Lugarzinho.

O lugarzinho me parecia simples, mas limpo.
Tanto que entrei e pedi um cafezinho médio, pra aquecer a minha caminhada até em casa. Logo que entrei, a vi ali, de canto, palitando os dentes, com lábios sujos de óleo, gordura de pastel, sei lá que diabos aquela senhorinha tinha comido. Sentei no balcão mesmo, afinal, era um cafezinho e não um lanche de fim de tarde.
Sempre que saía mais cedo do trabalho, gostava de passar por ali, exercitava o corpo andando até minha casa, e saboreava aquele delicioso café.
Mas nunca tinha visto a senhorinha por ali, ela tinha expressão rude, fria, parecia um desses caminhoneiros que tomam cerveja e apostam tudo em uma queda de braço. Tinha os dentes amarelados, provavelmente fumava, mas não naquele momento...
Parecia apreensiva, como se esperasse alguém. Meu estômago resolveu despertar; pedi uma porção de batatas fritas, não combinava muito com café, mas a comida de lá não era das melhores.
Sentei-me em uma mesa e canto, do outro lado do bar, lanchonete, lugarzinho...
Fiquei analisando a senhorinha, quase que automaticamente, afinal eram poucos os clientes por lá. A porta abriu, e como ela fazia um barulho terrível, de freada de carro ou algo parecido, olhei em direção a ela, entrou por lá uma moça com uma criança no colo.
Sentou-se na mesa da velha senhora, que ao ver a moçoila entrar, ficou encantada, seus olhinhos brilhavam muito, e ela me pareceu estar muito emocionada.
Abraçou a moça e a criança, conversaram alguns minutos, a moçoila olhou pro relógio, entregou-lhe um envelope e saiu, despedindo-se da senhora, como se nunca mais fosse a ver novamente.
A senhorinha abriu o envelope, viu umas notas azuis, provavelmente de 100 reais, guardou-as.
Abaixou a cabeça, a segurando por entre as mãos, respirou fundo e deixou uma lágrima escorrer por entre os peitos.
Fui embora, nunca mais vi aquela simpática e rude senhorinha.