Humano, demasiado humano

Luiz Cabelo
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Luiz Cabelo · Porto Alegre, RS
14/2/2009 · 108 · 20
 

Esta manhã me aconteceu algo surpreendente, creio que a maioria das pessoas ao lerem as linhas a seguir pensarão se tratar de algum devaneio ou alguma tolice de gênero semelhante, bem, o fato é verídico, acreditem ou não é o que passo a narrar a partir de agora.
Ainda meio sonolento percebi que o colchão sob minhas costas parecia mais duro do que de costume, não sentia nenhum tipo de coberta sobre meu corpo, uma brisa suave acariciava meu rosto e minhas costas não paravam de reclamar de tal leito, apesar do incomodo serrei meus olhos para tentar dormir mais um pouco, acho que consegui, não sei quanto tempo fiquei desacordado, talvez trinta minutos, talvez uma hora.
Uma pancadinha atingiu minhas costas, abri meus olhos e não pude acreditar nas imagens que penetravam minha retina; estava eu cercado por grades, no chão serragem suavizava o locam onde me encontrava deitado, alguns poleiros que imitavam árvores e balanços de pneus adornavam o recinto, mas isso não era o mais esquisito, muitas pessoas se agitavam na tentativa de obter a melhor visão, ou um ângulo privilegiado para uma foto, atiravam-me amendoins folhinhas de plantas, faziam algazarra para chamar minha atenção, grupos de crianças, adultos, famílias inteiras; pude identificar em meio ao mar de vozes algumas pessoas que diziam: "- Olha que safadinho, que sem vergonha, está se escondendo da gente! Ei, olha pra cá!"
Levantei-me, e de um só salto estava agarrado às grades, como isso aconteceu não sei, era como se eu tivesse voado até ali, tentei falar algo, pedir para que me tirassem daquele lugar pois não estava entendendo coisa alguma, mas a tentativa foi inútil, pois ao abrir minha boca o que se ouviu foram grunhidos, a multidão aplaudiu, tirou fotos, e eu cada vez mais desconcertado, foram inúteis minhas tentativas de comunicação pois minhas palavras eram incompreensíveis. Olhei para os lados e além do espaço bastante arborizado havia outra cela, nela um chimpanzé triste contemplava o nada alheio aos apelos da multidão, de costas para ela e virado para o fundo de seu cárcere, fechado em seu próprio mundo, acenava e mandava beijos para o lado errado onde não se encontrava ninguém, uma triste cena do abandono de si mesmo, sentei-me no chão e comi uma banana.

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Luiz Cabelo
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Rose Rocha
 

Sensacional esse conto. QQ semelhança com a realidade é mera coincidência. Querendo humanizar até que ponto da tristeza! Enjaulando nossa existência, de costas para o mundo real e para o espetáculo criado para palco de vida.

Rose Rocha · Jundiaí, SP 13/2/2009 13:27
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Luiz Cabelo
 

Obrigado Rose, sempre recebo com muita alegria os comentarios sobre meus textos.
Um abraço!

Luiz Cabelo · Porto Alegre, RS 13/2/2009 20:13
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alcanu
 

Sempre alguém atira uma banana, né ?
Um beijo !

alcanu · São Paulo, SP 13/2/2009 21:18
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LAURO WINCK
 

Votado, verifique erros de digitação.
abçs

LAURO WINCK · Rio Pardo, RS 13/2/2009 22:01
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Luiz Cabelo
 

Valeu lauro, obrigado pela dica, é que não tive muito tempo para revisar, acabou saindo sem muito cuidado.

Luiz Cabelo · Porto Alegre, RS 13/2/2009 22:22
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Luiz Cabelo
 

Valeu a presença alcanu!

Luiz Cabelo · Porto Alegre, RS 13/2/2009 22:22
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Stella Tuttolomondo
 

Bacana Luiz, me lembra os primeiros contos do Gabriel Garcia Márquez. Parabéns!

Stella Tuttolomondo · Rio de Janeiro, RJ 13/2/2009 22:26
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Luiz Cabelo
 

Obrigado, stella!

Luiz Cabelo · Porto Alegre, RS 13/2/2009 22:52
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roquemedeiros
 

Não devemos nos preocupar com que atira algo, porqur quem tem flores, só joga flores!!!

Gostaria de contar com a sua opinião a respeito da cor que seduz??? Abraço e bom final de semana... http://www.overmundo.com.br/banco/a-cor-tambem-seduz

roquemedeiros · Nazaré, BA 13/2/2009 23:02
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Cláudia Campello
 

acho q o espirito de algum macaquinho te incorporou ? ! rsrs

Olha, se quiser te apresento meu analista, rsrs

(hummm ele me disse q é vc arrebentando a jaula dos pré-conceitos e pedindo aplausos... sera ? rs... bom tem os meus...adoreiiiiiiii o conto.

bjssssssss ;)

Cláudia Campello · Várzea Grande, MT 14/2/2009 03:01
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wancisco franco
 

O título nietzschiano e a idéia geral do texto são uma grande provocação à Humanidade.
Votado.

wancisco franco · São Paulo, SP 14/2/2009 05:55
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O NOVO POETA.(W.Marques).
 

muito bom seu texto amigo, parabéns.votado.

O NOVO POETA.(W.Marques). · Franca, SP 14/2/2009 07:50
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Luiz Cabelo
 

Cláudia, Wancisco, Marquea, a idéia é provocar, como os pintores surrealistas, pintar as coisas do inconsciente, de maneira consciente.
Obrigado pelos comentários, sempre bem vindos!

Luiz Cabelo · Porto Alegre, RS 14/2/2009 09:54
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alcanu
 

Steve aqui, hein ?
Um beijo !

alcanu · São Paulo, SP 14/2/2009 15:26
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Ivette G.M.
 

Delírio ou pesadelo?
Acabei de editar seu texto.
Ivette G M

Ivette G.M. · Cotia, SP 14/2/2009 16:30
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Luiz Cabelo
 

Obrigado Ivette.

Luiz Cabelo · Porto Alegre, RS 14/2/2009 16:33
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Claudia Puget
 

Darwiniano.
O chato não é ser macaco,
o chato é estar do lado de dentro das grades.

Claudia Puget · Muqui, ES 14/2/2009 20:32
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herculano alencar
 

aplausos!

Abs,
herculano

herculano alencar · São Paulo, SP 15/2/2009 11:34
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Ailuj
 

Talvez a vontade de entender de fato como se sente um bicho ou uma pessoa enjaulada o levou isso
Já me ''transportei'' muitas vezes e cada vez entendo menos quem aprisiona e muito menos quem gosta de assistir um bicho preso
Odeio casa onde se vende animais
Amei seu conto
Beijos

Ailuj · Niterói, RJ 15/2/2009 18:39
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Raiblue
 

Humano,demasiado humano...estar enjaulado...o que se passa no subconsciente do ser aprisionado...uma viagem surrealista envolvente e reflexiva!

Gostei muito!

bluebeijos
Blue

Raiblue · Salvador, BA 17/2/2009 17:56
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