III - Pega Ladrão (Suméria)

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Bruxinhachellot · Nova Iguaçu, RJ
21/7/2008 · 73 · 6
 

Gaivotas disputavam entre si as migalhas de pão atiradas na areia da praia por um velho de barba branca. Para muitos Arlindo Gaivota era considerado uma lenda, para outros um velho louco que conversava com as aves.
Dovan Káji, Sáfio, Armando e Jocelyn caminhavam pela cidade atentos as conversas e ao movimento frenético do porto. Alguns homens uniformizados que compunham a Guarda do Comércio, fiscalizavam a entrada e saída de embarcações. O contrabando e a pirataria não regulamentada eram proibidos e passíveis de prisão, exílio ou morte dependendo da gravidade das acusações.
Tremaría sustenta a maior parte da economia de todo o continente sumeriano. Em suas ruas estreitas, ligadas umas as outras, podemos encontrar mercearias, carpintarias, ferrarias, boticários, peixarias, pequenas tavernas, hospedarias, casas de banho e massagem, casa de grãos e uma loja de tranqueiras, a única da cidade, onde podemos encontrar diversos utensílios desde lamparinas à óleo animal a penicos furados, que segundo o dono do estabelecimento são os mais procurados.
A fome se contorcia feito cobra na barriga de Sáfio, que não conseguindo controlar seus instintos, passou a mão em algumas linguiças e em uma broa de milho na mercearia onde acabara de entrar. O dono, um homem moreno de bigodes, descobriu o roubo e correu atrás do ladrão segurando um facão em uma das mãos e um salame na outra. Sáfio Liso não tinha esse nome por acaso. Saltou por entre barracas, correu pelas ruas e deu a volta na praia tentando se safar da ira do mercador que gritava: - Pega ladrão! Guardas! Foi uma louca corrida, mas o homem não conseguiu alcançá-lo e nem a Guarda obteve sucesso em sua perseguição.
- Você tá louco? Quer morrer? - perguntou Armando nervoso segurando com força o braço de Sáfio que se escondera atrás de uns sacos de trigo no cais do porto.
- Eu estou com fome. Não me olhem assim. - disse Sáfio quando os amigos se aproximaram. - Foram só algumas linguiças e essa broa. O bigodudo tem muito mais e não vai precisar desses.
- Armando tem razão. Não queremos encrenca com a Guarda. Só que essa sua boca grande e as suas lombrigas vão acabar por nos colocar atrás das grades. - disse Jocelyn.
- Não pude evitar. Da próxima vez pego algo no depósito sem que ninguém perceba. - disse Sáfio, incorrigível.
- Não haverá uma outra vez. Não enquanto quiser permanecer em nosso grupo. - rebateu Káji apoiando Jocelyn.
Em meio a essa discussão, Dovan conseguiu escutar um burburinho próximo as docas e identificou as palavras caravana e pagamento.
- Silêncio! Creio que teremos trabalho pela frente. - comentou Dovan.
- Não me diga que a Guarda nos descobriu? - perguntou Sáfio já escondendo algumas linguiças num dos bolsos de sua vestimenta.
- Não tem guarda nenhum. Parece que vai sair uma caravana da cidade e ouvi algo sobre pagamento.
- Vamos averiguar. - disse Kági.
Num local afastado do centro da cidade, alguns cavalos, charretes e homens se preparavam para deixar a cidade. Ao se aproximarem dos viajantes, os aventureiros sondaram com o guia da caravana informações sobre a mesma.
- Recebemos a notícia de que uma criatura de tamanho monumental anda atacando viajantes na Montanha do Vento Cortante. - informou o guia, um rapaz franzino, com cerca de quinze anos.
- Por acaso vocês precisam de ajuda? Somos aventureiros e guerreiros. Se o pagamento for favorável, gostaríamos de acompanhá-los. - disse Dovan.
- Bem senhores e senhora, creio que terão que falar diretamente com meu pai, que é o organizador desta caravana. É ele quem está recrutando o pessoal especializado. Vejam lá vem ele. - disse o rapaz apontando para um homem musculoso e de olhar sagaz.
- Miriel creio que seja hora de partir. - disse o homem batendo no ombro do rapaz.
- Muitos bons dias senhor. - disse Jocelyn. - Eu e meus amigos aqui estamos oferecendo nossos serviços.
- Senhora creio que essa jornada não seja aprazível para uma moça tão bela. Haverá muitos perigos. - disse o homem.
- Onde está essa moça? Não estou vendo ninguém com essa descrição aqui. - disse Dovan zombando de Jocelyn.
- Cala a boca Dovan! Não estamos brincando! Senhor, minha condição de mulher não me impede de lutar quando necessário. Além disso, precisamos de um serviço. Somos aventureiros e há muito não empreendemos uma jornada como essa. - disse ela em tom firme e decidido.
- Bem se a senhora não se importar com os perigos e a má acomodação, então acho que posso contratá-los como "buchas". - o homem ao perceber que ninguém o entendia tentou esclarecer. - Sabe aqueles caras que caem de frente nas batalhas? Enfim, vocês seguirão na frente da caravana, atrás virão meu filho e eu e, por fim os outros viajantes. Se houver sinal de perigo vocês devem nos avisar para que nos desviemos dele. O nosso propósito não é bater de frente com problemas pequenos, mas sim deter a tal criatura. - disse o homem que agora sabiam chamar-se Primo.
- Estamos de acordo então. - disse Káji.
- E quanto ao pagamento? - perguntou Sáfio.
- Bem, esse foi o maior problema ao contratar o serviço de guerreiros e homens habilidosos. Por enquanto só posso oferecer comida, acessórios e cavalos. Caso a criatura seja detida, cada um receberá 20 moedas de ouro na base de Virgo, a cidade mais próxima da Montanha do Vento Cortante. Devem levar agasalhos quentes. O frio lá no alto da montanha pode cortar a pele e a sensação não é nada agradável. - disse Primo dirigindo seu olhar a Jocelyn.
- Fechado! - disse ela antes que alguém desistisse.
- Nesse caso vou apresentá-los aos outros integrantes da caravana. Venham comigo.
Mesmo a contra gosto os amigos de Jocelyn a acompanharam e ao homem. Essa seria uma aventura e tanto e apesar do pagamento ser pouco e duvidoso, eles terão muito o que fazer para preencher seus dias e quem sabe não sairão dessa com algo mais.

Sobre a obra

O terceiro capítulo do conto Suméria, descreve melhor a cidade de Tremaría e mostra a relação de amizade entre os personagens.

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informaes

Autoria
Cláudia Valéria Miqueloti (Bruxinhachellot)
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O NOVO POETA.(W.Marques).
 

iniciei sua votação.sucesso.

O NOVO POETA.(W.Marques). · Franca, SP 19/7/2008 17:44
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celina vasques
 

votadissima!!!


Beijo no coração gostei muito!

celina vasques · Manaus, AM 19/7/2008 20:47
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Doroni Hilgenberg
 

Bruxinha
Esses aventureiros de Suméria aprontam e vão longe!
bjssss e votos

Doroni Hilgenberg · Manaus, AM 19/7/2008 21:23
1 pessoa achou til · sua opinio: subir
Sônia Brandão
 

Interessante. Gostei.
Beijo.

Sônia Brandão · Bauru, SP 20/7/2008 15:40
1 pessoa achou til · sua opinio: subir
Renato de Mattos Motta
 

O enredo está interessante
e te desejo sorte.

Prém acho que se querias
ambientar tua ficção na Suméria,
deverias ter pesquisado mais os nomes,
a religião e os costumes.
ou então, partido direto
para a invenção de uma terra
e uma era perdidas
como a Ciméria e a Era Hiboriana
de Conan.

Uma das coisas que todo o escritor deve
sempre se preocupar é com a verossimilhança.
O que você escreve não precisa ser real, mas
precisa parecer real, ter uma lógica interna
para que consiga produzir o envolvimento do leitor.

Um beijão e muito boa sorte! Está votada!

Aproveito e convido
a conhecer este poema:
http://www.overmundo.com.br/banco/gente-sente-se-men-te

Renato de Mattos Motta · Porto Alegre, RS 21/7/2008 09:25
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Bruxinhachellot
 

Grata pelos comentários e pelos votos.
A título de informação esse foi o segundo capítulo (errei ao publicá-lo como terceiro). Minhas desculpas.
Bjs a todos.

Bruxinhachellot · Nova Iguaçu, RJ 26/7/2008 11:09
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