Eu canto a dor
Santa paciência, arreda!
A memória não medra
A rede espalha olores
Fedem pacóvios e parvos
Indagam sobre holocaustos
Como se falassem de duendes
Os doentes céticos ignaros.
Gemidos, alaridos, fornos.
Gritos, sussurros, demências.
Urros. Desfragmentação dos
Corpos, carnes incendiadas.
As almas explodidas dos ossos
As mentes e os corações inflamados
O átomo uma fissão cinza das dores
As cores das flores eternizam o nada
O sangue coalhado evaporado resta
desaparecido das paredes destroçadas
A cidade é já uma planície sumida
Coisas, animais, plantas, pessoas
São cinzas multicores, ferrosas
contorcidas no teatro dos horrores.
Há já conformados com a putrefação
Da humanidade, no púlpito a pregar
Que virá em breve o fogo do inferno
o nefasto acontecido a ocultar
ficando poucos, roucos a lembrar
quiçá loucos, uns ainda pios e crentes,
cessada a matança, matadores incensam
Eu canto o amor
Tango remanesce
rememora bolero
sincopada polca
vanera maneirada
sobra passo-doble
Gitano e Carmem
que se amem
que ferve do frevo
à memória da febre.
=-=-=
Toda porta que se abre assim ao mar
dá vertigem aos que vão-se amar
em razão do belo horizonte distante
que despertar costuma o instinto
primário de quem escapou já do aquário
-=-=-
Trançaste fogo e luz
da tecitura que seduz
fizeste o refúgio à fuga
desassossego aquietado
quedou-se alumiada aura
----
Meia-semana após as nove e meia,
o tempo já não se conta.
As horas anoiteceram
é a encarnada fenda
mais que rubra,
nem enrubescemos
amantes se nos damos,
como antes se deram
e se amarão amanhã
porque somos sóis,
estrelas a cometer cometas,
candentes, cadentes,
cadenciantes em ascenção,
entanto em crescente,
enluaradamente cheias
as auras iridescentes,
iluminadas iluminuras ardentes.
Não foram máquinas que apertaram os botões e pilotaram os aviões, ou ligaram o gás dos fornos e pressionaram gatilhos. Foram pessoas deste planeta que ainda vão destruir.
Belíssima poesia sobre tema tão mórbido. Ritmo de fúria e descontentamento.
Marcos Pontes · Eunápolis, BA 7/8/2008 20:14
Adroaldo.
Com com esse seu cantar de Dor e e Amor, você nos leva primeiro ao inferno e depois nos transporta aos céus.
Triste e lindo!
bjsssss
Amei seu poema, sem dúvida ele fala do horror, do naufrágio humano. Li muito sobre nagasaki.. vi filmes.. etc.. Fundamental trazer a tona esta memória cometida pela falha humana ou...proporcionada por ela.
Adroaldo, mesmo com a dor no peito vc conseguiu contruir um belíssimo poema.
>>
Toda porta que se abre assim ao mar
dá vertigem aos que vão-se amar
em razão do belo horizonte distante
que despertar costuma o instinto
primário de quem escapou já do aquário
>>
continuaremos escapando?
Adro, querido, meu beijo e todo o amor que houver . lindo!
Compulsão Diária · São Paulo, SP 10/8/2008 10:47Poesia pura, límpida e pura de realidades oloreslMuito aprecie e apreciarei os seus trabalhos que são realmente de peso.
Ecila Yleus · Recife, PE 10/8/2008 16:14
Até quando escaparemos?
Não devemos mesmo esquecer...
Muita dor, muita tristeza colocada
com mestria de quem sente e "grita" dor
Bravo!
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