Estremeci de medo, deitada na cama. O que estaria fazendo ao mesmo tempo em que dormia? O meu corpo estava suado, tenso, palpitante. O pesadelo, ou o que quer que sonhara, havia desaparecido de minha memória. E eu, já acordada, ia me apascentando devagar. Respirando fundo. Calma e serenidade. Serenidade. Serena. Estava mais calma, agora. Olhei para o quarto e senti que o vazio o preenchia de tal forma que aquilo me oprimia. Porque essa massa de silêncio era densa e me contraia inteira. Penetrava por todos os meus poros. O que deixava meu corpo mais tenso, mais tenso, que o meu único desejo era deitar e dormir para não existir. Não sentir fisicamente minha existência. Juro, juro a você que desabei em lágrimas. Elas também estavam de tal forma sufocadas que saÃam grossas, como o regurgito de uma criança que está prestes a sufocar pelo leite duro e azedo. Aquilo aliviou o cansaço. Mas era como se eu tivesse que me manter em lágrimas para continuar a persistir, mas que o chorar me dava tanto cansaço que numa hora acabava caindo na cama e dormindo por mais algumas longas horas. Minha vida resumia-se a sofrer sem parar, sofrer sem saber. Encontrava-me de tal maneira envolvida naquilo que não conseguia pensar. Resumida a um sofrimento sem explicação.
Levantar da cama era muito difÃcil. Pelo falta de força como por falta de propósito. As pessoas cuidavam de mim. Minha mãe me trazia o café, mas eu mal tocava. Senti que ela havia emagrecido tanto quanto eu, ou mais. Mas isso também não representava muita coisa. Não que eu não a amasse, mas, novamente digo: o que importa tudo isso? O que importa sentir amor por outra pessoa? Para que cuidar de outra pessoa se mal conseguimos cuidar de nós mesmos? Pensava: por que ela cuida de mim? Será que faz isso por que realmente gosta de mim ou por que a sua consciência a manda fazer? Isso me confundia muito. Angustiada, me voltava para a cama e chorava. E cansada de chorar, acabava adormecendo. E dormia. Mais longas horas.
Queria que minhas vontades se materializassem agora na minha frente, sem que eu tivesse que esperar muito por isso. Por que esperamos? Por que também a impaciência? Se o que já é nosso já está pronto, não há por que ter angústia, certo? Mas como saberemos o que é realmente nosso? O que é adequado? Paciência também se aplica aqui?
Esses pensamentos me deixaram cansada. Adormeci, porém, sem desejar em momento algum.
Nada mais compacto que o vazio, nos disse o poeta.
juro que já tentei mil vezes buscar este vazio zen, o máximo que conseguà foi amarrar um velho bode... beleza!!!
Lioviola · CarnaÃba, PE 21/3/2007 10:44Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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