Na maioria das vezes é retangular. Quando destinado ao público infantil é repleto de cores e ilustrações. Visando ao público adulto predominam palavras. Em ambos casos, contém uma sabedoria e é tido como literatura menor quando pretende um ensinamento. Quase sempre em papel, com variações em tecido ou plástico. Retém memórias, lembranças, ficções. Sendo grosso, é romance. Se for fino, trata-se de contos. De espessura média, é coletânea. Capa dura indica respeito. Capa macia reflete economia de custos. Quanto à encadernação: costura, cola ou grampo. De existência perene: o livro.
Mas antes de ser um estranho objeto, o livro é vÃnculo.
Ao lermos um livro, universos traçam pontos de conexão. Linhas vão-se entrelaçando. Comuns, incomuns. PossÃveis, impossÃveis. RÃgidas, maleáveis. Criam instantes de diálogo entre autor e interlocutor, personagens e interlocutor, e este consigo mesmo.
Ao lermos uma história para alguém a comunicação se dá nas construções arquitetadas pelo autor ao se utilizar das palavras, no que coexiste entre elas, no ato da leitura. Através da respiração que se atenua/intensifica em determinadas passagens, das reações epidérmicas manifestas em determinados trechos, seja nas conexões que vamos estabelecendo com experiências similares do cotidiano, a comunicação se oxigena e desoxigena de sensações impregnadas de vivências que se vão tramando entre universos distintos, mediando afetos. E, por isto, constatamos que livro é vÃnculo.
Se o livro é vÃnculo, nos esquecemos ou nunca o soubemos.
Se nunca o soubemos, a responsabilidade é dos editores que atuam de forma a oferecer o que lhes garantirá retorno financeiro. Esqueceram-se de que leitura é prazer, não é posse.
Se nos esquecemos de que o livro é vÃnculo, a responsabilidade é de pedagogas que restringem o educando à literatura utilitário-pedagógica, impossibilitando-o de conectar-se ao livro como uma experiência prazerosa, sem o fim único de adquirir conhecimento.
Se nos esquecemos que livro é vÃnculo, é responsabilidade do professor que não tem consciência de que educar é mais do que transmitir dados.
Se nunca soubemos de que livro é vÃnculo, a responsabilidade é dos livreiros que comercializam o quê tem certificação de venda e fazem negociatas para expor determinados tÃtulos na ilha dos mais vendidos, quando não o são.
Se o livro é vÃnculo e esquecemos ou nunca o soubemos, a responsabilidade é dos pais, tios, avós, irmãos, que preferem atividades fugazes, que serão esquecidas rapidamente em detrimento da experiência da leitura, que integra, reúne, associa, revela o imaginário, o belo.
Se o livro é vÃnculo e nos esquecemos, a responsabilidade é de escritores, sempre em busca de temas vendáveis, adequados ao programa pedagógico de escolas, que resulte em cifras, que agrade ao editor quando deveria agradar ao leitor, fim único de quem escreve.
Se o livro é vÃnculo e nos esquecemos disso, ou nunca soubemos disso, a responsabilidade é de não termos responsabilidade.
A pedido de alguns companheiros de overmundo, republico para apreciação e votação de todos.
Obrigado Adroaldo e Alcy!
Opa, que bom que aceitou o conselho! Realmente muito bom o texto. E logo se vê que é uma produção sua, pelos jogos de palavra únicos. Parabéns!
Alcy Filho · JataÃ, GO 1/5/2007 17:00
Hermes, muito bom.
"Livro é vÃnculo" - excelente definição, que extrapola o sentido fÃsico, a sinonÃmia do dicionário, estabelecedo, assim, as profundas relações. Parabéns!
Obrigado Alcy e Edna. Infelizmente me minha seguda tentativa de publicação o artigo não atingiu a pontuação necessária. Ainda não temos vontade de nos responsabilizar... inclusive assinando embaixo do meu texto.
Obrigado a vocês pela votação e pelo estÃmulo!
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