Na memória um fio solto me fez puxar um suspiro. Suspiro categoricamente dividido em motivos exatos que eu não queria lembrar. Foi como o passo perdido que dei naquela manhã de segunda – e todos os outros que estava disposta a dar – até que o cÃrculo se fechasse novamente, na mesma história, no mesmo sentido.
As nuvens caminhavam, passeavam pelo céu, procurando saber onde era melhor escorregar para a terra, com os ventos do litoral, com o ar ao qual se acostumara, chuva que esperava como recompensa de vida. Os passos secos que lhe perseguiam em seu lustroso chão de taco, aceleravam as batidas de seu coração. Tum. – Tum. – Tum. – Tum.- Tum. Tum.TumTuuum.
Encontrei uma razão para cada pensamento, que dava aos meus motivos um rosto muito bonito. Sorri de forma boba, por um breve momento, apreciando todas as minhas vontades repentinas, como se fossem elas lÃcitas, legais – não apenas desejos e impulsos encolhidos em uma única palavra – Juventude.
Sol que volta em ar de vitória após a primeira batalha contra as Senhoras do Ciclo, que vão cumprir seu papel agora em outro lugar. Luz solar – cegava a vista, causava um sentimento nunca antes testado por ela. E em tantas vezes sentira parecido, mas nada era igual, nada poderia ser igual, a todo passo que ouvia na secura de seu dia, agarrava-se a esse sentimento – entre cada vão entre os silêncios segurava a respiração, suicidava-se gradativamente em seu mundo sentimentalista e desesperado. Buscava os recursos mais dramáticos, afogando a mente em vontades loucas e desconhecidas para ela mesma. Apegou-se ás suas manias adquiridas por influência alheia – cada pele era tudo, cada dor era nada. Batimento cardÃaco, respiração, tudo tão desconforme que teve certeza de que chegava o fim, o fim… o fim… o fim… o fim… o fim -
Jovem, vivendo como a planta que cresce entre as pedras da rua – um sinal de abandono esperançoso em uma vida reinada pelo destino indecifrável e irônico. Ou então um sinal de rebeldia contra as formas que o mundo produzia cruelmente. E eu realmente planejava ser um sinal, um outro sinal, um sÃmbolo da esperança, da rebeldia, do combate. No entanto não possuo energias para a rebeldia. Combato diariamente problemas internos que nem os meus podem conhecer. Grandes causas estão longe de mim. Grandes causas me fizeram então suspirar como em um sonho. Grandes causas diminuÃram minhas pequenas que ainda não posso resolver. O sonho, vira mais e mais um imenso sentimento sobre todas as coisas que tentei sentir, que tento desesperadamente ver, mas que estão em um passado, um futuro ou uma ilusão perdidas nesse mundo, inalcançáveis.
Porém por mais que o Sol venha, outra hora elas voltam a cobrir o céu – brancas, cinzas, pesadas ou leves lá no topo, onde os olhos humanos veem pouco. Ela assistia, sabia, conhecia o significado disso – o tempo – o esgotamento, o fim e o inÃcio. Portanto, nada acabaria – nada de fato se extinguia nesse mundo confuso em que lhe lançaram. A vida é uma folha, a folha solta, que nasce, envelhece, cai e serve de adubo para que tudo se renove. E ela tinha em seus braços, em seu corpo de folha, os sentimentos nadando em cada célula, transitando entre todos os seus membros e órgãos. Esperando que passasse o tempo, que envelhecesse, que caÃsse, que voasse para longe de sua árvore. Mas não cairia nova, não sozinha. Então afogava-se em pensamentos profundos demais para sua fina espessura. Ela esperava, ela esperava – sem ação. Os ciclos do mundo se completariam ainda milhares de vezes – as nuvens iriam e voltariam de sua vida – folhas passariam ao seu redor, viriam mais vários verões, outonos, invernos e primaveras antes que seu próprio ciclo tornasse o de outro. Enquanto isso sentia cada passo naquele chão, cada palavra mal direcionada, cada aflição de uma mente infantilmente adultescente. Sofrendo mais do que o necessário – em sua vida lisa.
Escrito por Larissa C.S. 17 Anos -> @PrisaoAgua_blog
Giulia Tadaki - Menina e vizinha dessa Biguaçu onde tenho muitas AlmAmigas...
Estou assim - "embasbacado", pelas ilações, pela Alma Voante dessa adolescente Larissa, de apenas 17 tempos de vida!
Confesso, fiquei mesmo com u'a certa "invejinha", pelo estilo, pela Poesia, implicada e imbricada no "âmago" da Crônica, qual um Paper que sinonimicamente, u'a Folha Nova, que se transforma a cada momento em uma "Tabula Raza", como que pedindo:
- "Estou em branco - Escreva todos os seus sentimentos em Mim, para que voando pelos espaços - leve aos recantos longinquos pelos Furacões ou Vento Sul, ou nas proximidades pelas Brisas Suaves, que namoram as Nuvens!"
Aplausos Mils, e peço que transmita a essa Adolescente que pode ser até legalmente ainda u'a Criança, mas é "Grande" ou de absoluta "Maioridade" no seu expressar tão simples... tão complexo!!!
Karinhos Kentinhos,
Zeca Feliz - gaDs!
Os jovens de hoje não são felizes, A VIDA GLOBALIZADA,MIDIÃTICA, ESTÃO CADA VEZ MAIS SOZINHOS. ESPERO QUE ISSO MUDE. GOSTEI DO TEXTO. VLW
Edson1970 · Mossoró, RN 21/5/2011 22:07Reflexivo texto masiInteressante notar que uma pesoa tão nova possa escrever como se já tivesse carregando anos em suas costas. Seria a vida tão triste de ser vivida normalmente? bjs
Doroni Hilgenberg · Manaus, AM 22/5/2011 15:43a gente fica um pouco a deriva quando entra neste estado transportado, sinestésico.. este estado sem lugar, sem tempo, de palavras inesperadas.. terei que reler este texto muitas vezes.. rsrrrrs
The Guilherme Aguiar · Betim, MG 22/5/2011 15:52
ah! interessante a relação entre as onomatopéias no final do 2º paragrafo e "o fim, o fim…" no final do 4º..
Giulia, pergunte á Larissa se o descompasso do texto é pra representar o do coração..
O Inferno e o Céu. São pólos extremos de uma só Realidade. Ao ser humano cabe o direito de escolha.
Bom estar aqui. Tenha uma boa semana.
Se puder visite Ayruman... Soi grato
Grande talento, apesar da pouca idade. O último parágrafo é pura poesia! Abraços!
Égab · Florianópolis, SC 22/5/2011 23:38
Ah, os impulsos e os desejos da juventude, da inocência... Esse texto me fez lembrar de mim mesma aos 15, 16, 17, tantos sonhos, tantos sonhos...
Ótimo texto!
Parabéns!
Apenas VIDA, vida latente em todos os poros, em toda matéria. Vida, vida...
Obrigado.
Parabéns pelo poema intenso! Sentido em cada linha, pulsante que revela sem revelar.
Lilian Lilian · Maringá, PR 7/6/2011 15:24Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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