É de se estranhar que à primeira linha encontremos Laura, a heroÃna de nossa estória, completamente extasiada - ou deveria dizer ecstasiada -, deitada de costas, os braços abertos, as pernas para fora da cama, a pele lÃvida, os cabelos em desalinho. Tem os olhos empedernidos em estranhas pálpebras arroxeadas, fixos num mundo que trespassa o teto sujo em forro de madeira. Os punhos semicerrados denunciam a recente esquizofrenia que lhe furtara o último suspiro. Abaixo da axila direita, um discman toca Guns 'n Roses. À cabeceira, um livro de auto-ajuda aberto ao meio exibe uma tira de papel almaço, certamente usado como marcador de página, cheio de anotações. Descubra-se não teria sido decerto um best-seller, mas do gênero, foi o que mais lhe chamou a atenção em seus corriqueiros passeios pelos sebos da Sé. Atravessava um momento delicado em sua vida, para não dizer tenso, ou conturbado, e dir-se-ia que as anotações da tira de papel bem declaram o conflito em seu mundo interior. A um ou dois passos, no máximo, da cama, acha-se a BÃblia, também aberta, sobre a mesinha de telefone. Uma bÃblia ilustrada, cuja ilustração em que se acha aberta a página é a de um centurião em rogo de misericórdia, de joelhos numa pedra, as duas mãos apoiadas na espada estacada, a cabeça erguida aos céus em olhar súplice. E ao lado da BÃblia, um copo d'água pela metade. A luminosidade externa, adentrando pela veneziana de madeira entreaberta, esmaece em contraste com o interior soturno, e o ruÃdo desarmônico da rua parece arranhar a sinfonia sibilada de Paradise City.
O corpo seminu, em sua perfeita forma de mulher, exibe a espaços marcas de cigarro e avermelhidões. Os seios, insinuando-se para fora do sutiã, estão arroxeados como as pálpebras. As marcas de cigarro estendem-se ao longo do tronco e a púbis com avermelhidão caracterÃstica de sangue coalhado denuncia algum tipo de violência sexual. As pernas longas e torneadas, estendidas para fora da cama, estão intactas, cobertas até à altura dos joelhos por uma toalha branca, manchada de sangue, estendida até à altura da púbis. Seu olhar teso parece súplice, a expressão genuÃna de um desejo sufocado pela alucinação inconsciente. Seus lábios retesados num ricto de espasmo melhor definem a agonia em que se fiara.
Mas não conheçamos assim, logo à primeira linha, nossa heroÃna. Isto que se lê é o desenlace, pois o inÃcio de tudo está ainda por vir, a fim de a conhecermos melhor e entender o porquê do trágico fim.
Abrindo votaçao
pra teu excelente texto e desejando sucesso
Beijos
Um relato corajoso e realista, um alerta sobre um problema tão atual, meus parabéns !
Um abraço !
Passo apressada mas,deixo meu carinho e voto.
clara arruda · Rio de Janeiro, RJ 2/9/2008 19:26
Para o banco. Parabens pelo tyrabalho.
abraços fraternos.
elio386565@hotmail.com
Texto muito bem escrito. Relato oportuno de uma realidade muito atual.
Votos
Kasinsk · Embu (SP)
Em ecstasy
Vim indicado pela Poeta nossa Amiga em Comun Poeta Clara Arruda.
Um belo texto que revele o táo enganoso desta proposta falsa de felicidade.
Um alerta pra outros náo se enganarem..
Parabéns é de utilidade Pública.
Abracáo Amigo
Um lindo texto alerta. Bom foi vir aqui e o ler.
Parabens Poeta, grande abraço
Voto dado, voto votado
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