EMAGRECER

Ter que emagrecer equivale, para mim, à possibilidade de alcançar a iluminação via Mosteiro do Tibet: não menos. Não falo de eliminar 2 ou 3 quilinhos ... Isto não é emagrecer. É reacomodar o bagageiro e só. O horizonte, no caso de precisar emagrecer, é uma bela paisagem com um mar imenso, entre você e ela. Na praia, um bote com remos ... E você gordo, pesado, limitado e malvisto. Perseguido e censurado. Excluído: OFF ! Tem sem-terra, sem-teto, sem-emprego, e COM-GORDURA... Esta é a sua praia. E ali, o bote. Lá longe, bem longe, a bela paisagem do ser leve, bem-visto, ilimitado, admirado, aceito: IN ! Então, vamos ao bote. E aos remos.
Ondas difíceis, verdadeiros paredões. "Eu posso. Eu consigo". (Mas, quero?) O horizonte eu quero e atalho não há. Vou, então. Mais por curiosidade: saber se dou conta e, se der, como é a bela paisagem. O risco de descobrir que não dou conta é sério. No caminho, longo, pausas por falta de energia, abandono dos remos, reavaliação do curso, olhar para trás e sentir saudade, olhar para frente e sentir raiva! POR QUE EU? Não dava para estar em outra, ou seja, praia de areia branquinha, nada de bote à espreita, remos muito menos? Ondinhas mansas, vento gostoso, céu azul, água morna e transparente, e eu de biquíni num corpinho sarado? Liberdade, confiança, poder, tranqüilidade? Pelo jeito, não dava.
Cai na real, vai! Sim, claro, a real: sobrepeso, cansaço fácil, roupa GG/Extra-Large/XG, e tudo feio, exagerado, sem charme, quando não malfeito. Você compra o que cabe em você, não o que gosta e quer. Escolhe uma peça bonita e já ouve: "No seu tamanho não tem." Mas eu fiz por onde, não é? (Fala que não pensou!) Prefiro pão a salada , escolho empada e recuso rabanete, pego o folhado em vez de maçã - a menos que o recheio seja creme e maçã - então... queria o que? Queria era torcer o nariz para nhoque como faço com quiabo! Queria sonhar com peixe grelhado como faço com panquecas! E acima de tudo, queria não ter crescido em família italiana boa de garfo (redundância?), nem ter aprendido a cozinhar e gostar de uma bela mesa farta, bem-posta e bem-freqüentada. Paciência… E vamos aos remos! O horizonte continua lá.