EU PRECISO DIZER ADEUS
Eu preciso dizer Adeus
Às paredes que grafitam poesia
Do dia-a-dia das guias, das agonias
Do asfalto frio que não me vê
Na esquina da solidão
Da Consolação, cão faminto
Tão sozinho
Eu preciso dizer Adeus
À fumaça das fábricas, dos carros
No proibido das faixas neon
Ao lixo, aos escarros
Aos trincados telhados
Ao quartel, ao cartel, patrulha
Aos negros gatos
Eu preciso dizer Adeus
Aos prédios espelhados
Reflexos de mim, tempo molhado
À garoa da minha fé retrô
Nos trilhos, no metrô, à Praça da Sé
Aos ambulantes e andantes sem café,
Pedantes, arrogantes elegantes
Eu preciso dizer Adeus
A toda gente que aqui não tem lugar
Ao parque que eu também corria
Que há poeira nas flores, no ar
No descanso no Ibirapuera
Beijos no Arouche, carinho fugaz
Carrinho de mão, verdura e limão
Velho moço, velha lata, idoso
Na casa papelão, na escadaria
À gritaria, aos fumantes. Droga!
Às Catedrais, ais.
Escadas rolantes, finos barbantes
Eu preciso dizer Adeus
À minha amiga Paulista
Que tem pista e sombra que zomba
Nos spots e placas oportunistas
Dos trapezistas e alpinistas
Nas pernas de pau e sale
Preço da fantasia, álcool e gasolina
Do tostão, da creolina, fedentina, das Carolinas
Que perdi o passe e não vejo qualquer estação
Ao portão do não que arromba
Ao pedinte que ronda. Rapadura!
Eu preciso dizer Adeus
Ao gelado da contramão
Do 13 ou 23 de maios já vãos
No sinal entoando vermelha paixão
Sem ensaios, desmaios
Do palhaço, do cordel, do cantador
Sem outdoor encantador
Eu preciso dizer Adeus
Aos réus, às vitimas, aos fariseus,
Às chuvas de março e aos ipês no breu
Jacarandás de aço como eu
No barranco, furados pneus
Aos cartões picotados e afanados
Eu preciso dizer Adeus
Aos pastéis, ao arroz e feijão sem vaidade
Baião de dois, de mil mornos e sem gás
À bandeira que agita a cidade
Tremula no rubro e negro de mim
Trémula... Trémula...
Nos carretéis dos andaimes
Nos motéis perfume
Eu preciso dizer Adeus
À arquitetura, às abandonadas esculturas
À arte sem cor, só dor demolição
À loucura da meia-noite no corredor
Nos pontos de açoite e chorinho
À candura do menino vadio
Que vazio chora baixinho
No meio fio, no meio fio
Marginal, das marginais
Eu preciso dizer Adeus
Aos filhos meus e teus
Estou por um fio de lamento
Sem tua mão quente
Nas valas, nos rios, nas veias
Da realidade da cidade
Do meu coração já doente
Eu preciso dizer Adeus
Às cabeças, aos monumentos
Neste Imperial momento
Sem querer ter documento
Ser especial, espacial
Na nave de um Cometa
A me levar
À sorte, ao norte, ou morte
E na janela sem nada dizer...
a Deus...a Deus...
Que tudo é normal.
Eu preciso dizer Adeus
Adeus...
CÃntia Thomé
.
Querida CÃntia,
Eu preciso deizer adeus, belo grito de protesto.
Belo poema!
Aplausos!
Inspirou-me o poetrix que segue.
Beijos,
Regina
Adeus - Regina Lyra
Insanidade das ruas,
vida galopante
...assaltos e avenidas.
CÃntia, como já disse alguém, algum poeta, há poemas seus que leio como se rezasse, tal a rever~encia que despertam em mim, a beleza, o sentimento de alegria ou dor...
Este é um deles.
beijos
Amiga, escreveste com o coração!Que belo poema!Que sublime inspiração!Prá tÃ, meus sinceros aplausos!Volto prá votação!Bjos
Mell Glitter · São Paulo, SP 22/2/2008 19:47
Cintia
Eu vi apenas a cidade negra. Você vasculhou cada fresta, cada detalhe, todos os cantos e desencantos desta mesma cidade...
Belo!
bjo.
CÃntiaa querida! Quantoss belos "adeus"!
Que apesar de serem Adeus, são tb um reverência, uma saudação a tamnha diversidade que São Paulo proporciona... Salve Sampa e todas esa gente que fizeram, fazem e farão esse sem tamanho.
BelÃssimo!
beijos
AMIGA CINTIA!
Eu preciso dizer Adeus!
Talvez um dia!
Sampa magia...
Não mais de Itapemirim
Irei de avião: Varig?
Navio santista... São José?
Corinthians? Tá rebaixado...
Irei de bicicleta...
Ou mesmo na "canela"
Igual aos retirantes...
Que vieram e foram...
Da cidade querida
Porta dos povos...
Portos e poços de amor!
Brinquei... rsrsr
Gostei das rimas do teu poema!
Gostei do Universo social...
Parabéns!
Beijão!
Lailton Araújo
Cintia, lindo poema para uma cidade. E, afinal, vivemos dizendo adeus porque nunca mais seremos os mesmos... acontece que às vezes isso fica claro...
Obrigada pelo comentário.
Beijo.
Voce precisa mas nao diz, porque voce ama...e quem a gente ama, nunca dizemos adeus...beijos
victorvapf · Belo Horizonte, MG 23/2/2008 19:35
Querida Cintia, grande poema! Precisamos dizer adeus.
BelÃssimo, votado com muito prazer.
bjs
sinvaline
Querida Cintia, é preciso dizer À DEUS...
E prazeirosamente voto e me comovo nos protestos teus...
Bjs
Beto
CÃntia, embora eu seja muito provinciana, nunca quis deixar Santo André, amo a metrópole desvairada , Sampa !
Beleza de texto , mas por favor, nunca mais diga "Adeus", fique pra sempre !
Não é São Paulo, não é a cidade, não são as cidades, é a sociedade e nossos valores. Isso sim, precisa ser revisto. Todos os signos, os referenciais, os sÃmbolos que Cintia mobilizou são o cântico ao contrário, o lado bom mostrado pelas contradições. Um lindo poema que também mostra pelo "Dizer Adeus" o sentimento de impotência de cada pessoa, de todos nós, diante de problemas tão grandes. O Leviatã que criamos foi alimentado por todos os nossos sonhos, cantos de sereia, quando atendemos aos chamamentos do que sempre nos pareceu tão ingênuo, tão bom e normal. O culto ao consumismo e ao gigantismo não é bom.
abraços.
Ei, quanta inspiração, hein?
Flor, jamais diga: "Adeus!"
Eu, morreria.
Bjs.
So não podes nos dizer adeus, nos privando do privilégio de desfrutar de seu talento. Beijos
Falcão S.R · Rio de Janeiro, RJ 24/2/2008 02:16
Fantastic!
bjo.
Esse Sampa, minha cara Cintia é, o avesso, do avesso do avesso, de um mundo no espelho da solidão do concreto armado que desarma a alma e enche o coração de solidão! Abraços Overmanos.
raphaelreys · Montes Claros, MG 24/2/2008 15:40
Cinthia,
Eu voltei muito mais para arquivar que tudo o mais,
Parabéns. Parabens mesmo.
Andre.
concordo c Falcao, nao nos diga adeus...votado, bjs,rosa
Rosa Campello · Recife, PE 25/2/2008 14:03
AUUUUUUUU!
Mulherão, cometes o Lado B exatos 40 anos depois de Tom Zé, em 1968, que já fizera a primeira parte desse Hino, tendo por recheio o arrependido e monumental Sampa de Cae.
Não tiro uma vÃrgula, nem um espaço sequer. Nem que me espanquem Bandeira ou Andrade, sequer dona Rita.
Maravilha se percebe no ato e se aplaude em pé.
Bravo! Bravo!
BRAVÃSSIMA!
São São Paulo
(Tom Zé)
São São Paulo quanta dor
São São Paulo meu amor
São oito milhões de habitantes
De todo canto e nação
Que se agridem cortesmente
Correndo a todo vapor
E amando com todo ódio
Se odeiam com todo amor
São oito milhões de habitantes
Aglomerada solidão
Por mil chaminés e carros
Gaseados a prestação
Porém com todo defeito
Te carrego no meu peito
São São Paulo quanta dor
São São Paulo meu amor
Salvai-nos por caridade
Pecadoras invadiram
Todo o centro da cidade
Armadas de ruge e batom
Dando vivas ao bom humor
Num atentado contra o pudor
A famÃlia protegida
O palavrão reprimido
Um pregador que condena
Um festival por quinzena
porém com todo defeito
Te carrego no meu peito
São São Paulo quanta dor
São São Paulo meu amor
Santo Antonio foi demitido
E os ministros de Cupido
Armados da eletrônica
Casam pela tevê
Crescem flores de concreto
Céu aberto ninguém vê
Em BrasÃlia é veraneio
No Rio é banho de mar
O paÃs todo de férias
E aqui é só trabalhar
Porém com todo defeito
Te carrego no meu peito
São São Paulo quanta dor
São São Paulo meu amor
Cintia, sou tão grata à vc por ter me ensinado a ver através da sua poesia.
Hoje no entremeio das palavras vc me mostra uma cidade inteira dizendo adeus à tristeza e eu te amo.
Bj
Cintia...que encanto essa poesia! Fiquei viajando nas suas palavras...e como foi bom! Obrigada por nos privilegiar com um texto tão rico, tão puro..tão profundo. Você é iluminada. Beijos.
SILVIA BATISTA · João Pessoa, PB 26/2/2008 13:41
Como é gostoso ler este teu poema. Meus sinceros aplausos e beijos.
Carlos Magno.
Olá CÃntia!!
BelÃssimo pema!!!Um retrato veropoético da grandes cidades...no caso,São Paulo.
Bravo!!Forte e profundo poema!!
Um beijo azul...
Rai
Se puder,passa na minha página tá?
ttp://www.overmundo.com.br/banco/entre-morangos-e-mofo
Existe uma necessidade de grito presa aà dentro. Não é a cidade, é uma imensidão dentro de você. BelÃssimo!
Regina - poesia em volta · Volta Redonda, RJ 4/3/2008 15:57Cintia voce esta se despedindo? Como, quando e porque? a gente aqui cria amizades e sente qualquer despedida ue!
victorvapf · Belo Horizonte, MG 8/3/2008 21:49
Cheguei só nos overpontos!
Parabéns, Citia! Lindo! bjs
Cintia,
mais uma poesia excelente da tua safra infinita...
(que descubro somente agora porque ando meio sumida daqui).
Como disse o Adroaldo: sem tirar nem por. Maravilha!
Versos maduros de uma poeta que sabe bem o que quer dizer, e onde chegar.
Beijos,
Só não diga adeus as suas poesias,é linda minha querida.Dei meu voto
clara arruda · Rio de Janeiro, RJ 13/3/2008 11:31
Muito bom , parabéns!!!
Ps. Devido a importância da criação da Primeira Biblioteca Comunitária Especializada Em Cultura Afro-brasileira e Africana, no subúrbio de Salvador-Ba. Por Favor vote em: http://www.overmundo.com.br/agenda/biblioteca-comunitaria-especializada-em-cultura-afro-brasileira-e-africana
Como ja disse antes...
você escreve com a alma e o coracão...
dizer adeus ou não
não teria nem uma razão
pois onde quer que você vá...
a sua mensagem fica tatuada
no centro do core...
beijos no core...
Belo poema...
Airton
Estrela-RS
E EU QUE DISSE ADEUS A TUDO ISSO.
MAS, TE CONFESSO, DEIXOU SAUDADES.
" SÃO PAULO FEIA MAIS QUERIDA QUE Jà VÃ"
ABRAÇOS.
em primeiro lugar fiquei feliz com suas palavras e gostei muito da maneira como vc escreve. parabéns pelo seu lindo trabalho,beijosssss
O NOVO POETA.(W.Marques). · Franca, SP 30/6/2008 22:22
Escutei o outro e entrei nesse pra comentar... sem palavras, apenas com sentidos.. Um navio se vai , fica o lenço branco tremulando lágrimas em poças. ADEUS! Q dor, que fuligem, qto pó, par-ti-do.
Não me diga adeus,eu sofro dentro da sinfonia concertante.
Parabéns
bacios
WOW!! Fiquei sem fôlego, mas valeu a pena ir até o fim. Uma viagem paulistana sem nunca ter conhecido a cidade, só de passagem. maravilha , brigadu pela visita, e por favor, "não diga adeus à minha página", será sempre bem vinda. Beijos!!
Smalltown Poeths · Belo Horizonte, MG 19/7/2008 14:27
Eu fiquei sabendo de umas boas notÃcias sobre esses bons versos aqui.
Quem poderia mais nos dizer se nossa querida CÃntia não o fizer?
É fato.
CÃantia, parabéns pelo prêmio, pelo poema, pela homenagem a São Paulo. As pequenas e simples belezas da grande São Paulo. Não é só grandiosidade, um monumento à pressa, ao trabalho. O poema mostra o aconchego de São Paulo. Um poema é sempre uma oração.
Beijos.
Não conhecia sua poesia. A gente sempre tem agradáveis surpresas por aqui. Algo que nos serve de inspiração e exemplo. Muito bom. aliás, um poema para estudarmos e contemplá-lo constantemente.
A força, a marca, as imagens, a linguagem...Que grande!
CÃntia querida:
Há Deus?
Ah, Deus!
Adeus.
AMIGA CÃNTIA!
Eu preciso dizer Adeus! Talvez um dia... Sampa magia! Não mais de Itapemirim, São Geraldo ou João Teotônio. Voltarei de avião: Varig (talvez), Gol, Tam (não sei). Navio santista (ou Corinthians)... Clandestino para o Recife ou Tóquio - igual aos 100 Anos da Imigração Japonesa – ao contrário da história oficial. Irei (quem sabe) de bicicleta: é politicamente correto; ecologicamente atual. De caminhão (como eu vim) só de noite! Sem a luz do sol. De pau-de-arara é impossÃvel! Não tenho mais idade... Retirantes vieram e ficaram. Alguns foram engolidos; outros maltratados; a maioria tornou-se paulistana (como eu sou) na cidade querida, porta dos povos, portos e poços de amor! Brinquei na viagem! Comi letras... Bebi cultura! Gostei das rimas do teu poema e do Universo Social.
Parabéns! Beijão!
Lailton Araújo
Cintia, amada e querida amiga.
Estou contente. Muito contente. Feliz demais da conta, tchê, com que tenhas sido uma das vencedoras do I Prêmio Literário da Canon do Brasil, integrando com Eu Preciso dizer Adeus a antologia que será lançada na 20a. Bienal Internacional de Sampa, no próximo dia 24 de agosto.
Ah! deixa a Juli saber que ele vai rasgar toda a seda da China. Nem é bom que saiba agora, se não deixam ela sair mais não. e nós aqui sem a Juli somos capazes de organizar uma armada brancaleônica pra resgatar nossa chinoca do jugo chino em terras orientais do planeta.
Em fevereiro eu já te falara da qualidade épica e Ãmpar destes teus versos.
Viva, Cintia!
Merecidos parabéns!
vc nunca deveria ter mudado daqui!!! adorei vc!
Compulsão Diária · São Paulo, SP 16/8/2008 17:57
...
Até logo, até mais tarde, até amanhã, até depois...
Nunca adeus.
Por Deus !!!
parabens pelas conquistas.
bjsssssssssss ;)
A velada dor de quem quer dizer Adeus sem poder realmente ir embora...
Vicente Machado · Rio de Janeiro, RJ 21/2/2011 13:32Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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