FITAS E VELAS (e a calda fervia!)

Essa música tem duas histórias. A primeira é que ela começa quando eu, 8 anos antes de compô-la entrei numa casa antiga lá em Tiradentes, pois dizia que estava a venda. Quis visitar e bati palmas. Ninguém atendia. Fui entrando e pensando "e se tiver cachorro e se o dono for bravo e se e se..." quando então dei com uma porta e na porta um fogão de lenha fervia uma panela gigantesca de doce de goiaba. Borbulhava, explodia, espirrava a calda.!!. A luz da tarde caia sobre o velho fogão da velha casa e trazia aos meus olhos o prazer de se arrancar aos dentes os nacos daquela futura goiabada. Saí.

A segunda história é a que deu na música em si. Era há dez anos atrás e era de novo em Tiradentes. Eu e o grupo do qual participo ainda, o grupo Gesta, iríamos tocar pela primeira vez em nossa história num restaurante chamado Beira-Seveira. A apresentação foi bela, à luz de lampiões e velas, e decoramos nossos instrumentos com fitas coloridas ao gosto popular de folias e cavalhadas e congadas e marujadas...

Na manhã seguinte a apresentação, uni o colorido misterioso da luz que inundava o tacho de goiabada fervente, ao calor das fitas embebidas em suor, cachaça e alegria. Nasceu Fitas e Velas. Matracas de Bumba-meu-boi do Maranhão e seu sotaque com pandeirões, cruzaram-se com o mistério entranhado nas sutis e misteriosas pedras mineiras. Nasceu Fitas e Velas. Foi em 1997 isso.
Vale ouvir!


FITAS E VELAS
(Fabio Campos)

Fitas e velas,
O sol das tramelas
Vermelhas gamelas
Luz de lampião...

Tambor de folia,
Da noite faz dia,
E a Lua esvazia,
E alua o sertão ...

Na mão as matracas,
E um chá de alfavaca,
Tirado da mata,
Quentura de arder ...

Nhô Chico da venda,
Na luz da contenda,
Canta uma oferenda,
Pro povo louvar ...