Não tardou muito e a caravana se pôs em movimento. Ao todo eram cerca de duzentas pessoas contando os guerreiros, comerciantes, alguns aldeões, sem contar os cavalos, bois de carga, cabras, galinhas, porcos e cães de caça. Esses últimos iam à frente da caravana farejando o terreno. Se um deles voltasse correndo ou latisse nervoso era um sinal de que algo não ia bem e, assim podiam se prevenir. O Sr. Primo dava-lhes ordens para que encontrassem um bom lugar para o descanso e os animais latindo e abanando o rabo conseguiam encontrar boas clareiras com água potável. Era um investimento barato e o Sr. Primo era econômico.
Tinha se passado três dias desde que Jocelyn, Sáfio, Armando, Dovan e Kági se uniram aos caravaneiros. Durante esse tempo, travaram contatos importantes com boa parte deles, afinal poderiam conseguir serviços extras, os quais obteriam lucros vantajosos. Como havia comida para todos, Sáfio ficou na dele, no entanto quase apanhou dos amigos quando tentou furtar uma pequena caixa de madeira de um dos comerciantes.
Durante o anoitecer, ergueram barracas e acenderam várias fogueiras. Cada grupo se distraÃa como era seu costume. Armando e Kaji, os menos falantes do grupo, davam boas risadas das histórias engraçadas que o Sr. Primo contava. Dovan e Sáfio, alvos de muitos olhares, o primeiro pela aparência nada convencional e o segundo por sua incapacidade nata de permanecer quieto e fora de confusões, jogavam um dado de seis faces no chão, apostando quem tirava o maior número. Jocelyn não era a única mulher do grupo, pois as esposas de alguns aldeões acompanhavam seus maridos. Pelo visto o objetivo daquela caravana não era unicamente destruir a fera que massacrara dezenas de homens na Montanha do Vento Cortante. Muitos se uniram a caravana do Sr. Primo com interesses próprios, seja comercializar com outras regiões ou povoá-las. Alguns poucos jovens, filhos dos homens mortos, iriam tomar conta dos negócios dos pais.
Ao raiar o quarto dia eles se depararam com uma vegetação fechada e muitas montanhas rochosas. Atravessavam um vale estreito e todos estavam muito quietos e apreensivos. Afinal estavam caminhando em terreno alheio, no qual os donos não eram pessoas amigáveis. Esse vale contornava parcialmente a cidade de CancerÃa, na qual a maioria dos habitantes eram bandidos, fugitivos e assassinos sanguinários. De repente ouviu-se gritos e sinais de luta vindos do final da caravana.
_ Vamos ver o que está acontecendo lá atrás. - gritou Armando segurando seu machado e correndo para o final da caravana.
- Impeçam seu amigo antes que seja tarde. - ordenou o Sr. Primo para Kági e Dovan.
- Mas por quê? - perguntou Kági, também pronto par a luta.
_ Porque não estão sendo pagos para defender e lutar por todos e si para neutralizar a criatura das montanhas. - disse Primo nervoso.
- E vamos deixar que roubem nossa comida e matem essas pessoas? - perguntou Jocelyn incrédula.
- Eles têm defensores próprios e além do mais eu já esperava por isso. - disse ele com uma calma irritante.
- Ah é? E se não conseguirem se defender? Vamos esperar que esses bandidos venham nos atacar? - perguntou Sáfio.
- Quando um tocador de gado atravessa um rio com seus bois, sempre deixa os mais velhos e doentes para trás. Assim, as criaturas do rio não atacam o gado inteiro e ele poderá chegar a outra margem com segurança. - disse o Sr. Primo como se isso encerrasse a questão.
- Então você deixou que aquelas pessoas e o animais de carga viessem na retaguarda de propósito? - perguntou Kági enojado com tamanha crueldade.
_ Sim e se não impedirem seu amigo podem esquecer do serviço. Estou pagando muito caro e não tenho tempo a perder com bobagens. - disse o Sr. Primo esporeando seu cavalo.
- Pagando quem? Ele não nos deu nada até agora e nem sabemos se haverá pagamento pelos nossos serviços. - resmungou Sáfio.
Mesmo revoltados eles correram atrás de Armando e o impediram de lutar a favor dos aldeões e de seus poucos guerreiros.
- Isso não é justo! - reclamou Armando.
- Concordamos com você amigo, mas não foi para isso que fomos empregados nessa caravana. - disse Kági.
- Eu sei. Só que é difÃcil não pensar naquelas pessoas entende? Eu sou um guerreiro, mas sou humano e não gosto de injustiças.
- Também não gostamos Armando. - disse Jocelyn. - Agora já está feito.
- Temos que nos concentrar no resto da viagem, que parece trazer novas surpresas. - comentou Dovan.
- Por que diz isso? - perguntou Sáfio.
- Não estão sentindo que o vento está mudando? Vejam o solo, quase não tem mato, nem animais. Parece que a vida abandonou este lugar. - explicou Dovan apreensivo.
- É verdade. - constatou Jocelyn. - Será que a tal montanha fica aqui perto?
- Pode ser e se assim for é melhor nos agasalharmos, pois será um caminho muito penoso. - comentou Dovan.
O incidente do ataque à Caravana deu lugar a um sentimento gélido que penetrava na pele e se espalhava por todo o corpo. Estavam chegando ao seu destino e não era uma sensação agradável pensar no assunto. Atravessaram todo o vale de CancerÃa temerosos de mais um ataque. Não imaginavam que coisas piores poderiam acontecer à eles, mas já podiam sentir na pele um vislumbre do que teriam pela frente.
Continua...
Esse é o terceiro capÃtulo do conto Suméria (o anterior Pega Ladrão é o segundo. Um equÃvoco meu na hora de publicar o texto.)
Nesse capÃtulo a caravana toma rumo e apresenta suas peculiaridades. Nem tudo é como desejamos. Essa é a lição que os aventureiros vão aprender.
Bruxinha,
muito interessante seu conto
Remete-nos a paises distante, à magia e ao logro, a injustiça e a bondade. Lembramo-nos de O senhor dos Aneis! Belo conto que poderia se tornar uma série.
bjssssss
bela imagem e bela obra, parabéns.votei.
O NOVO POETA.(W.Marques). · Franca, SP 29/7/2008 15:13Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
Você conhece a Revista Overmundo? Baixe já no seu iPad ou em formato PDF -- é grátis!
+conheça agora
No Overmixter você encontra samples, vocais e remixes em licenças livres. Confira os mais votados, ou envie seu próprio remix!