
Beleza de crônica do dia a dia minha cara! Estavas sumida! Sentà a tua falta. Escrever é a melhor coisa para nós madurões. O frio provoca esse estado de interiorização e de melhor chega mais junto aos ente queridos. Beleza de texto. Um abraço!
raphaelreys · Montes Claros, MG 3/6/2008 18:01
Fátima Ricci · Poços de Caldas (MG)
DIAS DE INVERNO
Um Texto Admirável, vocé é muito observadora, escreve muito bem,
tem inspiração divina torna qualquer tema agradável.
Esvreve para todo mundo.
Linda Apologia do Incerno, quando o mundo fica até melhor com menos violéncia e com o verdadeiro calor humano da solidariedade com os mais pobres expostos ao frio.
Maravilhoso.
Um Trabalho muito simpático pra gente tirar o chapéu.
Parabéns
Abração Amigo
Meus queridos, que gostoso ler seus comentários favoráveis e gentis!
Melhor que chocolate quente com canela e biscoitinho de polvilho...
(Como eu vou emagrecer com estas preferências é que eu não sei! rsrs)
Mas, quero dizer ao Falcão que ele matou a charada. E certamente acerta quando se diz modesto, muito mesmo. E modéstia às favas, né, Falcão? hahaha...........
Bem lembrado, Saramar! O calor do corpo do amado é insubstituÃvel.
CÃntia, é isso: o Sol não queima, só ilumina, e aquece de leve, o que pacifica as pessoas. Grata pela presença!
Alcanu, somos dois! Bjs!
Raphael, mas quem é madurão? Eu é que não... rsrs Brincadeira! Sou madurona, sim, acho que já nasci assim! E a gente só melhora, né messs? Que nem os bons vinhos... Bjs!
Azuir, é por ser observadora que não escrevo sobre qualquer tema, e isto é uma limitação... Prefiro os temas agradáveis, talvez por comodismo, sei lá! Mas, vc aprovando, tá tudo certo. Bjs!
Nossa, Fátima, que saudades me deu de Bauru em dias frios . Estou aqui do outro lado, no calor de Sergipe.
Mas vc descreveu muito bem sobre esse dias frios, incômodos, para mim, até, mas altamente tranqüilos, repousantes e de certa forma, convidativo às reflexões. Se que bem que a engordar também.
Um brinde a esses dias com chocolate e muito agasalho! Tin tin!
Beijão
Amo o inverno. Comemos besteiras quentes, bebemos para aquecer (claro que moderadamente), namoramos feitos loucos por casa do frio! Ai ai, eu hein penso alto demais! Mais é bom demais só que quando demora muito ficamos deprês e nostálgicos. Daà começamos tb a fazer besteiras...Enfim, tudo demais não é lucro! Bjos amei o texto e uma linda imagem! Bjokas Maluzinha
MaluFreitas · Salvador, BA 4/6/2008 19:31Acho que o inverno foi feito para dar proteção, a começar por nós mesmos. Não é, Malu? ;-)
Fátima Ricci · Poços de Caldas, MG 4/6/2008 20:11
Oie FÃTIMA,LINDO TEXTO!
Eu amo inverno, acho uma estação aconchegante...calma...silenciosa...profunda...
o inverno sempre nos aquece...
Belo texto,Fátima!
Votado!
beijinhos azuis querida...
Raiblue, tudo azul quando vc vota e comenta! ;-)
Ailuj, a roda-viva do dia-a-dia me carrega, às vezes... Mas, tô de volta e é um prazer revê-la!
Bjs a ambas...
;-))
Querida Fátima,deixando aqui um carinho no inverno mais lindo que já tive.
clara arruda · Rio de Janeiro, RJ 5/6/2008 07:17
Fátima,nesse friozinho leve que agora faz aqui ,gostei do calor do seu
texto.
Um abraço.
Fátima Ricci · Poços de Caldas (MG)
DIAS DE INVERNO
Com todo carinho estou aqui votando neste Trabalho tó belo da nossa Escritora táo Amiga e Talentosa.
Parabéns Amiga tem todo Mérito.
Abração e voto de louvor.
Poços é lindo e vc descreve bem, fala certo que até me vejo nas ruas de P. Caldas...uma delÃcia...
Cintia Thome · São Paulo, SP 5/6/2008 19:39
Bastante interessante...
Votado e aplaudido de pé!!!!
valeu
Votado,querida...beijinhos bluensolarados...
Raiblue
Voce sabe que voce tem razão, o verão é um apavoramento: Ah! e as saias curtas; as blusas decotas; o pessoal sentado nas calçadas.... uma
desordem.
No inverno cada um fecha-se um pouco mais em si mesmo. É como se o pensamento também refletisse melhor.
gostei, sinceramente
andre.
HUUMMMM... se o frio afastasse os "amigos do alheio" no ALASKA não haveria ladrões. Ironias à parte, você produziu um belo texto. Fazia tempo que eu não selecionava nada para minha lista de FAVORITAS. Seu friorento "DIAS DE INVERNO" emplacou lá!
Parabéns pela inspiração privilegiada... mas seu nome não me é estranho. Por acaso você é trovadora da UBT-MG ? Abs,
"Nato": nem sei o que significa UBT-MG...
A inspiração privilegiada neste pedaço bonito da Serra da Mantiqueira é fácil, pelo menos para quem tem olhos para ver.
Quanto à incidência de ladrões, os do Alaska só conhecem muito frio, então "trabalham" num mesmo padrão. Aqui pros nossos lados, quando bate um frio "daqueles" (estamos a 1.182 m de altitude), suponho, talvez romanticamente, que eles reduzam as investidas...
Grata pelo destaque positivo!
Abraços ;-)
Só apreciando estes sentimentos das Gerais!
Saúde.
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