EM BUSCA DA PEDRA DE LORAN

Os dias demonstravam uma mudança estranha e malévola. Os habitantes da pequenina vila de Téfora estavam apreensivos com aquela atmosfera nebulosa. O horizonte revelava sombras de densas trevas e nuvens espessas de opressão que pressurosamente avançavam sobre todos. A profecia deveria se cumprir, era inevitável. Groguet, o sábio, há muito não era visto por aquelas regiões. Os boatos que uma hora e outra surgiam, davam conta que o velho ancião partira para uma longa peregrinação em busca da pedra de Lohan, que segundo os antigos escritos teforianos, guardariam todo o segredo sobre a profecia e a maneira correta de impedir o seu funesto cumprimento.

Longe dali, há quilômetros de distância, residia Scrowg, o Bruxo mostro, que habitava a montanha do desespero. Um lugar sombrio e repleto de criaturas trevosas que eram controladas por ele e, a ele eram leais. Segundo a lenda, Scrowg não fora sempre esta criatura asquerosa e repulsiva que era agora. Nos dias de sua junventude, conforme se registra nos anais da história de Téfora, vivia com seu pai Snolt, rei de Eilow, um reino diminuto às margens do Rio Plitz. Nesse tempo, como esta escrito, Scrowg deixou-se seduzir pelas palavras sagazes de Moclow, o perverso. Um eremita, que fora banido de Téfora por promover artes mágicas probidas e também por disseminar pensamentos corrompidos aos jovens. A convivência de Scrowg com Moclow, trouxe conseqüências terríveis para o caráter do menino, que passou a buscar ambiciosamente o poder, não levando em consideração os meios para alcançá-lo.

C omo Snolt já era avançado em dias, quase abeirando-se da morte, não tinha mais forças para impedir a insânia de seu filho, cuja malignidade era cada vez mais sem limites. O encanecido ancião como não podia evitar que seu filho reinasse em seu lugar, o que era seu direito legitimo, por ordem de sucessão, ordenou sem remorso que o mesmo fosse expulso de Eilow, proferindo sobre ele uma terrível maldição e confinando-o na longínqua montanha do desespero, lugar de horrores indescritíveis e palco de todas as maldades e perversões.

Durante cem anos Scrowg ficou restrito aquela região sombria. Mas com a aproximação do dia de Endor, uma data simbólica para os habitantes de Téfora que marcava o fim do ciclo secular de boas colheitas para a entrada em um novo ciclo de novas realizações, um momento também tratado com receios profundos, pois poderia culminar com o cumprimento da profecia milenar proferida pelos lábios do profeta desconhecido, que palmilhou como peregrino errante sobre a terra dos teforianos profetizando a chegada de um tempo sombrio, que somente seria vencido com a chegada do príncipe da luz, que viria dos céus para por fim a maldade do mundo.

O vaticínio afirmava que o príncipe da luz só poderia ser invocado para livrar o mundo, caso a pedra de Lohan fosse encontrada e seu poder liberado para abrir os portais da eternidade, passagem espiritual que abriria o caminho para que o benfeitor celeste viesse em socorro dos humanos. Caso a pedra não fosse encontrada, e o seu poder não fosse invocado a tempo, toda a maldade seria liberada e Scrowg estaria livre de sua prisão para reinar com toda a malignidade sobre os homens. Assim dizia a profecia:


As trevas densas poderão reinar,
Mas tu deves evitar.
Ao invocares o poder da pedra
Um portal se abrirá,
Por ele o príncipe de luz irá passar
Para da terra o mal livrar.
Porém, se a pedra de ti se afastar
E não poderes o seu bem invocar,
O príncipe de luz não virá,
E as trevas no mundo prevalecerão...


Estas palavras causavam um medo indescritível nos habitantes de Téfora, porque todos sabiam das conseqüências terríveis caso a pedra não fosse encontrada e o mal fosse libertado. Mas, o que fazer uma vez que a Pedra de Lohan estava desaparecida a séculos e o seu paradeiro ignorado?

Estes questionamentos ocupavam um lugar significativo nos corações e levantavam toda sorte de sentimentos e apreensões nada alvissareiras. Apenas o tempo poderia dar uma resposta convincente a todos. No entanto, o melhor a ser pensado era o imediato conhecimento do paradeiro da Pedra para que houvesse descanso e tranqüilidade.