Domingo

Domingo

Era uma manhã de domingo. Ou sábado, porque naquele dia não teve escola. A mãe arrumou a gente com a roupa de missa e o pai disse que eles estavam para chegar.
Saímos apressados; não podíamos atrasar, eles não conheciam nada por aqui. A mana ajeitava o laço de fita; a mãe fechava as janelas.
O carro cismou de não pegar na primeira. O pai teve de descer, dar um chute na lataria e rezar. A reza deve ter sido das boas. Ou isso ou foi o terço que a mãe não largava nunca que fez o motor funcionar.
Apesar da correria ainda esperamos muito tempo a chegada deles. Estava marcado para onze horas, mas já passava do meio dia quando vi o ônibus apontar. A mana dormia no colo da mãe e não viu meu pulo. "São eles!", bradei, sacudindo-a. "São eles!", ela repetiu já de pé. Olhamos por trás da grade que separa os viajantes dos que esperam e vimos todas aquelas pessoas saindo do ônibus com a cara amassada da longa viagem. Não pudemos reconhecer os nossos porque nunca havíamos posto os olhos neles.
O pai ajudou apontando: "Olha lá o Vô, filho, aquele de camisa branca. A Vó é aquela de azul. " E não é que eles pareciam mesmo com aqueles do retrato na sala? Só não eram tão desbotados. A mãe ajeitou o laço da mana e me puxou pelo braço recomendando a gente a ir lá tomar a benção. E fomos.
Chegando perto do ônibus a mana correu, mas deu meia volta depois. Vergonha daquela gente. Deu-me um abraço apertado e esperou comigo pelo pai e pela mãe. Eles abraçaram os avós e beijaram. De mais atrás esperamos quem nos quisesse chamar. Ouvi logo uma voz vinda de cima. "Como estão grandes, meu filho." Puxaram minhas bochechas , me apertaram contra o peito até quase sufocar. E desfizeram o laço da mana, que perdeu logo a vergonha.