Paris Hilton foi presa. Foi pega dirigindo embriagada. Depois de sair de um importante evento social, a moça dirigiu-se à prisão aonde iria passar algumas noites. A trajetória dela até o local de cumprimento da pena foi devidamente filmada e deve estar à disposição no Youtube. Seu advogado disse que ela iria aproveitar o tempo para pensar o que poderia fazer para transformar o mundo em um lugar melhor. Mas... antes do fim do perÃodo de reclusão ela foi libertada, sob alegação que não havia se adaptado a cela. Especula-se que na verdade, a moça não teria se adaptado à questão que se propôs a responder: o que fazer para transformar o mundo em um lugar melhor? A contemplação do grande vazio que teria surgido como resposta a essa inquietante dúvida teria sido suficiente para levá-la, como em um koan Zen Budista; ao limite de uma experiência mÃstica. Dizem que quem primeiro usou o termo “celebridade†no sentido que hoje é comum foi Andy Wahool. Nas psicodélicas festas da Factory nos anos sessenta, Wahool costumava a se referir a seus amigos e admiradores com a alcunha de “celebridadeâ€; “Oi, celebridade! Como você está?â€; algo do tipo. Esse era o termo para designar a fauna de travestis, artistas de vanguarda, poetas beats, drogados e vagabundos de todo tipo que circundavam o ambiente underground da factory de Wahool. Mas as raÃzes da moderna idéia de “celebridade†remontam à Europa do século XVIII. Naquela época o rei era a grande celebridade e quem orbitava ao seu redor, ou tinha a sorte de nascer com seu sangue, também ganhava um quinhão das delicias de ser um sujeito público. Na verdade a vida dos aristocratas no antigo regime era absolutamente pública e cercada de rituais. O almoço, o banho (quando acontecia), os passeios, os jogos, as caçadas, tudo era cercado de solenidade, pompa e circunstância. Não havia a rigor uma distinção entre uma reunião de trabalho do ministério real e um happy hour, com um vinhozinho, uma vitela e um bom concerto de câmara. A vida privada e a vida pública se misturavam e os ritmos ordinários do cotidiano real eram pautados pela presença sempre constante do olhar de seus súditos. Até o ato real de defecar fazia parte desses rituais. Era comum que o rei, sem ironia alguma, usasse o vaso sanitário literalmente como trono, para despachar uma ou outra ordem, ou assinar algum decreto. Mas os EUA, um paÃs de puritanos degredados e de imigrantes, nunca teve tradição suficiente para formar sua própria aristocracia, então, criou o conceito de “celebridade†e elegeu Paris Hilton como sua rainha na estação. Aliás, o ato de defecar ainda é, ao contrário do tempo de Luis XIV, a última grande fronteira a ser quebrada pelas celebridades contemporâneas. Só quando estiver a disposição no Youtube o momento privado de excreção intestinal de Paris Hilton, no seu maravilhoso vaso de porcelana, é que o ciclo das celebridades estará completo e nós poderemos dizer com orgulho que o homem comum, o burguês banal, o ricota vazio e incompleto, incapaz de responder a mais rudimentar pergunta existencial vai estar definitivamente elevado à categoria de rei. Já folheamos na “Caras†nossos aristocratas instantâneos, comendo, jogando tênis, bebendo, passeado de iate, casando, tendo seus bebês, brigando na porta de boates, fazendo sexo na praia, cheirando cocaÃna e se enforcando em quartos de hotéis. Todas as dimensões cotidianas e banais da nossa curta e miserável existência já foram filmados, fotografados, divulgados em colunas sociais e revistas de fofocas e comentados por especialistas em programas televisivos cujo tema fundamental é o mais profundo e simples vazio. Vivemos uma época na qual o nada da vida de cada um pode ser levado ao status de acontecimento. Esse é o mundo Paris Hilton. Aproveite ou vomite, antes qu
Pablo, aconselho dar espaço entre um parágrafo e outro pra facilitar a leitura
Rafa oliva · Aracaju, SE 11/7/2007 14:47antes que... ! Ei..muito bom seu texto! São várias as reflexões, magnÃfica a forma como colocou as palavras jornalista!! Amei.. vou tirar algumas ideias e reflexões sobre meu trono! rs..bjs..votei
Patricia Moreira · Vitória da Conquista, BA 14/7/2007 14:04
Muito bom, Pablo!
Continue essa brava militância por um mundo menos medÃore!
Abralhos!
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