Foi a primeira experiência do Musik com adolescentes, ali por volta de 1993. Prazo curto. A idéia possÃvel foi a de construir xilofones com ripas de caixotes, achadas por aÃ, no lixo.
Só um garoto - um menino refugiado angolano chamado Luciano Nteka - se interessou em construir algo.
Naquela escala ensejada pelas ripas velhas que dispúnhamos, ele criou uma melodia vinda sabe-se lá de que recôndito de sua alma, deixando a garotada abestalhada com aquele som que saÃa, literalmente, do nada.
(Luciano nunca tinha visto uma marimba na vida).
Na hora de registrar o som do Musikfabrik, compus uma música inspirada no tema do Luciano.
Ontem fui lá no dicionário e descobri: Nteka na lÃngua dos antepassados de Luciano quer dizer descendente.
Tudo a ver com o sentido que aquele som teve para a afirmação do menino, a ascendência emocional se revelando, vinda de dentro dele mesmo.
Memória genética, mistério insondável, daqueles que é melhor deixar quieto.
Esta pode ser uma lembrança de aniversário pra a Ilhandarilha não ficar tão pouco andarilha assim.
SpÃrito Santo · Rio de Janeiro, RJ 7/6/2008 19:44
...o certo é que Luciano Nteka nunca mais largou o Musikfabrik nos anos seguintes. Foi um dos primeiros monitores capacitados pelo projeto. Em todas as marimbas construÃdas ele tocava aquela mesma melodia. Os demais alunos manifestavam uma atração inexplicável por aquele tema musical e não sossegavam enquanto não o aprendiam também, viciados que ficavam talvez, ávidos em se impregnar daquele som que emanava de simples ripas de madeira, um som de savana africana que, nem de longe eles sabiam o que significava, mas, sentiam.
Foi assim que o pequenino tema criado pelo menino Luciano se tornou uma espécie de toada, trilha sonora de rito de passagem, para todos os alunos do Musikfabrik.
Perdemos contato com ele ali por volta de 2001, a esta altura já adulto, imaginamos que tenha retornado com a famÃlia para Luanda com o fim da guerra civil, a derrota da Unita e a morte do mercenário Jonas Savimbi.
Isso não é uma lembrança de aniversário: é um presentão! Que coisa, cara, agora você tem que lançar o CD de qualquer jeito. O que que falta??
A música é linda, linda, linda. tem tudo: alegria, esperança e força vital. Você tem razão: memória genética!
Beijo grande
Gravei umas 10 músicas em 2001 (com o estúdio bancado pela UERJ). A idéia era lançar um CD do Musikfabrik, mas, a crise na universidade (que avançou até agora, 2008) pegou a finalização no meio. Falatava guaribar a edição e fazer capa encarte, estas coisas. Guardei as gravações comigo, das quais algumas faixas pretendo remixar e remasterizar (nesta que publiquei o baixo está muito atenuado) para inserir no CD do Vissungo (de quem o Musikfabrik, como já deu pra vocês notarem, é apenas um codinome).
O CD se chamará 'KilomboLoko'
O nosso Mansur é o cara, o produtor assumido, mas, ainda não conseguimos viabilizar nada, aquele porre de Rouanet, etc. Estamos ensaiando a parte 'nova' do repertório. A banda será, como nas seções anteriores, um mix entre 'professores' e 'alunos' do Musik-Vissungo.
Abs
Nteka, com certeza estará no CD.
Ilha, Parabéns!!! Felicidades amiga! Qdo eu fizer anos tb quero um presente desses, viu SpÃrito? Pena que ainda falta muito rsrsrsrsrsrrsrs.
Não consegui abrir o som aqui no notebook na casa de minha mãe. Vou em casa pra escutar. Pelo que vc contou e pelo comentário da Ilha, a música deve ser linda. Qta coisa bacana que vc fazia, e faz, foi abortada pela "crise da universidade". Vamos ter fé que vc e todos nós que ficamos órfãos dos seus projetos seremos brevemente recompensados. Especialmente os meninos e meninas cujos olhares e sorrisos, que vislumbrei no vÃdeo sobre o Musikfabrik, dizem mais do que quaisquer palavras que eu colocasse aqui. Sabe SpÃrito, já disse isso pra vc, mas me deu vontade de tornar público o imenso orgulho que tenho de poder estar conhecendo suas intervenções de cunho cultural junto à s crianças e aos jovens que as polÃticas públicas vêm preterindo. Vai aqui todo meu agradecimento por vc permitir que além de conhecer, eu possa estar compartilhando delas como aprendiz de suas ações. Qdo eu crescer, quero ser igual a vc.
Bj
Ize
Ize,
Vai lá ouvir. Espero que curta. O bom do ser humano ter sempre música à sua disposição, para curtir, entre tantas coisas, é que ela é sempre, descarada e inegavelmente, uma ação coletiva e (quando boa) uma emoção, também inteiramente, irracional, no melhor que tem o termo. É ou não é.
Quanto à s estranhas prioridades de nossas polÃticas públicas, neste como em tantos casos, é aquilo que todos já sabemos: @#$*&%%!....(adjetivos politicamente incorretos e impublicáveis).
Bjs
Muito bom ouvir esse som. Já ouvi umas quatro vezes em uma hora. Sem dúvida entraria numa seleção das minhas músicas favoritas publicadas no banco (e em outros meios também).
Fiquei contente com a notÃcia de que vem mesmo CD por aà e que o Mansur está na jogada. Lembro da colaboração onde começou o contato.
Bom...
Abraço e parabéns pelo som, que venham outros!
Legal, ouvi um pouco arquivei. Vou ouvir ainda amanhã.
A ficha técnica um primor conferindo com este teu esforço
que sabemos.
abraço
andre.
muito bacana o som, já usei a tal kalimba e nem sabia que tinha esse nome.
certa vez assisti o pessoal do konono tocar no festival de percussão percpan, era praticamente uma orquestra de kalimba.
bem interessante, vc conhece?
Faço aniversário dia 3 de outubro!
Quero o Cedê de presente.
Te vira, meu.
Dá o que pedirem pra fazer, menos aquilo que te diminua, meu grande amigo.
Que linda música, que peso a orquestra, tudo muito atrinado e fino.
Mexe o pé e as cadeirinhas.
Ancestral, telúrico, telônico, também spiritual...
@#@#@!@$@#%@#%#@%$@$@#%###34!
(adjetivos impublicáveis de apreciação cultural e prazer)
Um beijo na alma dançante e pulsante de todas vocês pessoas musicais.
xavi,
Já vi (ouvi) sim. Kalimba (este nome é o da moda, a coisa tem nomes os mais diversos) não é só 'bem interessante', Kalimba é o bicho, daqueles que parecem dóceis , mas, são bem difÃceis de domar.
Bem aventurados os que, como você, apreciam.
Abs
Abs
Adro,
3 de outubro? Mas é amanhã de manhã! Claro que rolará o presente do grande amigo, de algum modo (tenho umaszinhas já meio mixadas). O CD mesmo é que não sei. na quinta tenho um encontro com o nosso Mansur acerca deste assunto, mas, estamos os dois feito os cocos da ilha do Robinson Crusoè (sem água e sem polpa), as barrigas empurrando a vida de artista.
Sabe lá Deus o que será (os que nele muito crêem que me soprem no ouvido o que será que será)
Grande abraço
Quando será apresentado o CD???
Quero adquirir um. Avise-me e irei correndo comprar. Ab
Valeu CÃntia. Aviso quando for a hora da largada.
Abs
Olá,
Que trabalho legal, cara!
Muito bom!
Quero ouvir mais coisas assim!
Abraços,
Dáblio
SPIRITO SANTO que som mais maravilhoso é esse, meu deus!?!? Só agora tô entendendo pq qdo perguntei a vc (vc nem deve se lembrar) se gostava de instrumentos de sopro vc, com sua modéstia, me respondeu simplesmente que preferia percussão. Não é apenas uma questão de gosto, não é? Caramba, vc é uma caixa de surpresas! Ainda tem mais alguma coisa pra sair da caixa? Ai que tem uma ideiazinha surgindo aqui na minha cabeça rsrsrsrsrsr
PARABÉNS!!!!!
Bj
O CD tem que sair
Ize,
É isto, mas, convenhamos, nada de novo- ou novo de nada - (em música nada é velho nada é novo, tudo é atemporal).
A tal kalimba por exemplo (que tem outros nomes em cada lugar do continente onde ocorre) é um instrumento secularÃssimo na Ãfrica que, por ser inteiramente exclusivo de lá (coisa rarÃssima em se tratando de instrumentos musicais), tem sua origem perdida no tempo. Sei que é da idade do ferro, mas já encontrei registros kalimbas com lâminas de bronze, logo...
Já que você e tanta gente gostou, uma dica: kalimba (Kissange, em Angola e para os Ãntimos) também É do Brasil já que aparece em várias pranchas do Debret, do Rugendas, do Ewbank e de quase todos os cronistas-desenhistas que estiveram por aqui no Rio nos seculos 17, 18 e 19. Em Debret tem uma prancha da oficina central do Arsenal de Guerra (onde todos os artÃfices eram escravos), hoje Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, com uma parede coberta de kalimbas dependuradas. PopularÃssima no Brasil colonial, as kalimbas eram os I-pods da crioulada que, carregava um instrumento destes preso na calça, para onde quer que fosse.
A maioria de nós não ter se dado conta disto ainda foi no que deu de a gente ficar olhando só para a Europa, aculturadamente abestalhados com as sonatas do Bach.
Abs
Ilha,
Foi bom você chegar: Será que naquele livro do Debret que você ganhou não tem umas kalimbas? No livrão convencional, ('viagem pitoresca...', não é isto?) tem várias. Em Rugendas a prancha é de um grupo de congada, com rei, rainha e tudo, já viu?
Abs
Vc é de morte, hein Spirito...Mas é bom que saiba que o que eu não conhecia era o nome da kalimba. Se eu tivesse prestado mais atenção nas fotos e textos do site do Musikfabrik, não pagaria esse mico rsrsrsrsrs. Lá vc explica tudo sobre xilofones de origem africana - as marimbas e sobre kalimbas, kissanges, mbiras, e mbuetetes (gostou?). De fato, cresci com o piano "educando" meu ouvido, tanto em casa, como na escola (espero que a lei 10639 promulgada em 2003, mesmo com os graves limites que conhecemos, venha a corrigir essas distorções de que vc fala), mas, sabe-se lá porque (tenho uma hipótese, mas prefiro não enunciá-la pq teria que usar aquele termo que vc odeia rsrsrsrs), tenho uma sensibilidade enorme para o som da percussão. Vibrafone, por exemplo, adoro (não é parente da marimba?). Estranho, fui agorinha mesmo no youtube e só encontrei músicos brancos tocando vibrafone. Nem pensar em desmerecê-los: tenho dormido e acordado com o CD que comprei, e coloquei no i-pod, que junta Astor Piazzola e Gary Burton. Mas, se o vibrafone é parente da marimba, que é estranho é. Pura provocação pra conversa não esfriar.
Bj
O CD tem que sair
Esqueci de dizer que, como a Ilha, tb tenho o Viagem Pitoresca. Vou lá procurar as kalimbas.
Ize · Rio de Janeiro, RJ 13/6/2008 13:48Aqui no Rio Grande do Sul, por anos tivemos um marimbeiro, xilofonista, seja o que eram aqueles tudos à s vezes feitos de PVC, outras de bambu, tocados pelo artista plástico e músico de mancheia Pedro Homero. Também dedilhava um violão em trio com Eldade Chapper e Johannes Dol, com o nome de Brasil Bem Soado. Por pouco não consegui que gravássemos Pedro Homero, grande amigo, mestre em orixás da umbanda, falecido em 2005.
Adroaldo Bauer · Porto Alegre, RS 13/6/2008 20:16
Prezados amigos reais,
(Papo pra lá de bão.)
Marimba á outra coisa, bem diferente de Kalimba (por razões acústicas algo misteriosas, como os nomes, o som dos dos instrumentos também se confundem, as vezes). kalimba (já disse que gosto mais de chamar de kissange, mas, vá lá) são estas caixinhas com lãminas de aço, tocadas com os polegares. Marimbas já são um conjunto de teclas de madeira (na Zâmbia= Ilimba = uma tecla, Ma-ilimba= muitas teclas). marimba no norte da Ãfrica é balafon (que eu desconfio que é um nome meio francês, por causa do 'fon')
O certo é que nome 'branco' (ou técnico) é xilofone porque, comos e sabe, Xilo é madeira em grego + fone (de som, na mesma praia idiomática).
Vibrafone tem tudo a ver com marimba só qeu neste caso, é um metalofone (Metal+fone, certo?). O lance mais bacana da história das marimbas é que elas são fruto das excelentes relações comerciais e culturais da Ãsia com a Ãfrica, ANTES das predatórias invasões européias (via oceano Ãndico, ok?).
Foram estes asiáticos que inventaram este tipo de instrumento há trocentos anos atrás. As lâminas eram de pedra lascada. Os africanos (provavelmente, antes da idade do ferro lá deles) adaptaram para madeira, abundante na grande floresta da Ãfrica Austral. Os xilofones das orquestras eruditas foram copiados das marimbas africanas, mas, têm um defeito grave para mim: Copiam, descaradamente, na escala, a estrutura dos pianos europeus (sistema tonal), traindo a principal qualidade expressiva do instrumento original que é, exatamente, o sistema particular de sua estrutura escalar (sistema Modal afro-indo-oriental), tirando toda a graça cultural da história (coisas do caquético eurocentrismo que nos abobalha a todos).
O Pedro Romero que o Adro cita não. Aà já é outra coisa mais diferente ainda: Tubofones (que aquele grupo Uakti usa muito), uma coisa inventada sabe-se lá quando e onde, talvez pelos polinésios, sei lá e muito comum no Haiti, até uns tempos atrás. Tubos de bambu, ou PVC, organizados em escalas, segundo seus comprimentos.
Esta conversa toda está no campo de uma ciência do bem, fantástica chamada 'Organologia'. O Brasil é ponta nesta área, sabiam? Pelo menos na onda de se construir instrumentos 'etnico-primitivos', 'populares' ?
Tá aÃ...este papo daria uma boa matéria, não acham não?
Gente bem estimulante são vocês.
Grandes abs
O livro a que me referi é o Caderno de Viagem de Debret, organizado pelo Julio bandeira, editado pela Sextante. É um livro lindo, que reproduz o caderno original de Debret de quando ele chegou aqui, e deixa claro o encanto dele com a luz e os costumes, principalmente dos escravos.
É uma espécie de rascunho para as suas obras principais, com vários estudos de praticamente tudo que ele viu. Tem até estudos das tramas das esteiras, da decoração dos baús de couro, penteados, instrumentos de tortura, etc. Infelizmente, nenhuma Kalimba! Aliás, não tem instrumentos musicais. Não sei se ele não os viu ou se não interessou a ele esse registro.
Ilha,
É muito curiosa esta informação sobre a aus~encia de instrumentos neste seu livro. me lembro muito bem de ter visto umas quatro ou cinco pranchas com kalimbas. Se os desenhos do seu livro são os rascunhos, ele não guardou alguns ou os editores não selecionaram os que tinham kalimbas. Estava com esperança de ter algo sobre isto no seu livro. Contudo, é claro que o Debret viu instrumentos (inclusive kalimbas e marimbas) e os desenhou nas pranchas que vi. Seria impossÃvel não vê-los no super diversificado caos étnico e cultural da Corte.
Não tenho o livro clássico dele. Vou apelar para a Ize. Alô Ize! Vamos digitalizar isto?
Abs
Alô Spirito,
sábado liiiiiiiindo e a gente aqui. O povo aqui em casa me vendo na internet me vaiou, pode? Mal sabem eles na companhia de quem (aliás de quens) estou e em volta de que tema....Mas vc acredita que não encontrei ainda o Viagem Pitoresca do Debret? Assim que achar tiro a foto da prancha com a kalimba e mando pra vc.
Bjs pra vcs que agora tô saindo correndo senão perco a companhia pro chop
Ize,
Precisa pressa não. Dei uma passeada rápida no google, só entre uma de nossas mensagens e outra e já achei três (!) kalimbas em Debret. deve ter mais um montão no livro. Mando o link de uma das pranchas para usteds, a mais fantástica por que retrata um DUETO de kalimbas. Um luxo só. Tipo ganhar o dia.
Abs
A coisa andou, hein? Aqui estou eu no 920º comentário e só tenho a dizer "que delÃcia", da parte boa. Parabéns. A parte ruim, esse papo sobre instituições, me lembra porque é que o Smetak era marginalizado (e depois usurpado) e explica porque que eu me isolei e nem me aproximo da escola de música da universidade. Mas não se pode abandonar o campo de batalha quando já se está nela. Não vou negar que a nossa construção de saber é para ser partilhada também no meio acadêmico, já que ali é aonde é mais escasso o verdadeiro saber. Não fique quieto. Lute, meu irmão, use a tua nobreza ancestral para deixar incômodos e conquistar vitórias!
Roberto Luis · Salvador, BA 31/12/2008 19:35Para comentar é preciso estar logado no site. Faça primeiro seu login ou registre-se no Overmundo, e adicione seus comentários em seguida.
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