Inacessível

... Minhas mãos tremiam e suavam frio,
eu tinha o discurso na ponta da língua
que se enrolara toda
e sufocava-me.
Eu me sufocava com o doce veneno de um sentimento desconhecido
enquanto ela me olhava com toda a inocência pueril irradiante em seus olhos.
Minha alma se contorcia de volúpia e pavor: eu a queria muito
e morria de medo de perdê-la antes mesmo de tê-la.
O chão fugia-me dos pés,
as pernas não me suportavam o peso
e bastaria uma palavra para que eu flutuasse...
E ela me olhando com uma insistência despercebida
era naquele instante tudo o que eu queria da vida,
tudo o que um dia eu pudesse desejar
mas nenhuma palavra me saía dos lábios hesitantes.
Minha face toda em brasas incinerava-me por dentro
e eu via no brilho despretensioso de seus olhos miúdos
o paraíso
a cada átimo mais e mais inacessível.
Como eu queria ao menos tocar suas mãos
mas as minhas não se mexiam!
Como eu queria ao menos tocar seus lábios
mas os meus retesavam-se de tanto pavor!
Era um lindo pô-do-sol e eu sabia que não a veria mais
iluminada como naquele instante
e resignei-me a mendigar-lhe um sorriso
que me encheu a alma de vida pura,
inesgotável.
Eu a quis tanto
que sequer aprendi a tê-la...