Aquela seca medonha fez tudo se atrapalhar,
Não nasceu capim no campo para o gado sustentar
O sertão esturricou, fez os açude secar
Morreu minha Vaca Estrela, já acabou meu Boi Fubá
Perdi tudo quanto tinha, nunca mais pude aboiar.
Vaca Estrela e Boi Fubá (Patativa do Assaré)
HÁ VIDA NO SEMI-ÁRIDO
A terra nua
A campina vasta
Mato e erva daninha
Um bicho voa
Outro anda.
Folhas murchando
Terra queimando
Miúnças secando
A natureza
É uma mãe sem igual.
Nada é trivial
Eventos ao vento
Passarinho
Inseto
Animal
Viajam sementes.
Sobreviver é desigual
Outrora horizonte
Horizonte atual
Um pé de fruta
Um pé de flor
Um pé de erva
Um pé de gente
Marcando pisada.
A um ávido olhar
Alegria e esperança
A vida latente.
A um descontente
O amargor
O susto
O medo descrente.
A recusa fatal
Aceitar, não
Entender, não
Esperar, não.
Nos olhos
O espantar
Na boca
O praguejar
Sobrepondo a mudez
Tem terços a rezar.
Nas mãos
O sucumbir
Calos duros
Pés rachados
Direito a resistir
Dias melhores virão.
O sertão é vida em brasa
Sopra um vento forte
Levanta terra do chão
No céu a escuridão
Grita alto o trovão
É chegada a redenção.
Sangram represas
Estão cheias as cacimbas
O rio não se contém de contente
Se solta para todo lado
Quer mudar de direção
Quer extravasar a sua sina.
A luta continua
Tudo se move
Um dia chove
A raiz molha
A folha cresce.
Se o tolo se encolhe
O lutador se resplandece
Sem merecer do que padece
Tudo que vê lhe enternece
Olha para cima
Ajoelha e agradece:
Obrigado meu padim ciço
Meu deus do céu
Meu bom menino
Todos os santos
Minha nossa senhora
Os caboclos do mato
Meus orixás
Oxalá.
Comecei a escrever este poema em 2003, somente agora, hoje tive sanha inspirativa pra terminá-lo. Deve ser pela proximidade das chuvas ou pela mudança da lua
Itaberaba/BA, 13/11/08.
Almirante Águia
Sabemos pelos noticiários que as chuvas tem caído em outras bandas, e aqui o sertanejo não tira o olho do céu, cheio de tanta fé e vontade que converte qualquer ateu. Muito gado já caiu, galinha não bota ovo, nas águas quentes o peixe já morreu, o mandacaru resistente e a palma sua parente de sol em sol enfraqueceu. Mas o cabra do sertão resiste, resili, tem semente guardada e tarefa de terra arada pra milho, feijão, melância e tudo mais que um homem pode plantar com a coragem que Deus lhe deu.
Ai Almirante,
Muito bom. Ontem via pela televisão alguma coisa da vida dos beduínos. Uns nascem beduínos, outros se tornam beduínos, por puro prazer.
- O que lhe fez tornar-se beduíno? pergunta o reporter estrangeiro
- "A vondade de ser bom, ser amoroso e ser feliz" diz o beduíno.
Um dia vi eu mesmo o flagelo das secas, num ano de muita chuva.
Abraço
andre.
Esse postado é uma viagem em volitação acima da caatinga e do cerrado. Locais áridos tem alma própria, aliás uma grande e mística alma!
raphaelreys · Montes Claros, MG 14/11/2008 07:49
HÁ VIDA NO SEMI-ÁRIDO
Almirante Águia · Itaberaba (BA)
Uma Pooesia para refletir.
O Sertanejo é forte mas, uma firca maior vem e estabelece a desigualdade social.
Todo mundo é filho de Deus, todo mundo ;e irmáo mas náo desfruta igual dos bens da terra.
A divisáo existente náo tá de Cristáo.
Isso que é o Problema e o resto a gente junto irmanados e inspirados no Divino, resolvemos tudo.
...Nas mãos
O sucumbir
Calos duros
Pés rachados
Direito a resistir
Dias melhores virão.
A Fé é uma esperanca de um dis se consolidar a irmandade na comunháo e partilha dos bens. Náo há irmandade sem se observar este primeiro quesito de respeito ao pai criador no comungar com cada irmáo.
Uma Poesia belissíma.
Amo Patativa e ao Deus que nos criou irmáos.
Parabéns
Abracáo Amigo.
Seu poema define exatamente uma frase.
O Sertanejo, antes de tudo, é um forte.
E põe força nisso. é mais que a força física.
Um abrço
Comovente e bem traçado este seu "Há vida no semi-árido", apadrinhado lá em cima pelo imortal Patativa do Assaré, que Deus o tenha.
Linda a lembrança do Mestre:
"Morreu minha Vaca Estrela,
já acabou meu Boi Fubá"
São inspirados os seus versos, como nestas linhas que transcrevo, com prazer:
"Nos olhos
O espantar
Na boca
O praguejar
Sobrepondo a mudez
Tem terços a rezar."
Voltarei mais vezes para admirar sua obra que espero seja pródiga.
Abraços.
Fala Almirante, depois que descobri que vida de assentamento é o ideal revolucionário de toda vida que se preze, tô sempre visitando um e outro, imaginando porque não se abre assentamento pra poetas. O povo da arte vive meio que sem terra própria.
Adorei o tema, adorei a trilha...
Beijo!
Há vida. E com ela, nela há amor, dor, poesia, angústia, flagelo.
E há algo além - a garra de uma gente que não se dobra.
.
Uma viagem de otimismo e determinação !
Um beijo!
excelente teu texto!
Parabéns!
Beijo no coração!
Caro Almirante: eu que sou baiano, mesmo que do Recôncavo, por onde o Paraguaçú também passa, conheço bem essa realidade que você retrata no poema. Morei em Serrinha, numa região onde o quadro não é muito diferente. Agora que estou em outras terras e paisagens completamente diferentes, longe do Brasil, é que entendo melhor o tipo de sentimento que move o poeta a se expressar como você se expressou.
Saudades da Bahia, da Soterópolis, do Recôncavo e da Caatinga. Saudades de Itaberaba onde comi a melhor carne de bode da minha vida (melhor até que a a do Jorro!).
Obrigado por me trazer um pouco desse contexto com sua arte.
[]s,
LC
bem elaborado seu trabalho, parabéns.
depois eu volto.
Caro, amigo como defensor do povo sofredor e destemido da Caatinga sertaneja e, notadamente como "morador" do chamado polígano das secas só tenho que admirar e agradecer o teu tema. Como se não bastasse vc traz o nosso Pativa. Parabéns grande overmanos. Siga em frente....Valeu voto em seguida.
José Cycero · Aurora, CE 14/11/2008 12:26Caro, amigo como defensor do povo sofredor e destemido da Caatinga sertaneja e, notadamente como "morador" do chamado polígano das secas só tenho que admirar e agradecer o teu tema. Como se não bastasse vc traz o nosso Patativa. Parabéns grande overmanos. Siga em frente....Valeu voto em seguida.
José Cycero · Aurora, CE 14/11/2008 12:26
"O sertão é vida em brasa" é um daqueles versos a se eternizarem. Muito bom!
Assim como Caimmy, demorou pra fazer, mas quando fez ficou irretocável.
Muito bom!
Almirate
Muito bom a introdução de Patativa
para complementar seu versos.
Esse sofrido povo tem na fé a sua esperança mais profunda.
Admiramos como é que continuam no mesmo lugar
apesar de tanta escassez e sofrimento.
Gente forte, com garra e fibra.
bjs
E a gente consegue sentir o cheiro de tudo na poesia.
Hideraldo Montenegro · Recife, PE 14/11/2008 13:41
Parabéns caro confrade
Sou do semi árido, Sertão, Sertão , Ser tão Sertão.
"...pra chuva cair, irrigar o sertão, vzar os açudes irrigar a plantação
Reza o povo na igreja...viche maria, Virgem Maria.....
...acode aqui meu padim ciço, será mesmo isso é osso de ofício..." (Versos de Viche Maria de Aldy Carvalho)
Abs
Meu irmãozinho,
lágrimas vieram aos olhos ao ler seu poema, fiz uma viagem no tempo, lembrei de nossa infância paulistana, das suas aventuras urbanas, da paixão que sempre tive por ti... me deu uma saudade imensa, bateu a nostalgia, mas também a certeza de que crescemos, seguimos em frente e não perdemos a essência, aprendemos muito cedo que precisavamos ser fortes, mesmo que as lágrimas caissem...levantar, seguir em frente e não abandoanar a luta, sómos filhos do seu Almir e da dona Rita, portanto haveremos de vencer...
Te amo!!!
R.Rimet
Sou um escritor bissexto, vou mexendo em velhos manuscritos e percebendo o crescimento do sentimento, da palavra, nada está pronto, até o momento em que eu não me de por satisfeito, parecendo ser outro o leitor que avalia. Percebo que a palavra não morre, ela cresce, procria, evolui e se transforma.
André,
A felicidade está onde somos capazes de enxergar e manipular os elementos, beduínos, caatingueiros, sertanejos, tuaregues, metropolitanos, enfim cada qual busca ao seu modo a felicidade e tudo o que pode vir junto com ela. Antes de tudo uma causa.
Rafael
È este vôo místico, semi-fluídico que faz a carne tremer, imagine tudo isso ao som dos pífanos de caruaru.
Azuir
A inspiração trás este princípio, lembrar da desigualdade e da fé que são fatos e são latentes e estão entrelaçados, fico extasiado quando presencio ou participo de uma manifestação cultural ou religiosa e percebo a entrega humilde que se faz no samba de roda, no coco ou no carregar de um andor embalado por ladainhas.
Edimo
O Sertanejo, antes de tudo, é um forte.
Em algum momento quase uso esta frase, apostei na subliminar verdade.
Eloy,
Obrigado pelas palavras, é grande o compromisso em citar um Mestre como Patativa, parece que fiquei bem apadrinhado, não era a intenção, foi somente a sintonia.
Rosa,
Já fui acampado e assentado durante dez anos, hoje moro na zona urbana, me sinto um verdadeiro sem terra, sinto saudades da vida em comunidade, do cheiro de esterco fresco, de ver cabrito nascendo, de ver que todo dia igual é sempre um dia diferente. Vá firme no seu trabalho.
CD, Alcanu,
Diante de tantas nuances somente com determinação.
Celina,
Obrigado, senti uma energia forte em seu comentário.
Luciano,
Bom saber que já cruzei fronteiras, nosso passaporte é o boleto da banda larga, bom provocar um resgate de sentimentos, não se exaspere, nem pegue o primeiro vôo, tudo vem a seu tempo. O bode na brasa continua maravilhoso.
Novo Poeta
Obrigado pela força.
José Cícero,
É isso aí, é poesia e manifesto, é uma vontade louca de resolver os problemas, de encontrar o caminho certo.
Marcos,
É o calor terrível que esquenta as paredes até de madrugada, é o tição que não se apaga na alma. Quanto ao Caymme, ainda não encontrei aquele ponto de serenidade.
Doroni
Repetindo as suas palavras, “Esse sofrido povo tem na fé a sua esperança mais profunda.” Ficam no mesmo lugar porque a vida não para, a mesma paisagem e os acontecimentos todo dia são inovadores, e vivemos estas mudanças no cada dia.
Hideraldo
Não consigo ouvir Patativa do Assaré sem sentir o cheiro do sertão, sem sentir o cheiro do chão, a presença da espera pela chuva, sem ouvir um aboio forte no fundo do meu coração.
Aldy,
Estou vendo daqui, você parece que ficou arrepiado. Vixe Maria.
Isto me faz lembrar outra coisa, tinha uma namorada que toda vez que chagava aos conclusivos, suspirava: Ave Maria!!
Renata,
Incrível o poder transcendental da poesia, como um tema diverso nos remete a momentos diferentes, é comum o sentimento, já as circunstancias...
Almirante,
Sendo 'Águia' o sertanejo resiste.
Versos de beleza e pungência.
Grande abraço,
Regina
hey almirante, é um enorme prazer vir até aqui e conhecer sua arte sensível e que nos traz esperança!
Abs.
Regina e Sérgio,
É disso que sobrevivemos, sensibilidade, esperança e resistência nem sempre nesta ordem.
Minhas lembranças trouxe um grito de ordem:
- O dia da luta:
- Hoje!
- Resistir:
- Sempre!
Abs.
Oi,Almirante,prazer!!!
Um retrato emocionante do sertão e sua gente sofrida e tão poética!
Sertão onde há vida...onde a vida é perseguida na sina de viver apesar de....
Muito lindo!
Parabéns,querido!
beijinhos bluecarinhosos
Blue
O tempo que, paciente, esperou até seu poema ganhar mundo é o mesmo tempo que espera o homem que, nesse árido cenário da vida, pranteia e depois alarga um sorriso agradecedor.
Aglacy · Aracaju, SE 15/11/2008 23:21
Olá Almirante! Texto real e sofrido.
Muito bom! Abraços
Almirante,
Enquanto persistir a indústria de seca, mantida pela insensibilidade e escusos interesses, não terá fim todo esse sofrimento.
Abraços
Inicio sua votação com carinho!
beijo no coração!
Rapaz, ontem à noite estive num encontros de repentistas nordestinos, aqui em sp, e voltei para rever este texto
abraço
andre.
Gostei - na verdade mais que gostei.
Um belíssimo trabalho.
Votado
QueridoAlmirante, adorei saber do seu sertão, aqui na Paulicéia ficamos muito longe das agruras e da valentia que lá existe. Só vc pra nos dar o retrato. Parabéns e obrigada por votar na minha composição. Beijo.
MariAlice · São Paulo, SP 16/11/2008 18:57
Prezado companheiro de sonhos e encantamentos, o sertão nos une nesse intento em ser visto, revisitado e demonstrado aos outros seres... Belo poema!! Belos sentimentos!!
Que possamos nos reencontrar tantas e tantas vezes, a Catrop ainda é uma semente em terra quente, venha nos ajudar a trabalhar essa seara. E traga mais gente contigo que nossa batalha nem é pequena!!
Bj gde!!
Muito importante esse trabalho de divulgação.
Circus do Suannes · São Paulo, SP 16/11/2008 21:25
Almirante Águia · Itaberaba (BA)
HÁ VIDA NO SEMI-ÁRIDO
Com carinho aqui de volta, com uma exaltacáo ao Poeta Almirante Águia · Itaberaba (BA)
Do Trabalho cheio de mérito de que sempre vamos nos orgulhar e que estará nas nossas reflexóes..
Parabéns.
Abracáo Amigo.
Viajei. Por isso só estou votando agora.
Abraços, amigo.
Amigos,
Agradeço a presença e apoio de todos vocês, tenham certeza que é mais um grito, como tantos outros já fizeram, diz sempre um companheiro lá de Gentil do Ouro (Jacó), o cabra da roça é igual a porco, grita e se debate até o fim, então vou gritando me batendo e debatendo, na busca dos meios para que de um momento para a frente possamos respirar sem pelejar... Mas a luta continua.
Obrigado pelo carinho e pelas palavras gentis.
Muita força nesses versos eu vejo. O sertanejo chove quando chora o céu lágrimas de misericórdia. A vida, jamais negada apesar de não vista, responde ao revelar-se aos sinais das águas.
Belos versos, Almirante!
Abraço
Carlos ETC
http://interludios.blogspot.com
Que delicia lê-lo! Aplaudo!
Beijos poéticos,
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